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24 de outubro de 2003
Desvantagem Numérica

Por Thomaz Alexandre

Na temporada passada, o "ano de folga" tirado pelo Los Angeles Kings foi em boa parte atribuído à falta do central Jason Allison e do asa direita Adam Deadmarsh. Não era para menos: uma temporada após somarem 136 pontos combinados, eles fizeram a diferença em 2002-2003 de maneira bem mais amarga, ficando fora de 118 jogos entre a dupla. Tanto que o cargo do técnico Andy Murray se manteve seguro, incontestável, apesar dos maus resultados.

Para 2003-2004, bons agouros à vista: o departamento médico previu para a gerência que 'Deader' e Allison estariam de volta para a abertura da temporada, contra o Detroit Red Wings. Tremendo exagero.

Duas semanas de temporada se passaram e o quadro atual é de incerteza, sem qualquer previsão sobre o retorno dos dois, após ambos sofrerem concussões que os mantém afastados do time pela segunda temporada seguida.

Na seqüência, as "boas notícias" se acumulavam, com o defensor Aaron Miller, assim como Deadmarsh um fruto da troca de Rob Blake, incapaz de estrear na temporada com o punho esquerdo quebrado; e Mattias Norstrom, capitão e principal defensor do time, jogando apenas oito minutos na estréia e ficando fora até o presente momento com fortes dores no tórax. Já são praticamente dez jogos perdidos entre os dois principais defensores do time.

Agora a promessa do presidente dos Kings, Tim Leiweke, é de que Allison e Deadmarsh voltam em novembro. Porém, nem o técnico Andy Murray nem os atacantes contundidos, e frustrados por não poderem contribuir, querem se prender a essas datas. O campeonato está aí e o time precisa jogar com o que tem. Segundo ele, o pensamento sobre o time é: "nosso elenco é formado pelos caras saudáveis agora. Quando os outros voltarem, será como se tivéssemos assinado com grandes agentes-livres"

Para adicionar nesta temporada, os Kings agora contam com Roman Cechmanek no gol, o veterano finalizador Luc Robitaille e o durão Trent Klatt.

Amareladas em playoffs pelos Flyers de lado, pode-se defender um argumento de que Cechmanek é o mais bem sucedido goleiro em temporada regular nos últimos três anos. Ou há outro goleiro titular por aí que, de 2000-2001 a 2002-2003 apresentou números como 92,3% de defesas, 1,97 gols cedidos por jogo e 20 shutouts em 163 jogos? Com tudo dentro dos conformes, a defesa deve se segurar bem com este goleiro até que Miller e Norstrom retornem. E até que os playoffs comecem.

Robitaille é um dos maiores atacantes da história dos Kings, talvez perdendo apenas para Marcel Dionne e Wayne Gretzky. Ele volta após assinar aquele que pode ser seu último contrato na NHL. Em Detroit, ele fez o que planejava fazer lá: ajudar o time a vencer mais uma Copa Stanley e ser ajudado pelo time a vencer sua única Copa Stanley. Missão cumprida, Robitaille seguiu com uma temporada abaixo das expectativas para alguém que, espera-se, estará no Salão da Fama um punhado de anos após sua aposentadoria. Em Los Angeles, porém, ele está em casa e talvez ainda tenha algo melhor para mostrar. Nos primeiros cinco jogos, por exemplo, já tem três gols e duas assistências.

Klatt, assinado como agente-livre vindo do Vancouver Canucks, veio para contribuir com o jogo coletivo tão pregado por Murray, e vencer as importantíssimas disputas nas bordas. Tudo isso ele tem feito, mas a diferença mesmo é que ele já tem três gols em cinco jogos, e tem jogado inclusive em vantagem numérica. Klatt marcou 16 gols em toda a temporada passada, algo inferior a um gol a cada cinco jogos.

Jovens valores em quem os Kings tanto apostaram, também têm de continuar mostrando evolução. Esse é o caso do atacante Alexander Frolov e principalmente do defensor ofensivo Lubomir Visnovsky. Frolov, em seu segundo ano na liga, tem jogado na segunda linha de ataque, apesar de ainda não ter muito tempo nos times especiais. Por sua vez, Visnovsky, em sua terceira temporada, é atualmente o defensor número dois entre os ativos no Los Angeles, jogando mais de 25 minutos por partida e sendo a válvula de escape para Jaroslav Modry quando este destrói as jogadas adversárias. Visnovsky tem dois gols e quatro assistências em cinco jogos.

Junto com eles, temos de citar outro jovem, o defensor Tim Gleason, vindo do Ottawa Senators na troca que mandou Brian Smolinski embora. Gleason, de 20 anos, está empatado na liderança do time em +/-. E ainda dois veteranos: o próprio Modry, que vem fazendo nos Kings a mesma coisa que Adrian Aucoin faz e ninguém vê nos Islanders, e Josef Stumpel, pela segunda vez unido com o MVP do time numa combinação prolífica.

O MVP do time, sem dúvida, é Zigmund Palffy. E não é de hoje. Desde o início da temporada 2000-2001, Palffy muda de companheiros de linha assim como o lançamento do novo Guns N' Roses muda de data. Mesmo assim, diferentemente dos roqueiros de Indiana radicados na Califórnia, o eslovaco continua a produzir. Apenas Jaromir Jagr, Markus Naslund e Alexei Kovalev marcaram mais pontos que ele nas três últimas temporadas. Na atual, pobre em gols de tal maneira que podemos ver dois empates em 0-0 no mesmo dia, Palffy já tem 10 pontos, o dobro do atacante mais próximo na artilharia dos Kings. Como se não bastasse, ele carrega o C de capitão enquanto Norstrom está fora.

Andy Murray também merece crédito por estar mantendo o time numa posição além do esperado enquanto não pode contar com força total no elenco. Com um gol do garoto Frolov, eles venceram os favoritíssimos Sens de virada. Trent Klatt se superou em seu papel de brigão e marcou dois gols na vitória sobre os Hawks; contra o único time da AHL com um membro do Salão da Fama no elenco, o Pittsburgh Penguins, eles só viram alguma resistência no calouro Marc-Andre Fleury, mas saíram com tranqüilos 3-0. Isso para não falar que as derrotas para Detroit e Boston estiveram a 1,7 e 108 segundos, respectivamente, de serem empates.

Há de se destacar que duas das vitórias dos Kings foram contra times dos quais nada se espera, e a outra contra um goleiro reserva. Mas, para quem se ressente da falta de dois atacantes de no máximo segunda linha e dos dois principais defensores, um deles capitão do time, isso não é nada mau.

O futuro reserva algo marcante para os Kings. A gerência prometeu a volta aos playoffs este ano. E com o que este time pode melhorar após a adição dos "quatro grandes agentes-livres", não é injusto acreditar. Ao mesmo tempo em que, se a química e o esforço atual forem prejudicados, a decepção pode ser do tamanho das expectativas favoráveis.

Thomaz Alexandre é colunista de The Slot BR e escreve sobre música para o
site www.paradisemetal.com.
 
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Página publicada em 22 de outubro de 2003.