Por
Alexandre Giesbrecht
Esta coluna não vai ser como as outras. Não. Com apenas
dois jogos para cobrir, sendo que cada um deles envolve uma fase dos
playoffs da Stanley Cup, não faz muito sentido. Por isso vou
começar a tagarelar o que vier à cabeça
e, claro, faça sentido aparecer nesta revista.
Tenho escrito constantemente por aqui que o estilo de jogo dos Devils
é chato. Muito chato, aliás. Os Ducks, queridinhos da
imprensa até agora, não têm um estilo muito menos
chato. O que dizer, então, do Wild, eliminado nas finais de conferência?
Mesmo os Senators, tão alardeados pelo seu ataque, são
um time que sabe se fechar muito bem quando não está com
o disco.
Nenhuma novidade até aqui. O que me incomoda, e eu citei isso
brevemente no meu artigo da semana
passada, é o fato de esses quatro times serem os quatro primeiros
colocados destes playoffs. Não deveria haver nada de errado com
isso. Mas há.
Esses times foram montados para vencer. Estão vencendo. O que
pode haver de errado nisso? Simples: ao mesmo tempo em que estão
montados para vencer, também estão montados para pôr
a torcida para dormir. Inclusive aquele fanático, como você,
que está lendo isso aqui (ou você acha que gostar de hóquei
no gelo no Brasil não é fanatismo?).
Para a NHL, que desesperadamente tenta aumentar seu público nos
EUA isso deveria ser um desastre. Mas não é encarado como
tal. Para a NHL, tudo está bem. Será que eles acreditam
mesmo nisso? Com audiências pífias, placares baixos e jogos
concentrados no meio do gelo, é difícil sequer imaginar
como alguém em seu perfeito juízo pode achar que tudo
está bem.
Já há alguns anos não faltam artigos com soluções
e "soluções" para o problema da falta de gols.
Como recuperação de viciados, o primeiro passo deve ser
reconhecer que existe um problema. A NHL ainda não deu esse primeiro
passo, nem parece pronta a dar nos próximos tempos.
Enquanto isso, o torcedor sofre. Se o Wild consegue encher seu estádio
em todos os jogos, uma obrigação num estado com tanta
tradição e que ficou tantos anos sem um time, os Devils,
criadores da super-retranca, já se acostumaram a jogar para estádios
vazios. Para piorar ainda mais a situação, essa sina já
se alastrou pela liga, e times que costumavam lotar regularmente os
estádios, como Bruins e Blackhawks, têm registrado cada
vez menos torcedores nas bilheterias.
O confronto das finais não serviu para melhorar a situação.
Times tradicionalmente ofensivos, como Oilers, Canucks e Penguins, já
sentem há muito tempo que não são páreo
para os Devils, Wilds e Ducks da vida. E não no sentido financeiro
os três últimos não chegam sequer perto de
Rangers, Flyers e Stars em termos econômicos. A solução
para quem se preocupava em fazer gols? Preocupar-se em não sofrê-los.
Os placares que costumávamos ver com alguma freqüência
há dez anos, como 7-5, 6-3 e por aí vai, são extremamente
raros nos dias e hoje, e tendem a ficar cada vez mais raros. Em 1995-96,
Penguins e Flames venceram o mesmo adversário, o Lightning, por
sonoros 10-0. Os Penguins, que terminaram a temporada com o melhor ataque,
ainda protagonizaram um jogo recheado de gols contra os Sharks, em que
perderam por inacreditáveis 10-8 (ficha técnica ao lado).
Alguém aí imagina isso se repetindo na próxima
temporada?
Obviamente, não. Mas o destino dos Pens naquela temporada não
é nada difícil de se repetir com outro time ofensivo:
ser eliminado por um time inferior, mas mais bem postado em sua retranca.
Vejam bem: o problema não é ser defensivo. Não
se ganha nos playoffs sem uma defesa sólida. O problema é
quando se dá atenção somente à defesa, deixando
o ataque "para quando der". E essa tendência só
tem aumentado na temporada regular, o que é um desastre ainda
maior.
O público americano é conhecido por gostar de placares
altos. Não é à toa que eles simplesmente não
conseguem gostar de futebol, preferindo beisebol e futebol americano.
Do jeito que o hóquei está, vai ser difícil conseguir
uma penetração maior nesse importante mercado. Não
que os americanos não gostem de ganhar. Todos gostam. Eu gosto.
Você gosta.
A questão não é essa. Tem a ver com a diversão.
Se o time costuma ganhar, porque o estádio do New Jersey dificilmente
enche? Porque ninguém paga para dormir em um lugar que não
foi feito para isso. Se o seu time ganha por 1-0, você comemorou
duas vezes no estádio. Se o seu time perdeu por 4-3, você
comemorou três. Lógico que não é legal ver
o time perder, mas se isso não acontece com freqüência
é até aceitável ir a um jogo pelos gols que ele
vai proporcionar, mesmo que não se comemore a vitória.
É muito chato ("chato"?) ter de defender a teoria de
que mudanças precisam ser feitas para que os gols voltem a acontecer.
