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24 de janeiro de 2003
Para onde foram as rivalidades da NHL?

Por Rafael Roberto

A última quinta-feira era um dia propício a brigas, já que tínhamos dois rivais se encontrando para jogar hóquei, quando o Detroit Red Wings visitou o Colorado Avalanche. Mas quando você olha o quadro de estatísticas, não encontra nenhuma penalidade por briga.

A mesma coisa aconteceu no sábado, quando o St. Louis Blues jogou contra o Chicago Blackhawks, e, além de nenhuma briga ser registrada, apenas cinco penalidades, todas leves, foram cometidas.

Coisas assim estão ficando cada vez mais comuns na liga, dando margem a uma pergunta: o que há de errado com as rivalidades da NHL?

As evidências indicam que elas estão morrendo, graças a vários fatores, como a adição de times, novas regras que inibem a violência e, principalmente, os calendários cada vez mais desorganizados.

As rivalidades começaram a morrer no momento em que o comissário da NHL, Gary Bettman, iniciou o processo de expansão da liga, adicionando alguns times.

São tantos times novos que não sobra espaço no calendário para mais jogos do Ottawa Senators contra o Toronto Maple Leafs, por exemplo, e enquanto isso a liga insiste em marcar jogos destes times contra outros sem expressão — no sentido de rivalidade.

Além de vários jogos contra times de expansão, o calendário da NHL prejudica a rivalidade quando os confrontos de inimigos acontecem muito tarde na temporada, dando tempo para que toda a energia do clássico seja diminuída aos poucos até o jogo.

Esse é o caso de Colorado-Detroit. O primeiro jogo entre os dois times nesta temporada regular só aconteceu na última quinta-feira, 16 de janeiro. Com mais de dois meses de temporada disputada, o Avalanche pôde apagar algumas memórias do 7-0 que tomou na final da Conferência Oeste do ano passado. Se o confronto tivesse ocorrido logo na abertura da temporada, a vontade de vingança do time de Denver estaria ao máximo, aumentando significativamente as chances de um jogo bem mais emocionante do que o disputado na última semana.

O calendário da NHL também peca quando marca um jogo no dia anterior ao encontro dos rivais. A energia dos atletas fica reduzida devido ao cansaço de jogar na véspera, além da viagem.

Um jogo entre Dallas Stars e Edmonton Oilers, por exemplo, não tem a mesma intensidade se os Stars jogam em Tampa Bay e os Oilers em Buffalo, na noite anterior de um encontro em Edmonton.

Mas, já que a liga insiste em marcar jogos em dias consecutivos, deveria agendá-las para os rivais. Não há nada melhor para aquecer uma rivalidade que ver os times jogando duas vezes seguidas. Os desentendimentos da partida anterior seriam resolvidos logo na noite seguinte.

Para assassinar e enterrar de vez as rivalidades, a cada temporada a liga aumenta a repressão às brigas e às jogadas mais físicas. Quando, por exemplo, um jogador do Philadelphia Flyers dá um tranco mais violento em um jogador dos Penguins, em Pittsburgh, a torcida na arena cria um clima, com seus barulhos, vaias para os Flyers e apoios para os atletas dos Pens revidarem o tranco, apimentando ainda mais a rivalidade.

A falta de suporte a este jogo truncado começou a extinguir os jogadores mais brigões da liga. Jogadores de hóquei, que costumavam não ter dentes e possuir cicatrizes por todo o corpo, agora tem um rosto tão limpo que podem até seguir a carreira de modelo para alguma grife.

A NHL vem se tornando um negócio, que se interessa apenas em vender seus jogos para a televisão e seus produtos, onde não há muito espaço para cuidar da saúde financeira de seus trinta clubes. Todos sabemos que é extremente necessário que isto ocorra para que a liga continue existindo.

Porém, as medidas para industrializar e vender a liga para o mundo estão acabando com a principal finalidade dela, a de divertir. E, nem que seja por um breve momento, todos que gostamos deste esporte queremos ver aquele hóquei das antigas de volta, um hóquei emocionante, cheio de gols e, principalmente, com as rivalidades bastante estimuladas.

Rafael Roberto espera que o hóquei do passado vire o hóquei do futuro da NHL.
BRIGA Por que coisas assim não acontecem com mais freqüência para estimular as rivalidades da liga? (Arquivo The Slot BR)
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Página publicada em 22 de janeiro de 2003.