Por
Marcelo Constantino
Times estelares que fazem feio na temporada são uma surpresa
natural. Desde que não sejam o New York Rangers, claro. Um time
como o Colorado Avalanche franquia que, desde que se mudou para
Denver, venceu duas Stanley Cups e ficou de fora da final da Conferência
Oeste apenas uma vez brigando para ficar entre os oito times
que vão aos playoffs beira o absurdo. Adicione a isso os nomes
das várias estrelas que compõem o time, e chegamos ao
inacreditável.
O que sempre vem à mente dos tradicionais adversários
do Avalanche no Oeste? "Enquanto estiverem lá jogadores
do quilate de Roy, Sakic, Forsberg, Blake e outros, os Avs serão
um time duro de se bater nos playoffs". Em tese, sim, mas, se chegarem
aos playoffs jogando o que temos visto na temporada (e se chegarem
até lá), é primeira fase e um abraço.
Assim estão os Avs: patinando. Parecem desinteressados de vez
em quando, falta criatividade, estão previsíveis demais,
indisciplinados demais, intensidade é característica distante...
Possuem um dos piores senão o pior times especiais
desta temporada. Isso num time com todos aqueles nomes peso-pesados.
Nunca o time foi tão mal numa temporada regular.
Patrick Roy não tem sido o monstro que foi ano passado, e o time
carece de terceira e quarta linhas que realmente apareçam e contribuam,
coisa que adversários como os Red Wings têm, com Kirk Maltby
e Darren McCarty. Saudades de Drury, Yelle e Nieminen?
É absolutamente natural para um time que vive sendo um dos favoritos
ao título da Stanley Cup que a temporada regular seja vista como
um longo e cansativo intervalo (ou treinamento) prévio à
corrida ao título. Mas o time de Denver está exagerando
na dose.
Para tentar mudar este panorama cavernoso, na semana passada o gerente
geral do Avalanche, o sagaz Pierre Lecroix, decidiu demitir o técnico
Bob Hartley do comando do time e efetivar o assistente Tony Granato.
Era necessário fazer alguma coisa, balançar o time.
Hartley começou seu trabalho em 1998 e, desde então, venceu
todos os títulos de divisão com os Avs, levou o time a
todas as finais da Conferência Oeste e foi campeão da Stanley
Cup em 2001. Até começar esta, ele havia vencido 183 partidas
nas quatro temporadas anteriores, mais do que qualquer outro técnico
do time. Nesta temporada, ele tinha apenas dez vitórias nos 31
primeiros jogos.
Hartley naturalmente sentia a atmosfera ao seu redor, mas boa parte
dos analistas do Avalanche esperava que Lacroix, para variar, tentasse
uma grande troca antes de se decidir por Hartley. Só que esta
grande troca já foi realizada, no começo da temporada:
a que mandou Chris Drury para os Flames, trazendo o defensor Derek Morris.
O resultado até aqui não foi positivo.
Drury era popular entre os jogadores, e a troca certamente chocou a
torcida, além de ter feito a alegria de vários dos torcedores
rivais dos Red Wings. Rob Blake era seu companheiro de quarto e, provavelmente,
também ficou chocado. E tem jogado mal. Daí a insinuar
que Blake não vem produzindo também por causa disso
e que o time todo sentiu muito a saída dele , como já
li num artigo de um analista dos Avs, façam-me o favor! Quando
negociaram Adam Deadmarsh e Aaron Miller foi a mesma coisa. E foram
campeões assim.
Com uma folha de pagamento acima da casa dos US$ 60 milhões,
é obrigação do gerente geral fazer o que for necessário
para que o time não passe o vexame de ficar de fora dos playoffs.
Afinal, os Avs não são os Rangers. E assim foi feito:
sobrou para Hartley.
As diversas declarações dadas por todos os atores do espetáculo
após o fato consumado indicam que, embora a atmosfera ao redor
não fosse boa, ninguém esperava que Lacroix demitisse
Hartley agora. Nem ele próprio, nem os jogadores. Não
se iludam com as belas declarações de Mike Keane e Alex
Tanguay ("nós causamos a demissão dele", "nós
é que jogamos, nós é que perdemos" etc.).
Frases agora são reconfortantes; melhor seria que a atitude no
gelo tivesse sido diferente.
Entregando o comando do time a Tony Granato, que parou de jogar em 2001
e juntou-se à comissão técnica antes desta temporada,
o Avalanche segue a tradição de ter um técnico
novato na NHL. Tanto Marc Crawford como Hartley nunca haviam dirigido
um time na liga antes de se tornarem técnicos do Colorado.
Mesmo afirmando que Bob Hartley não era o problema, ouso afirmar
que a saída dele pode dar vida nova ao time e fazer com que o
poderoso Colorado Avalanche rume na direção segura dos
playoffs. Nem sempre resolvemos um problema eliminando sua causa inicial.
Algo como "não se apaga um incêndio matando ou prendendo
o incendiário". Neste caso, Lacroix pode estar mandando
sinais aos próprios jogadores.
O time é praticamente o mesmo da temporada passada, agora com
Forsberg voltando a atuar regularmente. O técnico era o mesmo
dos útlimos quatro anos. Muita gente na NHL afirma que cinco
anos é um período suficiente para a vida de um técnico
à frente de um mesmo time, por diversas razões. OK, então
técnico trocado. Agora é com o time. Sim, e com Granato
também, claro.
Troca de técnico num time que está em crise pode ser uma
solução positiva, independente da competência do
trabalho que venha sendo realizado. É uma sacudida no elenco,
é uma saída da rotina, é um novo panorama, novo
cenário. E os primeiros dias de Granato já indicam este
caminho.
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Marcelo Constantino Monteiro admira o trabalho e a serenidade
de Bob Hartley, ainda mais em comparação ao destemperado
técnico anterior dos Avs, Marc Crawford. |
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HARTLEY SAI... De surpresa
(AP) |
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...GRANATO ENTRA E aqui já
comemora o primeiro gol no comando do time, marcado por Vaclav Nedorost
(22), contra o Edmonton Oilers (David Zalubowski/AP - 19/12/2002) |
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