Por
Alessander Laurentino
Em 30 de Julho de 1973, em Ornskoldsvik, uma pequena cidade do interior
da Suécia, provavelmente ninguém imaginava que nasceria
naquele dia e naquele lugar uma das maiores estrelas do hóquei
atual. Markus Naslund, o sueco capitão, líder e artilheiro
do Vancouver Canucks.
Naslund chegou à NHL através do Pittsburgh Penguins, que
o selecionou na primeira rodada do recrutamento de 1993 e enfrentou
algumas dificuldades, tendo atingido resultados abaixo do esperado nas
duas primeiras temporadas como profissional do time. Por ironia, no
ano que ele parecia despontar como o futuro artilheiro que se tornou,
o Penguins acabou trocando-o, fazendo com que ele fosse parar no desacreditado
Vancouver Canucks. Certamente o pessoal do time de super Mario deve
se arrepender até hoje por ter perdido Naslund tão de
graça, ou alguém sabe dizer onde anda Alek Stojanov?
Ao chegar no Vancouver, Naslund encontrou um time desacreditado, desarrumado
e repleto de intrigas, individualismo e estrelismos. Na época,
o principal desagregador do time se chamava Pavel Bure, o foguete russo,
que apesar do enorme talento é um narcisista nato.
Naslund sempre foi um jogador considerado calado, que evita confusões,
discreto e que na época passava claramente despercebido no time,
até porque com as confusões criadas por Bure, a apatia
de Alexander Mogilny, a liderança de Trevor Linden e o passado
de Mark Messier, Naslund não era então um atrativo para
a imprensa.
Durante o chamado "reinado do terror" de Mike Keenan nos Canucks,
vários jogadores foram trocados, e por muito pouco Keenan não
conseguiu mandar embora também o futuro capitão Naslund.
Após sobreviver a todos estes problemas e a uma intensa reformulação
orquestrada pelo novo gerente geral, Brian Burke, Naslund seguiu aprimorando
sua técnica e seu físico, ao mesmo tempo em que sua maturidade
como homem e jogador cresciam, sua produtividade saltava a olhos vistos
e Naslund se tornava um homem de família.
Após a saída de Messier, o time necessitava de um novo
capitão e muitos questionaram a decisão de Naslund ter
sido o escolhido do time para a temporada 2000-01, principalmente devido
ao seu temperamento calmo e ser pouco falante. Mais uma vez, Naslund
enfrentava as críticas e as dúvidas sobre suas qualidades
e novamente ele calou todos os seus críticos.
De um jovem jogador estrangeiro e desconhecido num time campeão
como eram os Penguins na época, Naslund transformou-se no decorrer
de 10 anos em um dos melhores jogadores atualmente e em toda a história
da liga. Certamente as estatísticas ainda não falam muito,
afinal, Naslund ainda não completou seu ponto de número
500 e talvez já o tenha feito no momento em que você
leitor estiver vendo esta matéria , mas ninguém que veja
o capitão dos Canucks jogar pode negar sua imensa habilidade
e talento em comandar o time dentro do gelo e de fazer gols.
Quando Naslund sofreu uma fratura na perna no final da temporada de
2000-01, faltando poucos jogos para terminar a temporada regular e após
ter batido seu recorde gols na época, muitos falaram que ele
jamais voltaria a ser o mesmo, que a fratura em dois locais na perna
enterraria sua carreira e que, mesmo voltando, ele jamais teria a velocidade
que tinha.
Naslund provou o contrário e não apenas voltou ao hóquei
como voltou melhor do que era antes. Em 2001-02, marcou 40 gols e fez
50 assistências, num total de 90 pontos em 81 jogos, ficando entre
os primeiros na tabela de artilharia de toda a liga.
Ao contrário de antigas estrelas como Bure, Naslund é
o tipo de jogador que se dedica ao time, sempre colocando o coletivo
à frente do pessoal. Ele não tem obsessão em ser
o artilheiro, em ser o mais bem pago ou ser a capa da revista nem do
jornal devido aos seus gols. Segundo ele mesmo disse, "Um jogador
é julgado pelo número de Copas Stanley e títulos
que ele consegue, e isso é uma coisa que eu adoraria fazer parte
[vencer uma Stanley]". Para Naslund, não importa que tenha
marcado 31 gols e 56 pontos em apenas 43 jogos nesta temporada, o que
importa é que seu time está entre os primeiros e está
no passo de atingir 110 pontos ao final da temporada regular. Isso sim
motiva o capitão.
Devido aos últimos resultados de Naslund, alguns já o
apontam como um sério candidato para vencer a disputa de MVP
da temporada. Claro que Mario Lemieux faz milagres em Pittsburgh, mas
quem mais você encontra na liga?
Scott Lachance, ex-Canuck, atualmente jogando no Columbus Blue Jackets,
disse recentemente que Naslund foi quem segurou as pontas quando o time
começou mal a temporada passada, e que sua liderança e
constância no vestiário, nos treinamentos e dentro do gelo,
foram fundamentais para o time se manter unido.
Ao ser perguntado se ele gostaria de ser tão bajulado em sua
cidade natal como são Peter Forsberg e Mats Sundin, seus conterrâneos,
Naslund respondeu: "Eles têm jogado bem na seleção
nacional, venceram campeonatos e ganharam o Ouro olímpico, e
é assim que você se torna um herói em casa. Eu ainda
não tive o luxo de vencer coisa alguma. Já fui segundo
em algumas ocasiões. Os fãs lá na Suécia
acompanham mais a seleção nacional do que acompanham a
NHL".
Naslund está cumprindo o primeiro ano de seu novo contrato que
lhe pagará 15 milhões de dólares em 3 anos. Ele
preferiu receber menos para permanecer em Vancouver e tentar ser campeão
com os Canucks a ganhar o dinheiro fácil de times como Red Wings
ou Rangers. Se ele conseguirá erguer a taça ao final dos
playoffs, ninguém pode confirmar ou negar, mas que seria uma
data inesquecível para o hóquei, com certeza seria, afinal,
não é todo dia que se vai de estrangeiro desacreditado
a MVP campeão da Stanley.
|
Alessander Laurentino é fã incondicional de Markus
Naslund e não acredita que um dia já apertou sua mão. |
|
|
ELE VALE UM STOJANOV? Hoje
capitão dos Canucks, Marks Naslund um dia saiu dos Penguins
em troca de um tal Alek Stojanov (Canadian Press) |
|