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10 de janeiro de 2003
Crise no Ottawa Senators

Por Daniel Rocha, articulista convidado

O Ottawa Senators desta temporada, ainda mais do que nas anteriores, tornou-se um mar de contradições. Olhando para tabela de classificação da NHL, encontramos a equipe de Ottawa firme na primeira posição, à frente de equipes muito mais poderosas e com folhas de pagamento muito mais robustas. Ainda assim, com a folha de pagamento girando em torno dos US$ 30 milhões, posicionando-se em 25.° na liga, a equipe foi obrigada a adiar o pagamento dos salários do mês e, claramente, encontra-se sem condições financeiras de continuar operando normalmente.

Certamente, a crise que leva ao menos 70% das equipes da NHL a operar no vermelho é um problema que não se resume a Ottawa, mas nessa cidade encontramos algumas particularidades que tornam o caso especial e ainda mais deprimente. A começar do seu ressurgimento, como uma franquia expansionista, os Senators desembolsaram US$ 50 milhões (comece a contar desde já), dinheiro este que foi emprestado pela Covanta, para obter a licença para participar da liga.

Não demorou muito para que os donos da equipe percebessem que estavam dando um passo maior do que a própria perna. Sem a infra-estrutura necessária para abrigar uma franquia da NHL, os Senators se viram obrigados a atuar no ínfimo Civic Centre, que tinha capacidade máxima de 10,5 mil pessoas (adequada somente para times de ligas menores), além da ausência de facilidades necessárias (estacionamento apropriado, por exemplo).

Quando finalmente se deram conta de que o Civic Centre não suportaria uma franquia daquele porte (isso em meados de 1992) os donos da equipe deram início à construção do Corel Centre. Estimado inicialmente para ser concluído em dois anos, ao custo de US$ 125 milhões, a construção teve problemas e atrasou em um ano, e os custos foram elevados em cerca de US$ 100 milhões acima do previsto inicialmente, além de aumentar em um ano o período em que o Ottawa perdia dinheiro (estima-se que, no período de 1990 a 1994, o saldo foi negativo em US$ 30 milhões; continue somando).

Pouco depois do fim da construção do estádio, os Senators foram vendidos para Rod Bryden, que se envolveu inicialmente com a equipe ao ajudar financeiramente na construção do estacionamento do Corel Centre. Quando a situação parecia começar a melhorar para os Senators, eis que o dólar canadense se desvaloriza ainda mais em relação ao seu similar americano. Novamente a franquia estava perdendo dinheiro, já que a ambição da direção anterior levou a absurdos na época, como a assinatura do então novato Alexandre Daigle por cinco anos, ao valor total de US$ 12,5 milhões.

Já reestruturado financeiramente, por volta de 1997, o Ottawa Senators finalmente passou a ser uma franquia lucrativa. Com platéias sempre maiores do que 90% da capacidade do Corel, e a folha de volta aos padrões esperados de uma equipe canadense, a franquia operava bem, exceto pelo fato de a dívida continuar rolando — e aumentando.

Após um primeiro susto em 2000, finalmente o problema veio à tona a partir do início do século 21. Para tentar salvar a franquia, Bryden elaborou um plano em que venderia pequenas porções da equipe para investidores locais (principalmente o Fleet, banco de Boston, e o CIBC, banco canadense), que ajudariam a amortizar a dívida e diminuir os juros pagos. O plano de Bryden acabou indo por água abaixo quando a Covanta declarou falência. Sendo ela uma das maiores credoras tanto da arena quanto da franquia, o negócio não pôde seguir em frente. Novamente o plano se restabeleceu em meados de 2002, com prazo final em 31 de dezembro do mesmo ano. O prazo expirou, e o negócio não foi concluído, levando ao estado atual da franquia, que possui uma dívida total girando em torno de US$ 360 milhões.

A não-concretização da parceria também levou os Senators a ficar sem dinheiro até mesmo para os pagamentos, e estima-se que sejam necessários US$ 12,5 milhões para que a equipe consiga se manter até o fim da temporada. Caso esse dinheiro não seja providenciado em dez dias, a liga poderá optar por duas saídas: tomar o controle das operações da franquia ou leiloar os jogadores da equipe, como agentes livres.

Não é esperado que nenhuma das duas sejam necessárias, já que todos apostam que Bryden ainda possui uma carta na manga para se livrar de mais uma especulação sobre o fim do Ottawa Senators. Estaria, então, resolvido o problema em curto prazo.

O problema então passaria a ser de longo prazo. Por quanto tempo mais os Senators poderão sobreviver sem auxílio do governo e operando com o fraco dólar canadense? Ainda não há resposta para essa pergunta, nem mesmo na cabeça dos executivos da NHL. Agora, só confiando no ditado que diz que "amanhã será um novo dia".

Daniel Rocha escreveu este artigo especialmente para a The Slot BR.
FAZENDO A PARTE DELES Logo depois de receberem a notícia de que o salário do mês não seria depositado, os Sens humilharam o saco de pancadas Atlanta Thrashers, com direito a quatro gols de Marian Hossa, que completa aqui o seu hat trick natural na partida (Tom Hanson/AP - 02/01/2003)
 
AH, AS MULHERES! Na esperança de vender mais ingressos, os Sens colocaram mulheres na equipe de limpeza do gelo (Jonathan Hayward/AP - 04/01/2003)
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Página publicada em 8 de janeiro de 2003.