Por
Alexandre Giesbrecht
As expectativas eram grandes quando Chris Drury chegou a Calgary. Conhecido
por seu grande talento, principalmente em jogos decisivos, esperava-se
que ele produzisse tudo isso e ainda mais. Afinal de contas, os Flames
mandaram para Denver Derek Morris (com muito talento e potencial), junto
com Dean McAmmond e Jeff Shantz durante a pré-temporada, na troca
que trouxe Drury e Yelle.
Os Flames esperavam conseguir aquele segundo artilheiro de que tanto
precisavam, uma ameaça complementar para os adversários,
somada a Jarome Iginla. E, quem sabe, ele seria aquela peça que
faltava para colocar o time de volta nos playoffs. Fora deles desde
1996, o Calgary chegou a ter a melhor campanha da NHL no primeiro quarto
da temporada passada, mas depois desmoronou e ficou de fora mais uma
vez e não foi por pouco.
Drury pode estar num empate triplo na artilharia do time, junto com
Iginla e Martin Gelinas, mas isso não tem sido suficiente. Iginla
está bem longe do ritmo que o levou a sua campanha de 52 gols
e 96 pontos na temporada passada, forçando-o a suportar o maior
peso da frustração da torcida, e Drury deveria produzir
mais do que tem produzido, especialmente quando se fala em gols. Ele
não marca há dez jogos e tem apenas um nas últimas
18 partidas.
"Em toda a minha vida, nunca comecei uma temporada dizendo que
quero 'X' gols ou 'X' pontos", lamenta-se Drury. "Eu poderia
ter mais. Eu deveria? Não sei. Tive várias oportunidades,
talvez não ultimamente, nos últimos 20 jogos".
Até o fechamento desta matéria, Drury tinha acendido a
lâmpada por nove vezes. Não que qualquer outro jogador
dos Flames esteja arrasando no quesito Iginla lidera o time
com 14 gols, seguido por Gelinas (13) e Craig Conroy (12) ,
mas o fato de Drury ainda não ter chegado aos dois dígitos
é uma das muitas razões por que os Flames têm o
pior ataque da NHL. Mesmo Yelle, conhecido mais por ser um atacante
defensivo, tem oito gols.
O Calgary é o único time a não ter marcado ao menos
cem gols. E não é só isso: o recorde coletivo de
minutos sem marcar já foi batido duas vezes nesta temporada.
Ou seja, o antigo recorde agora está na terceira posição.
E a quarta também foi "conquistada" nesta temporada.
O técnico Darryl Sutter tem pegado leve com a falta de produção
de seus principais jogadores, mas insiste que o maior problema dele
não são os goleiros adversários. Para ele, o maior
obstáculo é aquela velha ladainha da auto-crítica
de Drury.
"Ele tem más fases porque é muito duro consigo mesmo,
o que é bom", disse Sutter. "Ele exige muito de si
mesmo, por isso vai marcar mais à medida que for se desenvolvendo".
Desenvolvendo? Drury já é uma realidade. Há um
bom tempo. Mas não dá para explicar o que tem acontecido
ultimamente, ainda mais depois de um início de temporada em que
ele fez o gerente geral do Colorado, Pierre Lacroix, ficar mal perante
sua torcida, graças às suas boas performances e ao mau
desempenho dos Avs, sem um Morris brilhando. Mas, por mais que Morris
ainda esteja se adaptando em Denver sem conseguir destaque, a troca
já não parece mais tão favorável aos Flames.
Drury, cujos recordes na carreira são de 24 gols e 67 pontos,
concorda com a teoria do técnico e admite que se auto-flagela
quando as coisas não vão bem: "Não estou produzindo
e não estou finalizando minhas chances; sou humano, então
isso me incomoda". "Sou meu maior crítico", prossegue.
"Não sei como alguns caras conseguem ligar e desligar o
'botão' e simplesmente deixar tudo no rinque".
Altas expectativas para si mesmo podem ser uma coisa boa, mas, quando
os tempos são difíceis e um jogador está em baixam
isso pode fugir do controle. Drury, no último ano de um contrato
que vale US$ 2,5 milhões, sabe que corre esse risco. Apesar de
ele nunca ter sido treinado por um técnico de personalidade tão
forte quanto a de Sutter, ele insiste que um treinador exigente é
a solução certa para o time e para ele próprio.
Quando Sutter chegou, depois da demissão de Greg Gilbert, o time
abriu uma série invicta de cinco jogos, mas a novidade já
parece ter arrefecido, pois essa seqüência foi interrompida
por uma de quatro derrotas. Talvez a solução, como tanto
já se falou aqui mesmo na Slot BR, não esteja atrás
do banco, mas, sim, atrás da mesa do gerente geral, que, tudo
bem, tem um orçamento minguado, mas poderia ter um time que,
ao menos, brigasse para chegar aos playoffs.
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Alexandre Giesbrecht, publicitário, ainda não terminou
suas férias de 15 dias. |
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