Por
Alexandre Giesbrecht
Quando eu comecei a acompanhar a NHL, na segunda metade da temporada
de 1992-93, o Philadelphia era algo como o Carolina de hoje. Um time
fraco, com uma estrela em ascenção (Eric Lindros) que
só tinha um outro jogador que fazia alguma diferença (Mark
Recchi). Essa sina ainda prosseguiria na temporada seguinte e no início
da temporada de 1994-95, aquela que só começou em 1995,
por causa do locaute aliás, vão se acostumando
com a idéia, porque é possível que a temporada
de 2004-05 não comece na data marcada.
A reviravolta dos Flyers foi num piscar de olhos. Mais precisamente,
em uma única troca: em 9 de fevereiro de 1995, há exatos
oito anos, o gerente geral Bobby Clarke mandava Recchi para o Montreal,
junto com uma escolha de terceira rodada no recrutamento do ano seguinte,
e recebia três jogadores, Eric Desjardins, Gilbert Dionne e John
LeClair.
Novamente começando cambaleante a temporada, com 3-6-1, os Flyers
ainda seriam derrubados, em casa, pelos Panthers, 3-0, no mesmo dia
da troca. Uma furada? Nada disso: o que se seguiu foi uma série
de 13-2-2, incluindo oito vitórias seguidas, que acabou por levar
o time aos playoffs em segundo lugar na conferência, atrás
apenas do surpreendente Quebec Nordiques, que começavam a montar
o esquadrão que seria campeão no ano seguinte, já
como Colorado Avalanche.
Para explicar isso, é só analisar o que o time recebeu.
Eric Desjardins já vinha se destacando em Montreal, mas só
foi se tornar um nome bem reconhecido durante sua passagem por Philadelphia.
Gilbert Dionne, depois do final dessa temporada, só faria mais
sete jogos na NHL. E John LeClair, que nunca tinha explodido em Montreal,
revelar-se-ia um power forward de elite já em 1995, com
49 pontos em 37 jogos pelos Flyers.
Depois dessa troca, os Flyers jamais ficaram de fora dos playoffs, mantendo-se
sempre entre a elite da Conferência Leste, embora só tenham
chegado uma vez e perdido, em 1997 às finais da
Stanley Cup.
Acho que cinco parágrafos sobre essa troca já são
suficientes para dar uma idéia do que ela representou para os
Flyers de hoje. Toquei neste assunto porque ela me veio à cabeça
imediatamente quando eu soube da mais recente troca do time, com os
Hurricanes: receberam Sami Kapanen e Ryan Bast, e mandaram Pavel Brendl
e Bruno St. Jacques.
Não, esta troca não chega nem perto daquela de 1995. Bast
e St. Jacques são jogadores de liga menor, que, embora um dia
ainda possam dar alguma contribuição, não vão
ter nenhum impacto sério no futuro próximo. Mas ela serve
para mostrar que Clarke é oito-ou-oitenta: ou faz um desastre
(como exemplo recente, a troca que trouxe Adam Oates e mandou as três
primeiras escolhas do recrutamento passado para o Washington, mais o
goleiro revelação Maxime Ouellet) ou consegue uma troca
que garantirá bons frutos para seu time.
Essa provavelmente vai ser mais uma das que trazem bons frutos. Ele
conseguiu, ao mesmo tempo, se livrar do inútil Brendl
que era idolatrado pela diretoria dos Rangers, mas acabou saindo de
lá já como decepção, na troca com que Clarke
se livrou de Lindros e trazer um valioso jogador em Kapanen
quinto colocado na história dos Canes, com 203 assistências,
e nono em pontos (348) e gols (145).
Tudo bem, desde que a temporada regular passada se encerrou Kapanen
tem sido nada mais que uma senhora decepção. Em 2001-02
ele marcou os melhores números de sua carreira, com 27 gols e
42 assistências, para 69 pontos, mas fez apenas um gol em 23 partidas
pelos playoffs, em que seu time conquistou um surpreendente vice-campeonato
da Stanley Cup. O jejum continua em 2002-03, com apenas seis gols, sendo
apenas um desde 29 de novembro.
Mas Kapanen tem 29 anos. Ou seja, ainda tem alguns anos pela frente
e, agora, com uma equipe de qualidade superior para ajudá-lo.
Ele está, em teoria, no seu auge e tem tudo para se aproveitar
disso. E já começou bem. Logo em seu primeiro jogo com
a camisa branca e laranja, marcou o gol da vitória por 2-1 contra
os Rangers. Uma boa performance dele em Philadelphia é essencial
para melhorar a imagem de Clarke, sempre arranhada a cada troca que
não dá certo, mas pouco reconhecida quando ele se dá
bem.
Já Brendl talvez consiga mostrar alguma coisa com o maior tempo
de gelo que vai ter em Raleigh, mas o que já mostrou até
aqui não foi muito animador. Aos 21 anos, a quarta escolha do
recrutamento de 1999 está ganhando US$ 550 mil nesta temporada,
mas esse salário praticamente dobra para US$ 1 milhão
em 2003-04.
Jim Rutherford, o GG dos Canes que, numa situação
desesperadora, perderam 23 dos últimos 29 jogos achou
por bem dar uma mexida no time, ao invés de demitir o técnico
Paul Maurice, como tantos colegas seus já fizeram nesta temporada.
Agora vai ter de apostar em um ainda novato para suprir a carência
de sua estrela caída.
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Alexandre Giesbrecht, publicitário, passou boa parte da
semana passada com uma séria amidalite, que o deixou mais
de quatro dias sem comer. Isso o fez deixar de ter um artigo publicado
pela primeira vez desde o início da Slot BR. |
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COMEÇANDO BEM Kapanen
(de frente) comemora seu gol da vitória contra os Rangers
com Mark Recchi (Chris Gardner/AP - 08/02/2003) |
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