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17 de outubro de 2003
Phoenix Coyotes: Nova arena, novo logo; nova surpresa?

Por Marcelo Constantino

Os Rankings da Slot estréiam nesta semana e lá está o Phoenix Coyotes no topo. Surpresa? Sim. Para mim também. Para todos nós. Ninguém fora de Phoenix aposta no time para esta temporada. Injustificável? Jamais. Uma vitória na prorrogação sobre os sempre favoritos Blues e outra, com direito a shutout e 31 defesas de Sean Burke, sobre os vice-campeões Mighty Ducks podem ser o indício de um grande cala-boca geral. Claro, ainda há mais 80 jogos pela frente, mas já é alguma coisa.

Este é um time, como outros na NHL, que está livrando-se de altos salários. Em Phoenix as estrelas só saem, dificilmente chegam. Já se vão os tempos da dupla Jeremy Roenick e Keith Tkachuk e de Nikolai Khabibulin. Conseqüentemente, como qualquer time em dificuldades, a hora é de apostar na juventude. Uma nova arena, um novo logo, novas camisas e jogadores jovens.

Nada de ousar. No ano passado os Coyotes surpreenderam a todos contratando Tony Amonte. Era uma esperança de um grande artilheiro, coisa que faltava -- e falta até hoje -- ao time. Amonte foi uma estrondosa decepção e os Coyotes o mandaram para Philadelphia perto do dia-limite de trocas por praticamente nada em troca, naquela que foi a grande roubada daquele período.

Na falta de um grande goleador nesta temporada, os adversários geralmente deverão se preocupar apenas com a linha de Ladislav Nagy, Daymond Langkow e Mike Johnson, de longe a mais produtiva do time. Johnson foi o MVP do time na temporada passada e todos os três vêm crescendo dia após dia. A eles junta-se o novo capitão do time, o durão Shane Doan, jogador mais próximo do que se costuma chamar de "power forward" no time, e também a pechincha Jan Hrdina, um bom jogador contratado por nada dos Penguins no dia-limite.

São esses os atacantes em quem os Coyotes deverão confiar para fazer gols porque Chris Gratton não engana mais ninguém desde que foi devolvido pelos Flyers; o ex-Sr. Outubro (ou será novembro?) Brian Savage tem seus melhores dias nas costas e Mike Sillinger é um jogador mais propriamente para defender, ainda que marque uma boa quantidade de gols.

Defesa capenga --
Se há necessidade de um matador à frente, na defesa as necessidades são ainda maiores. A estrela que deixou o time nesta temporada foi o (até então) capitão Teppo Numminen. Fortes rumores já indicavam que ele estaria saindo de Phoenix ainda na temporada passada, em grande parte pelo desejo da própria gerência em livrar-se do seu alto salário. Saiu agora.

Com a saída do capitão, e também dos experientes Danny Markov e Todd Simpson, o elenco de defensores do time deve começar pelos veteranos Brad Ference, Cale Hulse e Radoslav Suchy, dentre outros ainda menos renomados. Nenhum deles enche os olhos, são de estilo mais bruto e não são jogadores em que um time deve basear sua defesa. Então, na falta de recursos, as esperanças são os jovens.

David Tanabe chegou de Carolina, depois de uma temporada medonha, como de todo o time -- e foi ele o autor do gol na prorrogação sobre os Blues, na estréia do time. A ele juntam-se as jovens promessas Paul Mara e Ossi Vaananen. E não é que eles fizeram um bom papel nas duas partidas iniciais? De qualquer forma, um defensor veterano para carregar o disco com precisão para o ataque seria muito bem-vindo.

São Burke --
Muito se fala sobre como as contusões afetaram o Los Angeles Kings em 2002-2003. Mas o que quase ninguém menciona é que o Phoenix Coyotes foi o time mais prejudicado em termos de jogadores contundidos vezes tempo de contusão. Especialmente a contusão do goleiro Sean Burke, incontestavelmente o jogador mais importante do time. É nele que a defesa deverá se escorar nesta temporada.

Burke, aos 37 anos, passou a receber a devida atenção de todos somente nos últimos anos, a partir do momento em que os gerentes deixaram de olhar fixamente para as estatísticas e passaram a observar quais são os goleiros que fazem aquela defesa importante, naquele momento importante do jogo.

Sean Burke é assim. Sim, os números dele geralmente também são bons, mas seu ponto forte é que ele é aquele tipo de goleiro experiente que suporta pressões e que vence jogos para o time. Não é coisa muito comum hoje em dia na liga e por isso os Coyotes foram agressivamente assediados para negociá-lo no último dia limite de trocas. A gerência pediu caro -- na época especulou-se que foram três escolhas de primeira rodada -- e o manteve no elenco. Num time sem estrelas, ele é o único que se aproxima desta denominação.

Burke não está necessariamente à venda, mas uma grande oferta o tira de Phoenix certamente. Basta pagar o preço salgado que a gerência pedir. É certo também que a saída dele deverá encerrar qualquer ponta de esperança de playoffs em 2004, muito embora os reservas Brian Boucher e Zac Bierk pareçam ter um futuro promissor na franquia.

Desafio --
"Eu acho que todo mundo está subestimando nossa defesa e nossa produção ofensiva", diz o jovem Paul Mara. "Isso aconteceu dois anos atrás e nós calamos a todos. Acho que o grupo que temos aqui pode fazer algum barulho e alguma onda na conferência."

É isso aí, Mara. O negócio é aceitar o desafio e calar a boca de todo mundo, a minha inclusive, chegando lá. Não deixa de ser uma posição confortável ser subestimado por todos. Desconfortável, de certa forma, é a situação de grandes favoritos, que têm a obrigação de vencer. Detroit e Colorado foram apontados como os dois grandes favoritos na temporada passada (como sempre são, nos últimos anos) e protagonizaram aquele fiasco de primeira rodada nos playoffs.

Diante de todo esse quadro, o técnico Bob Francis espera repetir a mágica de 2002, quando surpreendeu a todos levando o time aos playoffs e acabando por conquistar o Troféu Jack Adams. Como o time manteve a base daquele ano e considerando que as contusões da temporada passada não se repetirão na mesma medida, Francis terá de promover o básico para conseguir sucesso, isto é, chegar aos playoffs: união, disciplina sob seu comando e muita, mas muita batalha. Claro, com Burke no gol.

Marcelo Constantino já cruzou o Arizona de carro e considera o Grand Canyon um dos lugares mais belos e monumentais em que já esteve.
 
  SÃO BURKE O goleiro Sean Burke faz uma de suas 31 defesas na vitória por shutout contra o Anaheim, no último domingo. (Robert Laberge/Getty Images - 12/10/2003)

 

 

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Página publicada em 15 de outubro de 2003.