Por
Marcelo Constantino
Que o Washington Capitals tradicionalmente começa mal suas temporadas,
isso é de conhecimento geral. Mas que neste mês de outubro o time esteve
abaixo de qualquer prognóstico apocalíptico, ah, isso esteve. Pior ainda
é que ninguém duvida que o atoleiro em que está o time da capital norte-americana
se prolongue tal qual o atoleiro em que o presidente norte-americano
meteu suas Forças Armadas no Oriente Médio.
Com uma campanha de 2-8-1 (0-6-1 fora de casa) neste primeiro mês de
temporada, os Capitals têm a pior defesa e são os últimos colocados
da NHL. Isso mesmo, últimos, lanternas. Um time que tem nomes como Jaromir
Jagr, Olaf Kolzig e Sergei Gonchar no elenco. Como um desastre desses
é possível?
A defesa sempre foi um ponto crítico da equipe, desde quando a gerência
decidiu investir pesado na formação de um time caro e competitivo. E
o que era ruim piorou este ano. Dos quatro defensores principais da
equipe na temporada passada, Sergei Gonchar, Brendan Witt, Ken Klee
e Calle Johansson, restam apenas dois. Klee foi para Toronto e Johansson
aposentou-se. A gerência, feliz da vida, viu sua folha salarial diminuir
em US$ 3,8 milhões.
Reposição para o setor? Zero. Ou melhor, novatos, desconhecidos e pouco
experimentados. Enfim, uma defesa de AHL mais Witt e Gonchar. Como Witt
não é exatamente um defensor de encher os olhos, todo o peso recai sobre
as costas do sub-valorizado Gonchar, que, temeroso de sua cobertura
defensiva, nem busca mais o ataque com tanto ímpeto, o que era seu forte.
Para piorar, o goleiro Olaf Kolzig está mal. Bem, não somente ele. Peter
Bondra está mal, Jaromir Jagr está mal, todos estão jogando mal. Há
nove partidas (desde o segundo jogo na temporada!), que a ofensividade
da equipe se resume a dois gols ou menos. Quando um time tem uma defesa
capenga e desentrosada, seu goleiro está mal e seu ataque não produz,
seu lugar é mesmo o fundo do poço.
Olhando para o passado recente, a conclusão a que chego é que a abertura
da carteira dos Caps formou um time com grandes estrelas no elenco,
mas sem profundidade e sem uma boa defesa. Se as estrelas não produzem,
o time fica em apuros.
No final dos anos 90, Bondra era um dos grandes atacantes goleadores
da NHL, um dos mais sub-valorizados da época. Quando os Caps contrataram
Jagr, imediatamente imaginei uma linha mortal com Bondra do outro lado
e Adam Oates fazendo jogadas para ambos e ainda Gonchar chegando de
trás. Quem os adversários iriam escolher para marcar?
Ledo engano. A linha foi testada diversas vezes sem jamais ter uma regularidade
que a mantivesse. Oates foi para o Anaheim, Bondra vem caindo ano após
ano e Jagr..., bem, o tcheco é um caso a parte, certamente o maior dos
desastres do time. Ainda que tenhamos casos semelhantes na liga, de
jogadores com salários no patamar do de Jagr que produzem muito aquém
do que deveriam (Alexei Yashin, Bobby Holik, Curtis Joseph), sobre ele
recaem as pedras mais pesadas. A decepção é gutural.
Sem raízes -- Daquele time que chegou às finais de 1998, quando
o Comissário Gary Bettman declarou que Wahington havia se tornado definitivamente
uma cidade de hóquei, apenas quatro jogadores ainda estão lá: Kolzig,
Gonchar, Bondra e Witt.
Claro, ninguém esperava que Oates e Esa Tikkanen ainda estivessem por
lá, mas trata-se de uma evidente mudança em larga escala. Para efeito
comparativo, do time do Detroit Red Wings daquelas finais, sete jogadores
ainda estão na franquia, enquanto outros seis já se aposentaram. Mudanças
no elenco são sempre saudáveis, desde que bem dosadas. Os Capitals mudam
a cada ano e mudam demais. Para esta temporada há nove novos jogadores
no elenco.
Com tamanha renovação e uma conseqüente carência daquele tipo de jogador
da franquia, que conhece a casa de longo tempo e que tem identificação
com a torcida, gerência e tudo mais, eis que o capitão Steve Konowalchuk
é negociado para o Colorado Avalanche. Ok, ele sairia de qualquer jeito,
era seu último ano de contrato, e que não seria renovado. Qual é a maior
necessidade do time no momento, para pedir em troca? Defensor(es) com
alguma experiência e salário razoável, certo? Nada, os Caps receberam
o engodo Bates Battaglia em troca, além de um prospecto.
Bruce Cassidy -- O técnico Bruce Cassidy deverá cair, não há muitas
alternativas. Há três motivos básicos para isso. Em primeiro lugar,
o time que ele tem em mãos, no papel, não poderia estar, em hipótese
alguma, na posição em que está. Nenhum técnico sobrevive a uma situação
de estar namorando a lanterna tendo em mãos um time montado para, apesar
de tudo, pelo menos chegar aos playoffs. Em segundo lugar, (o que deveria
ser) a estrela do time já se indispôs publicamente com ele. Em terceiro
lugar, o clima anda péssimo.
Cada vez mais as cobranças e acusações estão vazando. Após a derrota
frente ao Wild no sábado, Cassidy, além de classificar de "ridículas"
as várias jogadas perdidas, apontou os nomes de jogadores que estavam
devendo: "Os (Brian) Sutherbys, os Halpys (Jeff Halpern), os (Bates)
Battaglias, [jogadores que] recusam-se a chutar o disco e [ainda] não
marcaram gols". Naturalmente, com um clima desses, é mais fácil livrar-se
do técnico do que de grande parte do elenco, ainda que o desejo da gerência
fosse a segunda opção.
Cortar despesas -- O que a gerência realmente gostaria de fazer
seria detonar com (quase) todos os salários mais altos do elenco. O
imperativo agora é cortar despesas. Depois do desastre dos últimos anos,
com um time caríssimo e campanhas lamentáveis, além da dificuldade de
encher o estádio, a prioridade é diminuir o prejuízo (se é que há prejuízo
nessas contas fechadas das franquias na NHL), antes mesmo de se pensar
em qualquer sucesso. Já andaram rifando Jagr e Lang nas férias, sem
sucesso. O próximo candidato deve ser Gonchar, defensor de ótima e constante
produção ofensiva, 29 anos de idade, com mais de dez anos de Washington.
Aí, é adeus ao que resta de defesa, adeus para tudo.
Diante do panorama atual, restará ao Washington Capitals ser a maior
diversão da temporada de seus rivais, o Pittburgh Penguins.
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Marcelo
Constantino entra em transe toda vez que ouve “Insensatez”
instrumental, tocada por Tom Jobim ao piano. |
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MOMENTO RARO O novato Alexander
Semin comemora seu gol da vitória contra o Atlanta Thrashers,
quando o time não vencia há seis partidas (Preson
Keres/The Washington Post - 31/10/03) |
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MOMENTO CORRIQUEIRO O defensor
Brendan Witt patina desolado enquanto os jogadores do Ottawa Senators
comemoram o gol da vitória de Marian Hossa, na goleada por
5-1 (Tom Hanson/AP - 23/10/2003) |
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CAOS Ainda na mesma partida
contra o Ottawa Senators, Antoine Vermette observa mais um disco
passando por Olaf Kolzig (Tom Hanson/AP - 23/10/2003) |
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