Por
Humberto Fernandes
Na temporada passada, após sólidos investimentos no time
principalmente a contratação de Pierre Turgeon ,
muitos na liga apostavam no Dallas Stars como um dos favoritos, talvez
abaixo apenas de Detroit Red Wings e Colorado Avalanche, em se tratando
da Conferência Oeste.
Mas ainda não era a hora do bicampeonato. Com uma péssima
temporada de Ed Belfour goleiro consagrado que não precisa
mostrar mais nada de seu talento , aliada a um esquema de jogo
que deixou de funcionar, os Stars nem conseguiram chegar aos playoffs.
E foi exatamente na resolução destes dois problemas que
a gerência da equipe direcionou seus esforços. Para o gol,
trouxe Ron Tugnutt, temendo que o então reserva Marty Turco não
estivesse pronto para a NHL. Deixaram Belfour sair sem qualquer resistência,
no melhor estilo "valeu, cara, um abraço e boa sorte".
Para o lugar do defensivo e eficiente treinador Ken Hitchcock, foram
buscar no Los Angeles Kings o auxiliar de Andy Murray, Dave Tippett
responsável direto pelo ótimo time de vantagem numérica
dos Kings na temporada passada (e vejam como está o aproveitamento
hoje, em contrapartida).
Como se não bastasse, a gerência, não satisfeita,
ainda contratou Bill Guerin, Scott Young, Ulf Dahlen e Philippe Boucher,
formando um elenco homônimo do time. Agora os Stars apresentavam
o segundo melhor plantel da liga, inferior apenas ao dos Red Wings.
Analisando este elenco, a começar pelos centrais, temos Mike
Modano talvez o maior jogador de hóquei da história
dos EUA , Pierre Turgeon e Jason Arnott, todos de primeiro nível.
Nas asas, Guerin, Young, Jere Lehtinen, Dahlen e, ainda, Brenden Morrow.
Atrás, o capitão Derian Hatcher, Sergei Zubov, o subvalorizado
Darryl Sydor, Richard Matvichuk e Boucher. É o suficiente para
encarar e na maioria das vezes, superar qualquer time
da NHL.
Hatcher ostenta o "C", mas, para muitos, o grande líder
e inspiração dos Stars é mesmo Modano. Ambos estão
na franquia desde que ela residia em Minnesota e se chamava North Stars
cujo fim aconteceu em 1993 ; porém, o que faz de
Modano merecedor do título de maior jogador do time são
seus números. Em 986 jogos na carreira, marcou 431 gols e 588
assistências, somando 1019 pontos (números coletados até
o fechamento desta edição). E ninguém se esquece
de sua atuação nos playoffs de 1999, quando conduziu a
equipe ao título, mesmo com o pulso quebrado. Não recebeu
o Troféu Conn Smythe como o jogador mais valioso da ocasião,
concedido ao também merecedor Joe Nieuwendyk, mas Modano não
é do tipo que se apresenta com cartão de visitas recheado
de prêmios. Basta vê-lo jogar, o suficiente para reconhecê-lo
como um dos maiores.
Logicamente, não há como Hatcher competir contra os esmagadores
números de Modano, até porque a função dele
não é essa. Sólido defensor às vezes
até demais , é a segurança do time, e sua
função pode ser comparada com o que Nicolau Maquiavel
escreveu em sua obra "O Príncipe": "O Príncipe
não deve ser preocupar em ser amado, deve cuidar para não
ser odiado e deve querer ser temido". Este é Hatcher, capitão
dos Stars.
Outro que persiste desde a época de North Stars é Matvichuk,
um defensor que não aparece muito para os olhos dos fãs,
mas exerce enorme importância para o time. É um carrasco,
do tipo que desfere trancos, intimida, não tem medo dos atacantes
e, ainda assim, não comete tantas penalidades como seu estilo
aparenta.
Os outros dois destaques da defesa são o veterano Zubov e Sydor.
