Por
Eduardo Costa
Não deve ser fácil ouvir um garoto dizer que sonha em
um dia se tornar um Scott Stevens, Derian Hatcher ou um Adam Foote.
É bem mais fácil admirar as defesas acrobáticas
ao melhor estilo Dominik Hasek, a habilidade em controlar o disco como
Peter Forsberg ou a velocidade de Pavel Bure, do que venerar um jogador
que raramente tem estatísticas que saltam aos olhos ainda
mais agora que a NHL extinguiu os trancos como estatística oficial
, é responsável pelo trabalho sujo no gelo, quase
nunca tem destaque na mídia e possui contratos bem mais humildes
em comparação às demais posições
no hóquei.
Barret Jackman, 22 anos, é o mais novo gladiador da linha azul
na NHL. Um defensor no sentido real da palavra. Aquele cujo trabalho
começa e termina na zona defensiva. Nada além disso. Quem
acompanhou Canucks x Blues na ESPN, semana passada, deve lembrar-se
da entrevista concedida por ele. Voz cavernosa e uma face que lembra
um homem de Neanderthal. Pois ele é no gelo exatamente com o
que se parece ou fala. Os defensores realmente defensivos ganham um
forte aliado para sair da lista de espécies em extinção
da NHL. E o que é mais surpreendente, Jackman vem sendo reconhecido
pelo excelente trabalho.
O nosso amigo Marcelo Constantino escreveu sobre Barret em
sua coluna sobre quais seriam seus candidatos para o Calder: "Valorizar
um defensor com essas características já é um avanço
e tanto para a NHL, que costuma olhar para defensores cheios de pontos
na tabela." Perfeita observação. Da mesma forma é
difícil ver o Troféu Norris indo para um Scott Stevens,
por exemplo.
Por falar no capitão dos Devils, vale lembrar que a direção
dos Blues aprendeu com seu erro em ter deixado Stevens sair, em 1991.
Quando o gerente geral dos Blues, Larry Pleau, buscava um goleiro para
essa pós-temporada, o nome n.º 1 da lista era Sean Burke
dos Coyotes. Quando a direção do time do Arizona mencionou
o nome de Jackman como um dos jogadores desejados em troca, Pleau desistiu
de Burke e foi atrás de outro goleiro, no caso Chris Osgood.
Com apenas 17 anos, Jackman foi capitão de uma das equipes mais
tradicionais do hóquei júnior canadense, o Regina Pats.
Os Pats têm quase 90 anos de existência. Foram 139 pontos
e 796 minutos de penalidade em quatro anos na equipe. Na temporada passada,
sua primeira como profissional, foi eleito entre os melhores novatos
na AHL, onde atuava pelo Worcester IceCats. Muitos olheiros já
diziam que se tratava de um futuro capitão de uma franquia da
NHL.
Com Chris Pronger recuperando-se de cirurgia no pulso, Jackman teve
uma chance para atuar na equipe após uma bela temporada na AHL.
Além de ter conseguido se manter no elenco dos Blues, ele quase
sempre formou a principal dupla com MacInnis e atuando contra as melhores
linhas dos adversários.
A dupla proporcionou aos Blues uma boa temporada, apesar de inúmeras
contusões, em especial entre as traves. Jackman credita a MacInnis
boa parte do sucesso de seu primeiro ano. MacInnis, por sua vez teve,
mais liberdade para atacar, como em seus dias de Calgary Flames, o que
lhe rendeu a liderança em pontos entre os defensores na temporada
regular.
Jackman, escolhido na primeira rodada em 1999, não é tão
fisicamente impressionante quanto Pronger e também não
possui a polivalência do ex-capitão dos Blues, mesmo assim
o atual capitão MacInnis faz comparações: "Quando
Pronger veio para St. Louis, Mike Keenan lhe deu muita confiança.
O que acontece, com jogadores jovens, é que obviamente eles vão
cometer alguns erros. Você não pode jogar amedrontado por
cometer um erro. Keenan fez isso com Chris, lhe dando confiança."
Mike Kitchen, treinador de defesa dos Blues, fez a mesma coisa com Barret.
A confiança não se transformou em produção
ofensiva, mas como mencionado anteriormente, esse não é
o ponto forte de Jackman. Foram apenas três gols e 16 assistências,
e em compensação, 190 minutos de penalidade 76
a mais que qualquer outro novato e um saldo positivo de 23 no
mais-menos. Foi o novato com maior média de tempo no gelo nessa
temporada, com 20:04 por partida, sendo que ele atuou em todas as partidas
dos Blues.
Infelizmente, para os Blues, mais uma vez a equipe ficou pelo caminho.
Venciam a série contra o Vancouver Canucks por 3-1, mas a equipe
da Colúmbia Britânica reverteu a situação
e venceu os três jogos seguintes. MacInnis e Pronger jogaram fora
de suas condições ideais no confronto, o que jogou ainda
mais responsabilidade para Jackman. Foi difícil não notar
o rastro de capacetes, luvas e tacos toda vez que ele encontrou Todd
Bertuzzi pela frente.
Pouco antes do jogo sete contra o Vancouver, Jackman respondeu algumas
questões sobre a possibilidade de vencer o Calder: "Desde
o começo da temporada eu não pensei nisso. Como um defensor
defensivo, é agradável ser reconhecido como sendo um dos
candidatos. Mas a Stanley Cup é para onde estou olhando. Qualquer
tipo de realização individual é uma pálida
comparação."
No momento a Stanley Cup não está mais ao alcance de Jackman,
mas o Calder seria um belo prêmio de consolação
e serviria para dar um impulso na posição. E isso tudo
faz voltar à tona uma reivindicação. O troféu
Selke é dado para o melhor atacante com características
defensivas na liga. Já que o Norris, em sua esmagadora maioria,
vai para os defensores com pontuação bem elevada, não
seria a hora de ser criado um troféu para os defensores defensivos?
Isso já foi estudado na época em que Bobby Orr colecionava
Norris e logo depois, com o surgimento de Ray Bourque e Paul Coffey.
Se o troféu Calder for mesmo para Jackman, será a primeira
vez que um jogador da franquia recebe esse prêmio. O último
Blue finalista foi Jim Campbell, em 1997 ficou com o terceiro
lugar. Rick Nash e Henrik Zetterberg são os outros candidatos.
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Eduardo Costa pensa que o defensor ideal seria como Denis Potvin:
um líder agressivo e pontuador. |
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POR UM LUGAR AO SOL O novato
Barret Jackman desfere um tranco sensacional em Brad May, dos Canucks,
mostrando aos fãs do que é capaz (James A. Finley/AP
- 16/04/2003) |
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MISSÃO IMPOSSÍVEL
Encarar o gigante Todd Bertuzzi nos playoffs foi um desafio imensurável
para o jovem Jackman (Lyle Stafford/Reuters - 12/04/2003) |
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