Por
Daniel Rocha, articulista convidado
O Ottawa Senators desta temporada, ainda mais do que nas anteriores,
tornou-se um mar de contradições. Olhando para tabela
de classificação da NHL, encontramos a equipe de Ottawa
firme na primeira posição, à frente de equipes
muito mais poderosas e com folhas de pagamento muito mais robustas.
Ainda assim, com a folha de pagamento girando em torno dos US$ 30 milhões,
posicionando-se em 25.° na liga, a equipe foi obrigada a adiar o
pagamento dos salários do mês e, claramente, encontra-se
sem condições financeiras de continuar operando normalmente.
Certamente, a crise que leva ao menos 70% das equipes da NHL a operar
no vermelho é um problema que não se resume a Ottawa,
mas nessa cidade encontramos algumas particularidades que tornam o caso
especial e ainda mais deprimente. A começar do seu ressurgimento,
como uma franquia expansionista, os Senators desembolsaram US$ 50 milhões
(comece a contar desde já), dinheiro este que foi emprestado
pela Covanta, para obter a licença para participar da liga.
Não demorou muito para que os donos da equipe percebessem que
estavam dando um passo maior do que a própria perna. Sem a infra-estrutura
necessária para abrigar uma franquia da NHL, os Senators se viram
obrigados a atuar no ínfimo Civic Centre, que tinha capacidade
máxima de 10,5 mil pessoas (adequada somente para times de ligas
menores), além da ausência de facilidades necessárias
(estacionamento apropriado, por exemplo).
Quando finalmente se deram conta de que o Civic Centre não suportaria
uma franquia daquele porte (isso em meados de 1992) os donos da equipe
deram início à construção do Corel Centre.
Estimado inicialmente para ser concluído em dois anos, ao custo
de US$ 125 milhões, a construção teve problemas
e atrasou em um ano, e os custos foram elevados em cerca de US$ 100
milhões acima do previsto inicialmente, além de aumentar
em um ano o período em que o Ottawa perdia dinheiro (estima-se
que, no período de 1990 a 1994, o saldo foi negativo em US$ 30
milhões; continue somando).
Pouco depois do fim da construção do estádio, os
Senators foram vendidos para Rod Bryden, que se envolveu inicialmente
com a equipe ao ajudar financeiramente na construção do
estacionamento do Corel Centre. Quando a situação parecia
começar a melhorar para os Senators, eis que o dólar canadense
se desvaloriza ainda mais em relação ao seu similar americano.
Novamente a franquia estava perdendo dinheiro, já que a ambição
da direção anterior levou a absurdos na época,
como a assinatura do então novato Alexandre Daigle por cinco
anos, ao valor total de US$ 12,5 milhões.
Já reestruturado financeiramente, por volta de 1997, o Ottawa
Senators finalmente passou a ser uma franquia lucrativa. Com platéias
sempre maiores do que 90% da capacidade do Corel, e a folha de volta
aos padrões esperados de uma equipe canadense, a franquia operava
bem, exceto pelo fato de a dívida continuar rolando e
aumentando.
Após um primeiro susto em 2000, finalmente o problema veio à
tona a partir do início do século 21. Para tentar salvar
a franquia, Bryden elaborou um plano em que venderia pequenas porções
da equipe para investidores locais (principalmente o Fleet, banco de
Boston, e o CIBC, banco canadense), que ajudariam a amortizar a dívida
e diminuir os juros pagos. O plano de Bryden acabou indo por água
abaixo quando a Covanta declarou falência. Sendo ela uma das maiores
credoras tanto da arena quanto da franquia, o negócio não
pôde seguir em frente. Novamente o plano se restabeleceu em meados
de 2002, com prazo final em 31 de dezembro do mesmo ano. O prazo expirou,
e o negócio não foi concluído, levando ao estado
atual da franquia, que possui uma dívida total girando em torno
de US$ 360 milhões.
A não-concretização da parceria também levou
os Senators a ficar sem dinheiro até mesmo para os pagamentos,
e estima-se que sejam necessários US$ 12,5 milhões para
que a equipe consiga se manter até o fim da temporada. Caso esse
dinheiro não seja providenciado em dez dias, a liga poderá
optar por duas saídas: tomar o controle das operações
da franquia ou leiloar os jogadores da equipe, como agentes livres.
Não é esperado que nenhuma das duas sejam necessárias,
já que todos apostam que Bryden ainda possui uma carta na manga
para se livrar de mais uma especulação sobre o fim do
Ottawa Senators. Estaria, então, resolvido o problema em curto
prazo.
O problema então passaria a ser de longo prazo. Por quanto tempo
mais os Senators poderão sobreviver sem auxílio do governo
e operando com o fraco dólar canadense? Ainda não há
resposta para essa pergunta, nem mesmo na cabeça dos executivos
da NHL. Agora, só confiando no ditado que diz que "amanhã
será um novo dia".
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Daniel Rocha escreveu este artigo especialmente para a The Slot
BR. |
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FAZENDO A PARTE DELES Logo
depois de receberem a notícia de que o salário do
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AH, AS MULHERES! Na esperança
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limpeza do gelo (Jonathan Hayward/AP - 04/01/2003) |
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