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10 de janeiro de 2003
Rússia: uma montanha no sapato canadense

Por Eduardo Costa

Na edição 26 de sua Slot BR, tivemos uma matéria sobre o mundial júnior e, nela, vimos que Canadá e Rússia são as potências históricas da competição. Portanto, não foi surpresa para ninguém que estas equipes acabaram disputando a grande final do torneio no Metro Center de Halifax, neste último domingo.

O Canadá venceu todas as suas partidas a caminho da final, incluindo vitórias por 8-2 sobre os suecos e por 4-0 sobre os tchecos. Nas semifinais, venceu a seleção dos Estados Unidos pelo apertado placar de 3-2.

A Rússia também chegou com 100% de aproveitamento, tendo eliminado a forte Finlândia do goleiro Kari Lehtonen por 4-1 nas semifinais.

Os europeus levaram vantagem nos últimos confrontos entre as duas seleções: venceram nas quartas-de-final em 1998, na final em 1999 e também na final da penúltima competição, em 2002. No último mundial realizado em território canadense (Winnipeg, 1999), os russos derrotaram os anfitriões. Os barulhentos 10.594 torcedores que compareceram ao Metro Center esperavam ver algo diferente desta vez.

Quatro remanescentes da prata canadense em 2002 tentariam evitar ver os russos no lugar mais alto do pódio novamente: o defensor do Toronto Maple Leafs Carlo Colaiacovo — que chegou à final como líder em pontos da competição —, o capitão da seleção Scottie Upshall, o defensor Nathan Paetsch e o atacante Jay McClement. Já os russos tinham nove jogadores retornando da campanha vitoriosa do ano passado; entre eles Alexander Polushin, Yuri Trubachev e Fedor Tyutin.

A partida começou com domínio russo. Nos primeiros dez minutos de partida, o goleiro canadense Marc-Andre Fleury foi o nome mais falado, muitas vezes berrado, pelo fanático — e não poderia ser diferente — narrador da rádio "The Fan 590" de Toronto. Fleury só não pôde impedir que, aos 11:17, Andrei Taratukhin aproveitasse seu próprio rebote e marcasse o primeiro gol da decisão.

O gol acordou os anfitriões e, menos de um minuto depois, o Canadá empatou. O defensor e prospecto dos Leafs Ian White teve seu chute redirecionado por Pierre-Alexandre Parenteau (do Anaheim Mighty Ducks), tirando o goleiro russo Andrei Medvedev da jogada. Com o gol de empate, a seleção canadense passou a dominar a partida. Pouco depois do gol, Trubachev foi penalizado, aumentando a pressão canadense.

Os russos atuaram como sempre: muita velocidade e explorando as individualidades de Alexander Ovechkin — quando Colaiacovo permitia — e de Trubachev. O Canadá vinha com seu tradicional jogo físico e de muita luta nas bordas. Era o que cada um tinha de melhor.

O segundo período foi dominado pelo trio Parenteau, Pierre-Marc Bouchard, e Brooks Laich. Mas era o capitão Upshall quem mais levava perigo ao gol russo. Se o locutor da rádio canadense berrava o nome do goleiro Fleury a todo instante no primeiro período, o segundo pertenceria ao jogador dos Predators. Com Alexei Kaigorodov penalizado, Upshall marcou, aos 16:22, o gol da virada canadense. Nem é preciso dizer que a arena ferveu, o narrador perdeu a voz e o comentarista só faltou chorar. Laich e Parenteau foram os assistentes na jogada.

O lance mais polêmico aconteceu pouco depois. Após uma jogada aparentemente normal (na suspeitíssima ótica do comentarista canadense), Ovechkin caiu no gelo e começou a se contorcer de dor; no momento, o disco pertencia ao Canadá, que disparava em vantagem numérica rumo ao gol de Medvedev. Os árbitros interromperam a jogada, temendo uma séria contusão de Ovechkin. Depois do apito, o russo se levantou sem ajuda alguma e patinou saudável para o banco de seu time. Choveram vaias, principalmente quando, segundos depois, Oveshkin voltou ao gelo.

A Rússia atrás no marcador não era uma novidade. Na final passada, o Canadá teve uma vantagem de dois gols e, mesmo assim, perdeu o ouro. O treinador canadense Marc Habscheid certamente alertou seus jogadores disso.

Com a primeira linha russa bem marcada, a segunda linha, composta por Igor Grigorenko, Taratukhin e Alexander Perezhogin, era a que mais levava perigo ao gol canadense. Foi Grigorenko, prospecto do Detroit Red Wings, que empatou a partida, aos 4:22 do terceiro período. Sozinho na frente de Fleury, Grigorenko não desperdiçou e marcou seu sexto gol na competição. Perezhogin, prospecto do Montreal Canadiens, já havia participado do primeiro gol e somou seu segundo ponto no jogo, assim como Taratukhin.

Os canadenses perderam a calma. Upshall e Bouchard não conseguiam concluir as jogadas, e o pior aconteceu para os dez mil presentes. Depois de jogada do defensor e prospecto dos Rangers, Tyutin, o disco sobrou livre para Trubachev marcar, aos 11:09 do terceiro período, o gol da nova virada. Alguns torcedores tentaram, em vão, animar os jogadores, mas estes pareciam sem forças para tentar uma reação.

Jordan Tootoo e Upshall perderam a compostura e começaram a aplicar trancos desleais — o capitão foi penalizado por dar uma cotovelada em Grigorenko. Faltando três minutos, Tyutin foi penalizado, após segurar um canadense. Habscheid retirou Fleury e colocou mais um atacante, mas o treinador russo Rafail Ishmatov soube armar bem a equipe nesta situação crítica. Fim de jogo e, pela 15.ª vez, o mundial júnior voa rumo a Moscou.

Apesar da derrota, os torcedores canadenses mais uma vez provaram que ninguém os supera em paixão pelo hóquei. No total, 173.453 torcedores compareceram ao Centre 200 de Sydney e ao Metro Centre de Halifax. A marca superou a da competição de 1999, também disputada no Canadá (Winnipeg) e também vencida pela seleção russa.

A Finlândia, que ficou com o bronze ao derrotar os EUA, teve o único representante não-russo e não-canadense na seleção ideal da competição, honra para o defensor Joni Pitkanen, prospecto do Philadelphia Flyers. O Canadá teve o jogador mais valioso do torneio, eleito pela imprensa especializada, o goleiro Fleury, além de contar também com o defensor Colaiacovo — um dos líderes em pontos da competição — e o atacante Upshall.

Grigorenko e o capitão russo Trubachev completam o ataque da seleção do mundial, sendo que Grigorenko, o suíço Patrick Bärtschi, Colaiacovo e o finlândes Tuomo Ruutu foram os líderes do torneio com 10 pontos cada. Grigorenko, Bartschi, Ovechkin e o finlândes Jussi Jokinen marcaram seis gols. O líder em assistências foi Colaiacovo, com nove.

O próximo mundial sub-20 será disputado nas cidades finlandesas de Hämeenlinna e Helsinque. Este mundial não contará com Bielorússia e Alemanha, que foram rebaixadas para o grupo B do mundial de 2004.

Eduardo Costa ficou duplamente feliz ao ver Igor Grigorenko brilhando no mundial.
DE NOVO? Os jogadores russos novamente vencem o Canadá em final de mundial júnior e iniciam a comemoração (Jacques Boissinot/CP - 05/01/2003)

OUTRA VEZ? Os jogadores canadenses choram nova derrota e amargam a prata (Andrew Vaughan/CP - 05/01/2003)
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Página publicada em 8 de janeiro de 2003.