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9 de maio de 2003
Por que Barret Jackman merece o Calder

Por Eduardo Costa

Não deve ser fácil ouvir um garoto dizer que sonha em um dia se tornar um Scott Stevens, Derian Hatcher ou um Adam Foote. É bem mais fácil admirar as defesas acrobáticas ao melhor estilo Dominik Hasek, a habilidade em controlar o disco como Peter Forsberg ou a velocidade de Pavel Bure, do que venerar um jogador que raramente tem estatísticas que saltam aos olhos — ainda mais agora que a NHL extinguiu os trancos como estatística oficial —, é responsável pelo trabalho sujo no gelo, quase nunca tem destaque na mídia e possui contratos bem mais humildes em comparação às demais posições no hóquei.

Barret Jackman, 22 anos, é o mais novo gladiador da linha azul na NHL. Um defensor no sentido real da palavra. Aquele cujo trabalho começa e termina na zona defensiva. Nada além disso. Quem acompanhou Canucks x Blues na ESPN, semana passada, deve lembrar-se da entrevista concedida por ele. Voz cavernosa e uma face que lembra um homem de Neanderthal. Pois ele é no gelo exatamente com o que se parece ou fala. Os defensores realmente defensivos ganham um forte aliado para sair da lista de espécies em extinção da NHL. E o que é mais surpreendente, Jackman vem sendo reconhecido pelo excelente trabalho.

O nosso amigo Marcelo Constantino escreveu sobre Barret em sua coluna sobre quais seriam seus candidatos para o Calder: "Valorizar um defensor com essas características já é um avanço e tanto para a NHL, que costuma olhar para defensores cheios de pontos na tabela." Perfeita observação. Da mesma forma é difícil ver o Troféu Norris indo para um Scott Stevens, por exemplo.

Por falar no capitão dos Devils, vale lembrar que a direção dos Blues aprendeu com seu erro em ter deixado Stevens sair, em 1991. Quando o gerente geral dos Blues, Larry Pleau, buscava um goleiro para essa pós-temporada, o nome n.º 1 da lista era Sean Burke dos Coyotes. Quando a direção do time do Arizona mencionou o nome de Jackman como um dos jogadores desejados em troca, Pleau desistiu de Burke e foi atrás de outro goleiro, no caso Chris Osgood.

Com apenas 17 anos, Jackman foi capitão de uma das equipes mais tradicionais do hóquei júnior canadense, o Regina Pats. Os Pats têm quase 90 anos de existência. Foram 139 pontos e 796 minutos de penalidade em quatro anos na equipe. Na temporada passada, sua primeira como profissional, foi eleito entre os melhores novatos na AHL, onde atuava pelo Worcester IceCats. Muitos olheiros já diziam que se tratava de um futuro capitão de uma franquia da NHL.

Com Chris Pronger recuperando-se de cirurgia no pulso, Jackman teve uma chance para atuar na equipe após uma bela temporada na AHL. Além de ter conseguido se manter no elenco dos Blues, ele quase sempre formou a principal dupla com MacInnis e atuando contra as melhores linhas dos adversários.

A dupla proporcionou aos Blues uma boa temporada, apesar de inúmeras contusões, em especial entre as traves. Jackman credita a MacInnis boa parte do sucesso de seu primeiro ano. MacInnis, por sua vez teve, mais liberdade para atacar, como em seus dias de Calgary Flames, o que lhe rendeu a liderança em pontos entre os defensores na temporada regular.

Jackman, escolhido na primeira rodada em 1999, não é tão fisicamente impressionante quanto Pronger e também não possui a polivalência do ex-capitão dos Blues, mesmo assim o atual capitão MacInnis faz comparações: "Quando Pronger veio para St. Louis, Mike Keenan lhe deu muita confiança. O que acontece, com jogadores jovens, é que obviamente eles vão cometer alguns erros. Você não pode jogar amedrontado por cometer um erro. Keenan fez isso com Chris, lhe dando confiança." Mike Kitchen, treinador de defesa dos Blues, fez a mesma coisa com Barret.

A confiança não se transformou em produção ofensiva, mas como mencionado anteriormente, esse não é o ponto forte de Jackman. Foram apenas três gols e 16 assistências, e em compensação, 190 minutos de penalidade — 76 a mais que qualquer outro novato — e um saldo positivo de 23 no mais-menos. Foi o novato com maior média de tempo no gelo nessa temporada, com 20:04 por partida, sendo que ele atuou em todas as partidas dos Blues.

Infelizmente, para os Blues, mais uma vez a equipe ficou pelo caminho. Venciam a série contra o Vancouver Canucks por 3-1, mas a equipe da Colúmbia Britânica reverteu a situação e venceu os três jogos seguintes. MacInnis e Pronger jogaram fora de suas condições ideais no confronto, o que jogou ainda mais responsabilidade para Jackman. Foi difícil não notar o rastro de capacetes, luvas e tacos toda vez que ele encontrou Todd Bertuzzi pela frente.

Pouco antes do jogo sete contra o Vancouver, Jackman respondeu algumas questões sobre a possibilidade de vencer o Calder: "Desde o começo da temporada eu não pensei nisso. Como um defensor defensivo, é agradável ser reconhecido como sendo um dos candidatos. Mas a Stanley Cup é para onde estou olhando. Qualquer tipo de realização individual é uma pálida comparação."

No momento a Stanley Cup não está mais ao alcance de Jackman, mas o Calder seria um belo prêmio de consolação e serviria para dar um impulso na posição. E isso tudo faz voltar à tona uma reivindicação. O troféu Selke é dado para o melhor atacante com características defensivas na liga. Já que o Norris, em sua esmagadora maioria, vai para os defensores com pontuação bem elevada, não seria a hora de ser criado um troféu para os defensores defensivos? Isso já foi estudado na época em que Bobby Orr colecionava Norris e logo depois, com o surgimento de Ray Bourque e Paul Coffey.

Se o troféu Calder for mesmo para Jackman, será a primeira vez que um jogador da franquia recebe esse prêmio. O último Blue finalista foi Jim Campbell, em 1997 — ficou com o terceiro lugar. Rick Nash e Henrik Zetterberg são os outros candidatos.

Eduardo Costa pensa que o defensor ideal seria como Denis Potvin: um líder agressivo e pontuador.
POR UM LUGAR AO SOL O novato Barret Jackman desfere um tranco sensacional em Brad May, dos Canucks, mostrando aos fãs do que é capaz (James A. Finley/AP - 16/04/2003)
 
MISSÃO IMPOSSÍVEL Encarar o gigante Todd Bertuzzi nos playoffs foi um desafio imensurável para o jovem Jackman (Lyle Stafford/Reuters - 12/04/2003)
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Página publicada em 9 de maio de 2003.