O russo desertor que não quis atuar pela seleção
de seu país nas últimas Olimpíadas foi destaque
por onde passou, mesmo que a torcida dos Penguins não se esqueça
dos coros de "chute o disco", quando ele atuava no time de
vantagem numérica da equipe. Em Dallas, estes gritos não
se repetiram, e Zubov amadureceu ainda mais defensivamente, sem se descuidar
da defesa que é sua função natural. Sydor,
outro que defende e ataca com incrível potencial, seria titular
em qualquer time da liga, provavelmente na primeira linha da maioria
deles, mas não tem seu valor reconhecido como deveria. Ele não
é questionado em Dallas, nem mesmo há críticas
ao seu jogo, mas também não há elogios, não
é um alvo da mídia o que é bom e ruim ao
mesmo tempo, convenhamos. Melhor para os Stars, que nada têm a
reclamar de Sydor.
O ataque da equipe encontra-se bastante diferente do que foi há
alguns anos. Brett Hull autor do irregular gol vencedor da Copa
Stanley em 1999 , Pat Verbeek, Nieuwendyk, Langenbrunner e Guy
Carbonneau não são mais vistos no Texas. Por outro lado,
Turgeon, Arnott, Guerin, Young e Dahlen foram muito bem recebidos.
Turgeon foi, durante anos, o melhor atacante do St. Louis Blues, e sua
saída causou impacto na liga. Central de muito talento, pode
não ser visto em um jogo e, de repente, aparecer marcando o gol
da vitória. É normal de seu estilo.
Arnott veio junto de Randy McKay hoje no Montreal Canadiens ,
na grande troca que enviou Nieuwendyk e Jamie Langenbrunner para o New
Jersey Devils. O ex-integrante da "EASY Line" (Elias-Arnott-Sykora)
não é tão bom quanto Nieuwendyk, mas é mais
jovem e muito talentoso. O curioso é que foi justamente Arnott
quem sepultou a tentativa dos Stars de serem bicampeões em 2000,
marcando o gol da vitória dos Devils na segunda prorrogação
do jogo 6, em Dallas.
Guerin, segundo maior goleador da última temporada, com 41 gols,
saiu do Boston Bruins como agente livre. Sua força física
e capacidade de marcar gols eram o que os Stars queriam. Tanto que ele
propiciou um momento insano na pré-temporada, ao agredir um jovem
prospecto. Isso não importa (em Dallas) enquanto ele estiver
fazendo gols, tanto que lidera a equipe, com 18; tem os maiores números
também em gols de vantagem numérica (oito) e chutes a
gol. Ah, ele também é o jogador mais penalizado da equipe,
com 67 minutos.
Young, outro ex-destaque dos Blues, e Dahlen, anteriormente no Washington
Capitals, chegaram a Dallas também como agentes livres. Young
não tem sido um fator como se gostaria, mas, pelo menos, ele
reacendeu o jogo de Turgeon, como na época em que eram companheiros
em St. Louis. Dahlen estava bem classificado na artilharia da equipe,
até sofrer uma contusão que o afastou por 14 jogos. Dizem
que ele veio para Dallas na última tentativa de ser campeão,
ou seja, pode ser que se aposente entre abril e junho.
Os Stars foram ao mercado e encheram o carrinho de compras. Entretanto,
o maior destaque da equipe na temporada já estava em Dallas havia
algum tempo. O goleiro Turco, com ótimos números, lidera
a corrida pelo Troféu Vezina, concedido ao melhor goleiro. Até
o fechamento desta edição, ele apresentava 1,70 gol sofrido
por jogo e 93,4% de defesas, com cinco shutouts, liderando a liga em
todas estas categorias.
A conseqüência natural destes investimentos no time é
encontrá-lo no topo da Divisão do Pacífico, anos-luz
à frente dos demais e na briga pela Conferência Oeste,
disputando com Red Wings e Vancouver Canucks por enquanto.
Que os Stars serão campeões ninguém pode dizer,
mas certamente eles são um dos maiores favoritos. Se não
encontrarem Red Wings ou Avalanche no caminho, estão nas finais
de conferência desde já.
|
Humberto Fernandes é torcedor dos Red Wings e quer ver
seu time enfrentar os Stars nos playoffs. |
|
|
RUMO À STANLEY CUP
As estrelas de Dallas mostram que o fiasco da temporada passada
já foi esquecido (Marcio Jose Sanchez/AP - 02/01/2003) |
|