Por
Humberto Fernandes
Oito meses atrás, eles surpreenderam a NHL
ao vencer o primeiro jogo da Stanley Cup, contra o Detroit Red Wings.
Agora são um dos piores times da Liga, o treinador está
em guerra com os jogadores e o gerente geral está negociando
seus jogadores sobrevalorizados. Uma bagunça.
Até o fechamento deste artigo, os Hurricanes estavam com 18-28-7-6,
na antepenúltima posição da Conferência Leste.
Nos últimos 24 jogos, apenas três vitórias, dois
empates e o restante em derrotas sendo duas na prorrogação.
Como se não bastasse, na semana passada, após um treinamento,
o treinador Paul Maurice ordenou que sete jogadores Bates Battaglia,
Jeff Heerema, Craig MacDonald, Jeff O'Neil, David Tanabe, Niclas Wallin
e Aaron Ward patinassem até cair. E eles assim o fizeram por
12 minutos, quando MacDonald caiu no gelo e O'Neil desistiu.
O gerente geral, Jim Rutherford, trocou os US$ 3 milhões do salário
de Sami Kapanen para o Philadelphia Flyers junto de um defensor de liga
menor por Pavel Brendl e um outro defensor de liga menor. Kapanen decepcionava
a equipe desde os playoffs da temporada passada, quando marcou apenas
um gol em 23 jogos. Seguiu a rotina, anotando seis gols em 43 jogos
nesta temporada. Mas, dando alguma demonstração de valor,
no dia seguinte à troca o finlandês marcou o gol da vitória
dos Flyers sobre o New York Rangers (leia mais sobre a troca aqui).
Rutherford declarou que estava iniciada a reformulação
do time, negou os boatos da demissão de Maurice que renovou
contrato após o vice-campeonato da Stanley Cup , mas não
poupou a cabeça dos jogadores, dizendo que procuraria mais trocas
até o dia 11 de março a data limite de trocas desta
temporada. Os rumores apontam que Ward, Glen Wesley e outros estão
disponíveis.
"É difícil", disse Rutherford. "Nós
viemos de um ano bom e não conseguimos nos manter assim... é
muito decepcionante."
A raiz do problema dos Hurricanes que meus dedos insistem em
digitar Horrorcanes está na própria temporada passada.
Diante daquele sucesso, imaginou-se algo semelhante para este ano. Ora,
o raio não cai duas vezes no mesmo lugar. E assim, pela primeira
vez desde 1999, um time não se classificará para os playoffs
após disputar as finais da Stanley Cup no ano anterior. Naquela
ocasião, o Washington Capitals protagonizou o duplo fiasco: foi
varrido pelos Red Wings em 1998 e não conseguiu disputar mais
que 82 jogos no ano seguinte. Curiosamente, os Hurricanes também
foram derrotados pelos Red Wings quando foram às finais.
Apesar de quase tudo ter piorado para esta temporada, os Canes pelo
menos ainda podem contar com as sólidas atuações
do goleiro Kevin Weekes, responsável indireto pela "expulsão"
de Arthurs Irbe da equipe. Desinteressado no goleiro e seu salário,
Rutherford o colocou na Desistência. Nenhum time o requisitou,
então Irbe desceu ao time inferior. Não há dúvidas
de que nas próximas três semanas os Hurricanes tentarão
negociá-lo de todas as formas possíveis.
Fica o bom exemplo para as demais equipes da liga: não se demite
um treinador após dez derrotas. Nem mesmo Maurice foi demitido
e não faltam motivos para guilhotiná-lo, vide indisposição
dos jogadores e/ou sua duvidosa competência.
Se o vice-campeonato representa uma "fortaleza" na qual Maurice
se protege, aqui estão alguns questionamentos de tal feito:
- os Hurricanes classificaram-se na terceira posição da
Conferência Leste, com 91 pontos. Esta posição somente
foi conquistada através da regra que privilegia o campeão
da divisão, colocando-o entre os três primeiros da conferência.
Se esta regra não existisse, a equipe teria ficado com a sétima
posição.
- No quesito vitórias, os Hurricanes terminaram na 20ª posição
da liga, com apenas 35. O diferencial para outras equipes eliminadas
foi o alto número de empates, 16.
- O caminho nos playoffs realmente foi complicado, mas com a asquerosa
tática da armadilha na zona neutra, os Hurricanes derrotaram
New Jersey Devils, Montreal Canadiens e Toronto Maple Leafs. Contra
os Devils, Weekes surgiu como fator decisivo. Diante dos Canadiens,
a eliminação parecia evidente no quarto jogo: a equipe
canadense vencia a série por 2-1 e o jogo por 3-0, no terceiro
período, até que o ex-treinador Michel Therrien recebeu
uma penalidade por reclamação (conduta anti-desportiva),
o que gerou vantagem numérica de dois homens para o adversário.
Os Hurricanes marcaram na situação favorável, conseguiram
mais dois gols antes do fim do período e venceram na prorrogação,
empatando a série. Dali em diante, Carolina nunca mais olhou
para trás, derrotando também os Maple Leafs nas finais
de conferência.
Se a Stanley Cup não terminou da maneira como desejavam, pelo
menos foi uma promessa para o futuro, tanto de sucesso do time quanto
da estabilidade da franquia. Os "Caniacs" puderam dizer "nós
chegamos lá" mesmo que o vice-campeonato não signifique
nada dentro do gelo. Na prática, eles conseguiram despertar um
maior interesse do público em Raleigh para com o hóquei,
fato comprovado pela elevação da média de espectadores
de 12.401 (1999-00) para 15.729 (2002-03).
A gerência até cumpriu sua parte para uma boa temporada
em 2003, mantendo a base do time. Renovou os contratos de O'Neill, Bret
Hedican, Wallin, Ward, Kapanen, David Tanabe e Ron Francis. E apesar
disso, "... não conseguimos nos manter assim... é
muito decepcionante", palavras de Rutherford.
O que aconteceu com os Hurricanes? Nada, eles sempre foram assim, um
time que não incomoda ninguém. A diferença é
que agora incomodam os próprios torcedores, após mostrar-lhes
algumas vitórias e deixar no ar o gosto do sucesso. Aparentemente,
a armadilha da zona neutra fez outra vítima: o próprio
time, dono do segundo pior ataque da liga. Se Rutherford não
estudar com cuidado a desejada renovação, pode ser que
se decepcione nos próximos anos.
|
Humberto Fernandes queria escrever também sobre o Florida
Panthers, mas o artigo acima esticou-se com os Hurricanes. |
|
|
ESFORÇO INÚTIL
A defesa do Carolina Hurricanes, aqui representada por Kevin Weekes,
Sean Hill e Niclas Wallin, não é das piores, mas o
ataque é inexistente (Mike Cassese/Reuters - 18/02/2003) |
|