Por
Thomaz Alexandre
Na temporada passada, o "ano de folga" tirado pelo Los Angeles Kings
foi em boa parte atribuído à falta do central Jason Allison e do asa
direita Adam Deadmarsh. Não era para menos: uma temporada após somarem
136 pontos combinados, eles fizeram a diferença em 2002-2003 de maneira
bem mais amarga, ficando fora de 118 jogos entre a dupla. Tanto que
o cargo do técnico Andy Murray se manteve seguro, incontestável,
apesar dos maus resultados.
Para 2003-2004, bons agouros à vista: o departamento médico previu para
a gerência que 'Deader' e Allison estariam de volta para a abertura
da temporada, contra o Detroit Red Wings. Tremendo exagero.
Duas semanas de temporada se passaram e o quadro atual é de incerteza,
sem qualquer previsão sobre o retorno dos dois, após ambos sofrerem
concussões que os mantém afastados do time pela segunda temporada
seguida.
Na seqüência, as "boas notícias" se acumulavam, com o defensor Aaron
Miller, assim como Deadmarsh um fruto da troca de Rob Blake, incapaz
de estrear na temporada com o punho esquerdo quebrado; e Mattias Norstrom,
capitão e principal defensor do time, jogando apenas oito minutos na
estréia e ficando fora até o presente momento com fortes dores no tórax.
Já são praticamente dez jogos perdidos entre os dois principais defensores
do time.
Agora a promessa do presidente dos Kings, Tim Leiweke, é de que Allison
e Deadmarsh voltam em novembro. Porém, nem o técnico Andy Murray nem
os atacantes contundidos, e frustrados por não poderem contribuir, querem
se prender a essas datas. O campeonato está aí e o time precisa jogar
com o que tem. Segundo ele, o pensamento sobre o time é: "nosso elenco
é formado pelos caras saudáveis agora. Quando os outros voltarem, será
como se tivéssemos assinado com grandes agentes-livres"
Para adicionar nesta temporada, os Kings agora contam com Roman Cechmanek
no gol, o veterano finalizador Luc Robitaille e o durão Trent Klatt.
Amareladas em playoffs pelos Flyers de lado, pode-se defender um argumento
de que Cechmanek é o mais bem sucedido goleiro em temporada regular
nos últimos três anos. Ou há outro goleiro titular por aí que, de 2000-2001
a 2002-2003 apresentou números como 92,3% de defesas, 1,97 gols cedidos
por jogo e 20 shutouts em 163 jogos? Com tudo dentro dos conformes,
a defesa deve se segurar bem com este goleiro até que Miller e Norstrom
retornem. E até que os playoffs comecem.
Robitaille é um dos maiores atacantes da história dos Kings, talvez
perdendo apenas para Marcel Dionne e Wayne Gretzky. Ele volta após assinar
aquele que pode ser seu último contrato na NHL. Em Detroit, ele fez
o que planejava fazer lá: ajudar o time a vencer mais uma Copa Stanley
e ser ajudado pelo time a vencer sua única Copa Stanley. Missão cumprida,
Robitaille seguiu com uma temporada abaixo das expectativas para alguém
que, espera-se, estará no Salão da Fama um punhado de anos após sua
aposentadoria. Em Los Angeles, porém, ele está em casa e talvez ainda
tenha algo melhor para mostrar. Nos primeiros cinco jogos, por exemplo,
já tem três gols e duas assistências.
Klatt, assinado como agente-livre vindo do Vancouver Canucks, veio para
contribuir com o jogo coletivo tão pregado por Murray, e vencer as importantíssimas
disputas nas bordas. Tudo isso ele tem feito, mas a diferença mesmo
é que ele já tem três gols em cinco jogos, e tem jogado inclusive em
vantagem numérica. Klatt marcou 16 gols em toda a temporada passada,
algo inferior a um gol a cada cinco jogos.
Jovens valores em quem os Kings tanto apostaram, também têm de
continuar mostrando evolução. Esse é o caso do atacante Alexander Frolov
e principalmente do defensor ofensivo Lubomir Visnovsky. Frolov, em
seu segundo ano na liga, tem jogado na segunda linha de ataque, apesar
de ainda não ter muito tempo nos times especiais. Por sua vez, Visnovsky,
em sua terceira temporada, é atualmente o defensor número dois entre
os ativos no Los Angeles, jogando mais de 25 minutos por partida e sendo
a válvula de escape para Jaroslav Modry quando este destrói as jogadas
adversárias. Visnovsky tem dois gols e quatro assistências em cinco
jogos.
Junto com eles, temos de citar outro jovem, o defensor Tim Gleason,
vindo do Ottawa Senators na troca que mandou Brian Smolinski embora.
Gleason, de 20 anos, está empatado na liderança do time em +/-. E ainda
dois veteranos: o próprio Modry, que vem fazendo nos Kings a mesma coisa
que Adrian Aucoin faz e ninguém vê nos Islanders, e Josef Stumpel, pela
segunda vez unido com o MVP do time numa combinação prolífica.
O MVP do time, sem dúvida, é Zigmund Palffy. E não é de hoje. Desde
o início da temporada 2000-2001, Palffy muda de companheiros de linha
assim como o lançamento do novo Guns N' Roses muda de data. Mesmo assim,
diferentemente dos roqueiros de Indiana radicados na Califórnia, o eslovaco
continua a produzir. Apenas Jaromir Jagr, Markus Naslund e Alexei Kovalev
marcaram mais pontos que ele nas três últimas temporadas. Na atual,
pobre em gols de tal maneira que podemos ver dois empates em 0-0 no
mesmo dia, Palffy já tem 10 pontos, o dobro do atacante mais próximo
na artilharia dos Kings. Como se não bastasse, ele carrega o C de capitão
enquanto Norstrom está fora.
Andy Murray também merece crédito por estar mantendo o time numa posição
além do esperado enquanto não pode contar com força total no elenco.
Com um gol do garoto Frolov, eles venceram os favoritíssimos Sens de
virada. Trent Klatt se superou em seu papel de brigão e marcou dois
gols na vitória sobre os Hawks; contra o único time da AHL com um membro
do Salão da Fama no elenco, o Pittsburgh Penguins, eles só viram alguma
resistência no calouro Marc-Andre Fleury, mas saíram com tranqüilos
3-0. Isso para não falar que as derrotas para Detroit e Boston estiveram
a 1,7 e 108 segundos, respectivamente, de serem empates.
Há de se destacar que duas das vitórias dos Kings foram contra
times dos quais nada se espera, e a outra contra um goleiro reserva.
Mas, para quem se ressente da falta de dois atacantes de no máximo segunda
linha e dos dois principais defensores, um deles capitão do time, isso
não é nada mau.
O futuro reserva algo marcante para os Kings. A gerência prometeu a
volta aos playoffs este ano. E com o que este time pode melhorar após
a adição dos "quatro grandes agentes-livres", não é injusto acreditar.
Ao mesmo tempo em que, se a química e o esforço atual forem prejudicados,
a decepção pode ser do tamanho das expectativas favoráveis.
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Thomaz Alexandre é colunista de The Slot BR e escreve sobre
música para o
site www.paradisemetal.com. |
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