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23 de maio de 2003
Motivos para comemorar

Por Alexandre Giesbrecht

A última vez que os Senators abriram uma garrafa de champanhe para comemorar foi há pouco mais de dez anos, depois da sua nona vitória na temporada de 1992-93 — nada menos que no 66.º jogo. O resultado deu ao Ottawa uma vitória e um ponto a mais que o Washington Capitals de 1974-75, o pior time da era moderna do hóquei.

Depois disso, aos poucos, o time foi ganhando momentos menos esparsos para comemorar, como o último Troféu dos Presidentes. Mas, diante dos repetidos insucessos em playoffs recentes, não acredito que champanhes tenham sido estouradas no vestiário dos Sens por nada menos que a ainda inédita conquista da Stanley Cup.

Isso até a última quarta-feira, é claro. É possível, até provável, que ninguém tenha se arriscado a comemorar demais a vitória no jogo 6 contra os Devils, até porque ainda falta um jogo. Mas não se poderia culpá-los se o fizessem.

Afinal, o time perdia a série por 3-1, estava sendo dominado totalmente pela defesa do New Jersey e, ainda por cima, nunca tinha vencido um jogo em que pudesse ser eliminado. Vencido o jogo 5, o tabu do jogo da eliminação foi quebrado, porém um outro tabu os aguardava, um que poderia influenciar ainda mais: os Devils estavam invictos em casa nestes playoffs. Adivinhe onde seria o jogo 6.

Com a Continental Airlines Arena cheia para a partida, os Devils jogaram o seu tradicional hóquei defensivo, distribuindo trancos tal qual um Oiler de Macaé. Ao contrário do jogo 4 (vencido pelos Devils por sonoros 5-2), os Sens não se intimidaram, e isso gerou mais de 37 minutos de 0-0. As duas melhores chances foram do time da casa, ambas no segundo período. O chute de Sergei Brylin, durante vantagem numérica, foi parado pelo ombro esquerdo de Patrick Lalime. Depois, Joe Nieuwendyk, sozinho contra Lalime, também sofreu nas mãos do goleiro.

No hóquei, assim como no futebol, quem não faz toma. Martin Brodeur, o goleiro, tem um bom chute. Marian Hossa, o atacante, teve uma luva melhor. A tentativa de Brodeur de mandar o disco para longe durante uma vantagem numérica dos Senators no fim do segundo período — uma jogada que a estrela-mor dos Devils já fez com sucesso tantas vezes — não foi alta o suficiente para passar pela rápida mão de Hossa. Segundos depois, um passe de Karel Rachunek bate no patim de Marian Hossa e cai no taco de Radek Bonk: 1-0 Ottawa.

"Foi meio que um chute fraco", disse Bonk. Sim, foi um gol que Brodeur, o MVP dos Devils nesta série, não poderia ter tomado. E, claro, a imprensa canadense já começou a pegar no pé dele. Don Brennan, do Ottawa Sun, escreveu que "se os Senators ganharem a série, deveriam mandar um grande buquê de flores para Melanie Brodeur", em alusão ao recente divórcio do goleiro.

O gol de empate, logo no início do terceiro período, esfriou um pouco os ânimos canadenses. E os do jogo. Mesmo a torcida local, que já deveria estar acostumada, pareceu ter entrado em um estado de animação suspensa coletiva. Cemitérios já foram mais barulhentos à noite que a Continental Airlines Arena. A prorrogação era inevitável.

Mais uma vez, Lalime cresceu à frente do ataque adversário, algo que não tinha acontecido com freqüência entre os jogos 2 e 4. A vítima da vez foi Brian Gionta, cujo chute ficou na luva do goleiro. E, mais uma vez, quem não fez tomou.

A jogada da vitória também começou com Hossa, que subiu ao ataque, atraindo a marcação de Scott Stevens e Colin White. Com seu espaço diminuindo cada vez mais, sem falar da ameaça de vida imposta pelos dois físicos zagueiros, ele mandou o disco para frente do gol dos Devils. Vaclav Varada estava lá. Tentou uma vez, duas vezes, mas sequer acertou o disco. Isso acabou sendo a sorte dos Sens: o zagueiro Chris Phillips apareceu por trás e arrematou, sem chances para Brodeur.

O gol criou instantaneamente um jogo 7, em Ottawa, para sexta-feira, o que impedirá que esta edição da Slot BR saia com os dois finalistas da Stanley Cup definidos. Esse jogo promete ser memorável. Os Devils encaram-no com otimismo, pois são um time mais experiente, acostumado às decisões. Os Senators também estão confiantes, pois vêm de duas vitórias e jogarão em casa, que será mais "casa" do que nunca, já que eles são o time de todos os canadenses — a não ser que os canadenses odeiem mais o seu governo, representado pela capital, do que nós, brasileiros.

Chatice -- Os quatro times que chegaram às semifinais têm estilos defensivos. Mesmo os Senators, conhecidos pelo seu ataque poderoso, não descuidam em nenhum momento da retaguarda. Ao mesmo tempo em que o sucesso do Wild fará com que sua folha de pagamento invariavelmente cresça — o contrato de Marian Gaborik e de outros seis jogadores do time vencem agora em julho —, seu estilo ultra-conservador fará com que mais times o imitem.

É assustador imaginar o que essa segunda leva de marias-vão-com-as-outras (a primeira foi logo depois do título dos Devils em 1995) vai fazer com os placares da NHL na próxima temporada.

Alexandre Giesbrecht, 27 anos, estava ouvindo a versão de Jim Carrey de "Somebody to love" quando terminou esta matéria. "Hey, who hired security on this gig, man? They're a motorcycle gang. C'mon!"
CELEBRANDO A VITÓRIA NO JOGO 6 Só chegar ao jogo 7, com um gol de Chris Phillips na prorrogação do jogo 6, já é uma vitória para os Sens, mas o momento está com eles (Ray Stubblebine/Reuters - 21/05/2003)
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Página publicada em 22 de maio de 2003.