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10 de janeiro de 2003
As estrelas de Dallas retornam ao jogo

Por Humberto Fernandes

Na temporada passada, após sólidos investimentos no time — principalmente a contratação de Pierre Turgeon —, muitos na liga apostavam no Dallas Stars como um dos favoritos, talvez abaixo apenas de Detroit Red Wings e Colorado Avalanche, em se tratando da Conferência Oeste.

Mas ainda não era a hora do bicampeonato. Com uma péssima temporada de Ed Belfour — goleiro consagrado que não precisa mostrar mais nada de seu talento —, aliada a um esquema de jogo que deixou de funcionar, os Stars nem conseguiram chegar aos playoffs. E foi exatamente na resolução destes dois problemas que a gerência da equipe direcionou seus esforços. Para o gol, trouxe Ron Tugnutt, temendo que o então reserva Marty Turco não estivesse pronto para a NHL. Deixaram Belfour sair sem qualquer resistência, no melhor estilo "valeu, cara, um abraço e boa sorte". Para o lugar do defensivo e eficiente treinador Ken Hitchcock, foram buscar no Los Angeles Kings o auxiliar de Andy Murray, Dave Tippett — responsável direto pelo ótimo time de vantagem numérica dos Kings na temporada passada (e vejam como está o aproveitamento hoje, em contrapartida).

Como se não bastasse, a gerência, não satisfeita, ainda contratou Bill Guerin, Scott Young, Ulf Dahlen e Philippe Boucher, formando um elenco homônimo do time. Agora os Stars apresentavam o segundo melhor plantel da liga, inferior apenas ao dos Red Wings.

Analisando este elenco, a começar pelos centrais, temos Mike Modano — talvez o maior jogador de hóquei da história dos EUA —, Pierre Turgeon e Jason Arnott, todos de primeiro nível. Nas asas, Guerin, Young, Jere Lehtinen, Dahlen e, ainda, Brenden Morrow. Atrás, o capitão Derian Hatcher, Sergei Zubov, o subvalorizado Darryl Sydor, Richard Matvichuk e Boucher. É o suficiente para encarar — e na maioria das vezes, superar — qualquer time da NHL.

Hatcher ostenta o "C", mas, para muitos, o grande líder e inspiração dos Stars é mesmo Modano. Ambos estão na franquia desde que ela residia em Minnesota e se chamava North Stars — cujo fim aconteceu em 1993 —; porém, o que faz de Modano merecedor do título de maior jogador do time são seus números. Em 986 jogos na carreira, marcou 431 gols e 588 assistências, somando 1019 pontos (números coletados até o fechamento desta edição). E ninguém se esquece de sua atuação nos playoffs de 1999, quando conduziu a equipe ao título, mesmo com o pulso quebrado. Não recebeu o Troféu Conn Smythe como o jogador mais valioso da ocasião, concedido ao também merecedor Joe Nieuwendyk, mas Modano não é do tipo que se apresenta com cartão de visitas recheado de prêmios. Basta vê-lo jogar, o suficiente para reconhecê-lo como um dos maiores.

Logicamente, não há como Hatcher competir contra os esmagadores números de Modano, até porque a função dele não é essa. Sólido defensor — às vezes até demais —, é a segurança do time, e sua função pode ser comparada com o que Nicolau Maquiavel escreveu em sua obra "O Príncipe": "O Príncipe não deve ser preocupar em ser amado, deve cuidar para não ser odiado e deve querer ser temido". Este é Hatcher, capitão dos Stars.

Outro que persiste desde a época de North Stars é Matvichuk, um defensor que não aparece muito para os olhos dos fãs, mas exerce enorme importância para o time. É um carrasco, do tipo que desfere trancos, intimida, não tem medo dos atacantes e, ainda assim, não comete tantas penalidades como seu estilo aparenta.