Seria preferível que eles aparecessem naturalmente. Mas, com
a média de gols por jogo despencando ano após ano, não
vejo mais outra solução. O gol ainda é o único
jeito de se ganhar um jogo. Só que táticas sujas têm
sido aplicadas com a conivência dos árbitros, para que
times com ataques medíocres consigam ganhar jogos por 1-0, 2-1
e outros placares baixos.
Isso sem falar no outro grande motivo para a falta de gols: o tamanho
do equipamento dos goleiros. É quase uma heresia falar esse tipo
de coisa de Jean-Sébastien Giguere, que tanto tem brilhado no
gol dos Ducks nesta pós-temporada. Já questionaram o tamanho
das suas proteções de pernas, que estavam dentro dos limites.
Mas nenhum time questionou as suas proteções de peito,
que certamente estão acima do permitido.
Quando se compara o equipamento dos goleiros de hoje com o que eles
usavam há meros dez anos, nota-se que os goleiros de então
parecem seminus. Como o tamanho dos gols e o do disco continuam os mesmos,
não é necessária uma inteligência superior
para concluir que esse é outro ponto importante.
Enfim, não escrevi esse artigo para apontar os motivos da falta
de gols. Fui jogando no computador o que fui pensando a respeito do
que representam os dois times que estão nas finais, sem entrar
em grandes detalhes. Talvez seja o suficiente para mostrar o que penso,
mas não tenho dúvidas de que está muito longe convencer
alguém na NHL de que mudanças têm de acontecer para
que possamos voltar a ver fichas de jogos tão extensas como a
do jogo ao lado.
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Alexandre
Giesbrecht, publicitário, estava comendo Deditos enquanto
escrevia este artigo. |
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QUEM É MAIS CHATO 1
Ao invés de decidir a Stanley Cup, parece que os Devils de
Scott Stevens (com o C na camisa)... (Jonathan Hayward/AP - 23/05/2003) |
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QUEM É MAIS CHATO 2
...vão decidir qual time é mais defensivo com os Ducks
de Paul Kariya (Chris Carlson/AP - 16/05/2003) |
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San Jose Sharks |
2 |
3 |
5 |
10 |
Pittsburgh Penguins |
3 |
3 |
2 |
8 |
PRIMEIRO PERÍODO -- Gols:
1, Pittsburgh, Lemieux 38 (desvantagem numérica)
(Sandstrom, Mironov), 1:26. 2, San Jose, Nolan 19
(Whitney, Kyte), 9:03. 3, San Jose, Kozlov 3 (vantagem
numérica) (Sheppard, Janney), 12:10. 4, Pittsburgh,
Nedved 19 (Naslund, Smolinski), 16:13. 5, Pittsburgh,
Nedved 20 (Francis), 18:11. Penalidades: Fitzgerald,
Pit (tripping), 0:37; Joseph, Pit (interference), 10:40;
Donovan, S.J. (hooking), 13:36. |
SEGUNDO PERÍODO -- Gols:
6, Pittsburgh, Sandstrom 29 (Smolinski, Wells), 2:53.
7, Pittsburgh, Jagr 37 (vantagem numérica)
(Lemieux, Francis), 3:45. 8, San Jose, Kyte 1 (Whitney,
Kozlov), 5:02. 9, Pittsburgh, Zubov 5 (Francis, Joseph),
9:34. 10, San Jose, Sheppard 22 (vantagem numérica)
(Janney, Bodger), 12:10. 11, San Jose, Nolan 20 (Baker,
Friesen), 15:08. Penalidades: Bodger, S.J. (hooking),
3:24; Smolinski, Pit (roughing), 8:00; Odgers, S.J. (high
sticking), 8:00; Wilkinson, Pit (interference), 10:05; Joseph,
Pit (tripping), 11:43; Wilkinson, Pit (fighting major),
12:47; Kyte, S.J. (fighting major), 12:47; Fitzgerald, Pit
(roughing), 17:51; Sykora, S.J. (roughing), 17:51.
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TERCEIRO PERÍODO --
Gols: 12, San Jose, More 2 (Friesen, Sykora),
1:27. 13, San Jose, Sheppard 23 (Bodger), 5:18. 14,
Pittsburgh, Sandstrom 30 (Mironov, Lemieux), 10:14. 15,
San Jose, Tancill 2 (Friesen, Baker), 10:46. 16,
San Jose, Sheppard 24 (Miller), 12:09. 17, Pittsburgh,
Lemieux 39 (Smolinski), 13:26. 18, San Jose, Whitney
11 (rede vazia) (Nolan, Bodger), 18:49. Penalidades:
Sandstrom, Pit (double roughing minor), 19:39; Pederson,
S.J. (double roughing minor), 19:39; More, S.J. (hooking),
20:00. |
San Jose Sharks |
12 |
16 |
13 |
41 |
Pittsburgh Penguins |
10 |
16 |
12 |
38 |
Vantagens numéricas:
SAN - 2 de 4, PGH - 1 de 2. Goleiros: San Jose, Terreri
(12 chutes, 7 defesas), Flaherty (3:45 do 2.º período,
26, 23; campanha: 1-7-0). Pittsburgh, T Barrasso (40, 31;
campanha: 16-5-2). Público: 16.789. Árbitro:
Jackson. Assistentes de linha: Asselstine, Stickle. |
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