Por
Marcelo Constantino
Esqueça (quase) tudo da temporada normal. Ela serve apenas para pagar
os salários dos jogadores, estabelecer os confrontos dos playoffs e
eliminar os Rangers. Os playoffs da Stanley Cup são uma nova temporada,
completamente diferente da regular. Em nenhum outro esporte norte-americano
há uma diferença tão grande entre esses dois momentos.
Geralmente há menos brigas nos playoffs, mas o jogo é incomparavelmente
mais ríspido. Trancos se espalham, até mesmo jogadas sujas fora do lance
surgem com mais freqüência. Os juízes ficam bem mais complacentes, deixam
de marcar uma infração que certamente marcariam na temporada
normal. Penalidades em prorrogação morte súbita são quase uma heresia,
só mesmo muita evidência para ser marcada.
Este ano os playoffs não se resumem ao embate Detroit Red Wings x Colorado
Avalanche, como previsto e realizado em 2002. Os Stars estão prontos
para estragar a festa dos dois grandes rivais. Blues e Canucks podem
até surpreender um desses três favoritos no Oeste, mas chegar até o
fim é sonho distante.
Outra novidade é que o Leste chega bem mais forte este ano nos playoffs
e não será surpresa se a Stanley Cup mudar de Costa desta vez. É bem
verdade que os três grandes do Oeste superam qualquer um do Leste em
termos de experiência e competitividade em playoffs, exceto pelo New
Jersey, que se equipararia ao Dallas neste ponto, mas há times aqui
que são reais candidatos ao título.
O mundo torce por mais um capítulo da clássica Batalha de Ontário entre
Senators e Leafs, de onde certamente sai um dos grandes favoritos à
final. Com um time vencedor do Troféu dos Presidentes e com intimidadores
quase à moda antiga, o Ottawa foi montado para não decepcionar novamente
na pós-temporada. Tal qual o Toronto, o mais ousado time no dia limite
de trocas. Não acredito nos Flyers e todo o restante deverá apenas figurar
nos playoffs.
Goleiros: Como bem disse
Rafael Roberto, os goleiros são a peça mais importante de um time
em playoffs. Claro, toda regra tem sua exceção e, por isso, Chris Osgood
já foi campeão com os Red Wings, por exemplo. Como teremos dezesseis
goleiros neste início, arrisco-me a listá-los em ordem de confiabilidade
(lembrando que nada é 100%):
Intocáveis: Patrick Roy, Martin Brodeur, Ed Belfour (sim, ele mesmo)
Esses eu quero ver pra crer: Curtis Joseph, Marty Turco, Patrick
Lalime, Jean Sebastien Giguere, Olaf Kolzig, Nikolai Khabibulin, Tommy
Salo
Esses eu não sei não...: Dan Clouthier, Roman Chechmaneck, Jeff
Hackett/Steve Shields, Dwayne Roloson
Me engana que eu gosto: Chris Osgood, Garth Snow
Dos possíveis candidatos a MVP dos playoffs:
Sim, esta é daquelas palpitadas picaretas. Mas, se nós ficamos conjeturando
sobre que time chegará até a final, pq não também sobre o jogador que
tem tudo para ser a grande sensação dos playoffs? O único que dificilmente
não estará entre os concorrentes ao Troféu Conn Smythe é Peter Forsberg.
Ele já o teria vencido no ano passado, não fosse Patrick Roy e os enfurecidos
Red Wings estragando a festa. Nesta temporada regular, ele é o jogador
mais quente da liga na segunda metade. E ainda é considerado por boa
parte dos analistas como o melhor jogador de hóquei da atualidade, já
que não se sabe para onde foi aquele Jaromir Jagr dos Penguins.
Poucas arrancadas finais foram tão espetaculares como a do Colorado
Avalanche e a de Peter Forsberg. Apenas na última rodada, no último
dia da temporada regular, os Avs ultrapassaram os Canucks e conquistaram
novamente o título da Divisão Noroeste. Apenas na última rodada, no
último dia da temporada regular, Peter Forsberg ultrapassou o Canucks
Markus Naslund e ficou com o Troféu Art Ross
Daquelas estatísticas que poucos vêem:
Nicklas Lidstrom e Adrian Aucoin lideraram a liga em média de tempo
de jogo por partida, com cerca de 29 minutos cada um. Lidstrom atuou
em todos os jogos da temporada, Aucoin jogou em 73 partidas. O atacante
com mais tempo de jogo é Rod Brind'Amour, com 23:45 de média.
Dentre os que disputaram uma quantidade razoável de disputas de disco
("face-offs"), Yanic Perrault conseguiu surpreendentes 62,88% de aproveitamento.
Forsberg (ele de novo) e Milan Hedjuk terminaram a temporada com surpreendentes
+52 nas estatísticas de mais/menos. Completamente dissociados do restante
da liga neste quesito, basta ver que o terceiro colocado foi Lidstrom,
com +40.
Agora esqueça definitivamente o que passou na temporada porque, como
o Metallica já cantou, a NHL já corroborou, e Humberto Fernandes sempre
gosta de lembrar, nos playoffs nada mais importa. Só
há olhos, corações e mentes para a Stanley Cup.
...
Uma bobeira para fechar. Neste fim de semana eu assisti à nova
versão do filme Rollerball. Eu gosto bastante do filme original de 1975,
estrelado por James Caan e dirigido por Norman Jewison e já não esperava
muito desta refilmagem de 2002. A tal nova versão é seguramente o pior
filme a que assisti nos últimos anos. Serviu apenas para constatar que
o ator-brucutu Oleg Taktarov (quem?) é a cara do jogador-tartaruga Claude
Lemieux.
|
Marcelo Constantino também considera
"Youngblood" uma idiotice sem tamanho. |
|
|
|
|
STANLEY CUP Olhos, corações
e mentes para este troféu (Fotomontagem: ESPN.com) |
|