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14 de fevereiro de 2003
A mais recente troca de Clarke a ser avaliada

Por Alexandre Giesbrecht

Quando eu comecei a acompanhar a NHL, na segunda metade da temporada de 1992-93, o Philadelphia era algo como o Carolina de hoje. Um time fraco, com uma estrela em ascenção (Eric Lindros) que só tinha um outro jogador que fazia alguma diferença (Mark Recchi). Essa sina ainda prosseguiria na temporada seguinte e no início da temporada de 1994-95, aquela que só começou em 1995, por causa do locaute — aliás, vão se acostumando com a idéia, porque é possível que a temporada de 2004-05 não comece na data marcada.

A reviravolta dos Flyers foi num piscar de olhos. Mais precisamente, em uma única troca: em 9 de fevereiro de 1995, há exatos oito anos, o gerente geral Bobby Clarke mandava Recchi para o Montreal, junto com uma escolha de terceira rodada no recrutamento do ano seguinte, e recebia três jogadores, Eric Desjardins, Gilbert Dionne e John LeClair.

Novamente começando cambaleante a temporada, com 3-6-1, os Flyers ainda seriam derrubados, em casa, pelos Panthers, 3-0, no mesmo dia da troca. Uma furada? Nada disso: o que se seguiu foi uma série de 13-2-2, incluindo oito vitórias seguidas, que acabou por levar o time aos playoffs em segundo lugar na conferência, atrás apenas do surpreendente Quebec Nordiques, que começavam a montar o esquadrão que seria campeão no ano seguinte, já como Colorado Avalanche.

Para explicar isso, é só analisar o que o time recebeu. Eric Desjardins já vinha se destacando em Montreal, mas só foi se tornar um nome bem reconhecido durante sua passagem por Philadelphia. Gilbert Dionne, depois do final dessa temporada, só faria mais sete jogos na NHL. E John LeClair, que nunca tinha explodido em Montreal, revelar-se-ia um power forward de elite já em 1995, com 49 pontos em 37 jogos pelos Flyers.

Depois dessa troca, os Flyers jamais ficaram de fora dos playoffs, mantendo-se sempre entre a elite da Conferência Leste, embora só tenham chegado uma vez — e perdido, em 1997 — às finais da Stanley Cup.

Acho que cinco parágrafos sobre essa troca já são suficientes para dar uma idéia do que ela representou para os Flyers de hoje. Toquei neste assunto porque ela me veio à cabeça imediatamente quando eu soube da mais recente troca do time, com os Hurricanes: receberam Sami Kapanen e Ryan Bast, e mandaram Pavel Brendl e Bruno St. Jacques.

Não, esta troca não chega nem perto daquela de 1995. Bast e St. Jacques são jogadores de liga menor, que, embora um dia ainda possam dar alguma contribuição, não vão ter nenhum impacto sério no futuro próximo. Mas ela serve para mostrar que Clarke é oito-ou-oitenta: ou faz um desastre (como exemplo recente, a troca que trouxe Adam Oates e mandou as três primeiras escolhas do recrutamento passado para o Washington, mais o goleiro revelação Maxime Ouellet) ou consegue uma troca que garantirá bons frutos para seu time.

Essa provavelmente vai ser mais uma das que trazem bons frutos. Ele conseguiu, ao mesmo tempo, se livrar do inútil Brendl — que era idolatrado pela diretoria dos Rangers, mas acabou saindo de lá já como decepção, na troca com que Clarke se livrou de Lindros — e trazer um valioso jogador em Kapanen — quinto colocado na história dos Canes, com 203 assistências, e nono em pontos (348) e gols (145).

Tudo bem, desde que a temporada regular passada se encerrou Kapanen tem sido nada mais que uma senhora decepção. Em 2001-02 ele marcou os melhores números de sua carreira, com 27 gols e 42 assistências, para 69 pontos, mas fez apenas um gol em 23 partidas pelos playoffs, em que seu time conquistou um surpreendente vice-campeonato da Stanley Cup. O jejum continua em 2002-03, com apenas seis gols, sendo apenas um desde 29 de novembro.

Mas Kapanen tem 29 anos. Ou seja, ainda tem alguns anos pela frente e, agora, com uma equipe de qualidade superior para ajudá-lo. Ele está, em teoria, no seu auge e tem tudo para se aproveitar disso. E já começou bem. Logo em seu primeiro jogo com a camisa branca e laranja, marcou o gol da vitória por 2-1 contra os Rangers. Uma boa performance dele em Philadelphia é essencial para melhorar a imagem de Clarke, sempre arranhada a cada troca que não dá certo, mas pouco reconhecida quando ele se dá bem.

Já Brendl talvez consiga mostrar alguma coisa com o maior tempo de gelo que vai ter em Raleigh, mas o que já mostrou até aqui não foi muito animador. Aos 21 anos, a quarta escolha do recrutamento de 1999 está ganhando US$ 550 mil nesta temporada, mas esse salário praticamente dobra para US$ 1 milhão em 2003-04.

Jim Rutherford, o GG dos Canes — que, numa situação desesperadora, perderam 23 dos últimos 29 jogos — achou por bem dar uma mexida no time, ao invés de demitir o técnico Paul Maurice, como tantos colegas seus já fizeram nesta temporada. Agora vai ter de apostar em um ainda novato para suprir a carência de sua estrela caída.

Alexandre Giesbrecht, publicitário, passou boa parte da semana passada com uma séria amidalite, que o deixou mais de quatro dias sem comer. Isso o fez deixar de ter um artigo publicado pela primeira vez desde o início da Slot BR.
COMEÇANDO BEM Kapanen (de frente) comemora seu gol da vitória contra os Rangers com Mark Recchi (Chris Gardner/AP - 08/02/2003)
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Página publicada em 12 de fevereiro de 2003.