Por
Alexandre Giesbrecht
Houve um tempo em que o Troféu dos Presidentes não significava
muita coisa. Tudo bem, ele ainda não significa muita coisa, mas
antes significava menos ainda. Afinal, entre 1990 e 1998, apenas uma
vez o time que ganhou a Stanley Cup tinha levantado o Troféu
dos Presidentes dois meses antes: os Rangers (!) de 1994.
Aí veio 1999, e os Stars repetiram o feito. E 2001, com os Avs.
E 2002, com os Wings. Seria 2003 o ano dos Senators? Ainda é
cedo para saber, mas eles já deram três importantes passos
nessa direção. Os dois primeiros foram as vitórias
sobre Islanders e Flyers, respectivamente na primeira e na segunda fases.
O terceiro, quiçá o mais importante, foi a superação
do trauma de nunca ter chegado às finais de conferência,
embora com um time respeitável nos últimos anos.
A série contra os Flyers acabou mais fácil do que parecia
ser depois de quatro jogos. O goleiro Roman Cechmanek tinha alternado
atuações medianas e fantásticas até ali.
No primeiro jogo, apenas 13 defesas na virada dos Sens, que perdiam
por 2-0 e viraram para 4-2. Veio o segundo jogo, e ele parou todos os
33 chutes que vieram em sua direção. No jogo 3, derrota
na prorrogação com 24 defesas em 27 chutes. No jogo 4,
mais um shutout, desta vez com 28 defesas.
Era a vez, portanto, de uma atuação mediana, certo? Errado.
Veio uma atuação medíocre. Cechmanek defendeu apenas
12 dos 16 discos chutados contra seu gol, e acabou substituído
por Robert Esche na metade do jogo. Resultado: 5-2 para os Sens. No
jogo 6, o histórico indicaria mais uma grande atuação
do goleiro dos Flyers. Como histórico não ganha jogo,
o Ottawa venceu a partida, 5-1, e acabou com a série ali mesmo.
O goleiro, tão criticado desde um início arrasador, na
primeira metade da temporada de 2001-02, sabe que muitos dos torcedores
da equipe não o querem de volta na próxima temporada:
"Eu sei", disse ele ao jornal Philadelphia Daily News. "Eu
ouço o que as pessoas dizem. Elas me odeiam. Eu não sei
por que eles me odeiam, por que eles odeiam nosso time."
A torcida de Philadelphia não é exatamente conhecida pela
racionalidade, mas a falta de sucesso nos playoffs é suficiente
para fazer ídolos cair do pedestal em praticamente qualquer lugar.
Curiosamente, não na cidade do time adversário.
Com a notória exceção de Alexei Yashin, que saiu
escorraçado da cidade, não apenas pelos maus resultados
do time em playoffs, mas também pela falta de amor à camisa
que demonstrou ao se recusar a jogar o último ano de contrato
sem um aumento, Ottawa tem tratado com carinho seu time nos últimos
anos. Mesmo com três eliminações seguidas frente
aos rivais de província Maple Leafs.
Talvez a maior demonstração de paciência tenha sido
o fato de o técnico Jacques Martin não ter sido demitido
ao final da campanha do ano passado. A base do time também foi
mantida, e o resultado foi o Troféu dos Presidentes e a classificação
para as finais de conferência. Mas esses não são
os únicos ingredientes do sucesso atual do time.
A impressionante atitude do elenco durante a temporada, quando abdicaram
de parte dos salários devido à má situação
financeira do clube, mostrou toda a coesão do grupo, que ajudou
na já citada base mantida. E a base não foi construída
com trocas, mas, sim, no recrutamento ouviram, Rangers?
Vamos ver: Daniel Alfredsson e Radek Bonk foram recrutados em 1994,
133.º e 3.º no geral, respectivamente. Chris Phillips foi
a primeira escolha do recrutamento de 1996. Marian Hossa (12.º),
Magnus Arvedson (119.º) e Karel Rachunek (229.º) vieram em
1997. Mike Fisher (44.º) e Chris Neil (161.º) foram escolhidos
em 1998, Martin Havlat (26.º), em 1999, e Anton Volchenkov foi
escolhido (21.º) em 2000. Nada mau, hein? Comparem, por exemplo,
com os Penguins, para ver o que eles puderam aproveitar dos mesmos recrutamentos.
Claro, o time viveu momentos patéticos até 1996, mas foi,
aos poucos, conquistando seu lugar na elite. E sem correr atrás
de caros (e, muitas vezes, decepcionantes) agentes livres ouviram,
Rangers? Trocas tiveram seu papel também, embora não tão
importante quanto o papel do recrutamento.
Wade Redden, hoje o principal zagueiro do time, veio dos Isles em 1996.
O goleiro Patrick Lalime veio do Anaheim em troca de dois jogadores
que não estão mais na NHL. Yashin, mesmo sendo quase expulso
de Ottawa, rendeu dividendos na sua troca. Vieram Zdeno Chara e a escolha
no recrutamento usada para trazer Jason Spezza, que deverá ser
uma peça importante nos anos vindouros. Ainda podem ser citados
Vaclav Varada, Bryan Smolinski e Peter Schaefer.
Assim se montou um elenco que, pela campanha na temporada regular, pode
ser considerado o melhor da liga. Mas não adianta apenas ser
considerado o melhor elenco da liga se o capitão do time não
estiver com a Stanley Cup nas mãos em junho.
"Acho que os jogadores estão felizes por ter ganho e comemoraram
isso, mas todos nós sabemos que o principal é ganhar a
Stanley Cup", disse o gerente geral John Muckler. "É
legal ganhar o Troféu dos Presidentes e é legal vencer
a conferência, mas este time quer vencer a Stanley Cup. E eu tenho
a impressão de que eles não vão ficar satisfeitos
com menos que isso."
Quem está no caminho agora é o New Jersey Devils, que
teve dois adversários (Bruins e Lightning) que não ofereceram
muita resistência. Os holofotes estarão apontados para
o goleiro Martin Brodeur, que tem tido atuações magníficas,
apesar de problemas domésticos que poderiam tirar qualquer um
do sério.
Recentemente, uma suposta pulada de cerca de Brodeur com sua cunhada
tem inundado os tablóides e até os grandes jornais da
região. Os detalhes, revelados pelo próprio Brodeur, incluem
uma ligação de Melanie, esposa do goleiro, algumas horas
antes de um jogo para dizer com qual dos amigos dele ela iria sair naquela
noite para um encontro. Golpe baixo, hein?
"Se isso o incomoda, e eu tenho certeza que sim, ele esconde muito
bem", disse o central John Madden. "Não nos sentimos mal
por ele, mas ao mesmo tempo queremos ganhar para ele. É surpreendente
que ele esteja tão bem. É um peso bem grande no seu ombro."
Fofocas à parte, teremos uma série interessante no Leste.
Não sei se exatamente divertida, mas deverá ser muito
mais disputada que as quatro séries que os dois times encararam.
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Alexandre
Giesbrecht, 27 anos, viu no último fim de semana que
o lastimável estado da estação de Elihu
Root, em Araras, está ainda pior, com o telhado da plataforma
central tendo caído (e já roubaram a placa com o nome
da estação). |
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UM FICA, OUTRO SEGUE O criticado
Roman Cechmanek (à esquerda) cumprimenta Patrick Lalime depois
do fim da série entre Flyers e Sens (Rusty Kennedy/AP - 05/05/2003) |
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