Os outros dois destaques da defesa são o veterano Zubov e Sydor. O russo — desertor que não quis atuar pela seleção de seu país nas últimas Olimpíadas — foi destaque por onde passou, mesmo que a torcida dos Penguins não se esqueça dos coros de "chute o disco", quando ele atuava no time de vantagem numérica da equipe. Em Dallas, estes gritos não se repetiram, e Zubov amadureceu ainda mais defensivamente, sem se descuidar da defesa — que é sua função natural. Sydor, outro que defende e ataca com incrível potencial, seria titular em qualquer time da liga, provavelmente na primeira linha da maioria deles, mas não tem seu valor reconhecido como deveria. Ele não é questionado em Dallas, nem mesmo há críticas ao seu jogo, mas também não há elogios, não é um alvo da mídia — o que é bom e ruim ao mesmo tempo, convenhamos. Melhor para os Stars, que nada têm a reclamar de Sydor.

O ataque da equipe encontra-se bastante diferente do que foi há alguns anos. Brett Hull — autor do irregular gol vencedor da Copa Stanley em 1999 —, Pat Verbeek, Nieuwendyk, Langenbrunner e Guy Carbonneau não são mais vistos no Texas. Por outro lado, Turgeon, Arnott, Guerin, Young e Dahlen foram muito bem recebidos.

Turgeon foi, durante anos, o melhor atacante do St. Louis Blues, e sua saída causou impacto na liga. Central de muito talento, pode não ser visto em um jogo e, de repente, aparecer marcando o gol da vitória. É normal de seu estilo.

Arnott veio junto de Randy McKay — hoje no Montreal Canadiens —, na grande troca que enviou Nieuwendyk e Jamie Langenbrunner para o New Jersey Devils. O ex-integrante da "EASY Line" (Elias-Arnott-Sykora) não é tão bom quanto Nieuwendyk, mas é mais jovem e muito talentoso. O curioso é que foi justamente Arnott quem sepultou a tentativa dos Stars de serem bicampeões em 2000, marcando o gol da vitória dos Devils na segunda prorrogação do jogo 6, em Dallas.

Guerin, segundo maior goleador da última temporada, com 41 gols, saiu do Boston Bruins como agente livre. Sua força física e capacidade de marcar gols eram o que os Stars queriam. Tanto que ele propiciou um momento insano na pré-temporada, ao agredir um jovem prospecto. Isso não importa (em Dallas) enquanto ele estiver fazendo gols, tanto que lidera a equipe, com 18; tem os maiores números também em gols de vantagem numérica (oito) e chutes a gol. Ah, ele também é o jogador mais penalizado da equipe, com 67 minutos.

Young, outro ex-destaque dos Blues, e Dahlen, anteriormente no Washington Capitals, chegaram a Dallas também como agentes livres. Young não tem sido um fator como se gostaria, mas, pelo menos, ele reacendeu o jogo de Turgeon, como na época em que eram companheiros em St. Louis. Dahlen estava bem classificado na artilharia da equipe, até sofrer uma contusão que o afastou por 14 jogos. Dizem que ele veio para Dallas na última tentativa de ser campeão, ou seja, pode ser que se aposente entre abril e junho.

Os Stars foram ao mercado e encheram o carrinho de compras. Entretanto, o maior destaque da equipe na temporada já estava em Dallas havia algum tempo. O goleiro Turco, com ótimos números, lidera a corrida pelo Troféu Vezina, concedido ao melhor goleiro. Até o fechamento desta edição, ele apresentava 1,70 gol sofrido por jogo e 93,4% de defesas, com cinco shutouts, liderando a liga em todas estas categorias.

A conseqüência natural destes investimentos no time é encontrá-lo no topo da Divisão do Pacífico, anos-luz à frente dos demais e na briga pela Conferência Oeste, disputando com Red Wings e Vancouver Canucks — por enquanto.

Que os Stars serão campeões ninguém pode dizer, mas certamente eles são um dos maiores favoritos. Se não encontrarem Red Wings ou Avalanche no caminho, estão nas finais de conferência desde já.

Humberto Fernandes é torcedor dos Red Wings e quer ver seu time enfrentar os Stars nos playoffs.
RUMO À STANLEY CUP As estrelas de Dallas mostram que o fiasco da temporada passada já foi esquecido (Marcio Jose Sanchez/AP - 02/01/2003)
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Página publicada em 8 de janeiro de 2003.