Por
Thomaz Alexandre
Fale no time do Pittsburgh Penguins na temporada vigente, e todos vão
repetir três vezes o nome de Mario Lemieux, e, quando começarem
a efetivamente abordar o restante do time, vão dizer que estes
dependem de Mario Lemieux.
E ninguém em sã consciência vai pensar em dizer
que estão mentindo. Porque não estão, já
que sem o homem que leva o adjetivo "super" antes de seu nome
o time da Volta Redonda americana não seria capaz nem mesmo de
fugir da lanterna da Divisão Atlântico. Quanto mais estar
em posição de passar à "segunda" temporada.
Mas não viemos até aqui para falar de Lemieux. Não
que ele não seja o mais capaz jogador ofensivo da atualidade,
ou que sua presença não faça seus companheiros
se enxergarem vencedores. Mas, segundo os números, o que tem
trazido as vitórias aos Penguins é a unidade de vantagem
numérica, aquela mesma que Mario lidera.
No início da temporada, a equipe não inspirava confiança
para atingir nada parecido com isso. Vários problemas eram evidentes:
não havia um jogador para suportar o castigo em frente à
rede, nem mesmo Lemieux com seus mais de 100 kg de músculos,
já que é suscetível demais a contusões;
não havia defensores talentosos o suficiente para cuidar da transição
pela linha azul, parecendo Janne Laukannen muito distante da forma que
apresentou até 2000 e Michal Roszival sendo a andorinha só;
e havia Steve McKenna, treinando com a segunda unidade. Não,
esse terceiro problema não é piada, e isso ainda se processa.
Em frente ao gol adversário, o técnico Rick Kehoe realmente
começou tentando o temível, para quem está a seu
lado, Steve McKenna. Não é necessário dizer que,
se o time apresenta agora algo em torno de 32% de eficiência,
a caminho do recorde da liga no quesito, algo nesse cenário mudou.
A posição passou a ser de Jan Hrdina, que, além
de ser nos anos recentes um dos mais consistentes homens de face-off,
superou neste ano o estigma de não disparar contra o gol: já
tem onze gols na temporada, nove em vantagem numérica. McKenna
continua entrando, geralmente para aliviar Hrdina nos 20 segundos finais,
quando uma oportunidade está cada vez mais na iminência
de ser perdida. Mario Lemieux, central por natureza, joga na asa esquerda
nessas situações.
Um retorno surpreendente e uma surpresa completa -- O retorno
fica por conta de Alexei Kovalev, não exageradamente chamado
de "Rifle Russo AK-27", que havia jogado no ponto em 2001,
quando a unidade ainda possuía o central Robert Lang e o asa
direito Jaromir Jagr. Mais recentemente, principalmente durante o desastre
da temporada passada, Kovie vinha sendo o gatilho dos Pens, e, como
asa, atingia à queima-roupa as metas adversárias e dessa
posição não esperava sair. Problemas de jogar na
"defesa" em vantagem numérica? Pode ser, caso ser o
terceiro da liga em pontos, estar empatado em segundo para pontos em
vantagem numérica e ser um dos líderes em gols represente
um problema. Seu chute, um dos mais fortes da liga, também é
preciso. Ter alguns movimentos e dribles para prepará-lo, como
Alexei faz, não é nada mal, também. A onda de desinteresse
mostrada no 5-contra-5 e na defesa, que lhe valeram decisivos -9 em
quatro jogos da seqüência de sete sem vencer que o Pittsburgh
enfrentou em novembro, não fazem parte do foco da coluna.
A completa surpresa da linha azul fica para o jogador selecionado no
recrutamento de desistência com melhor performance desde a época
mais longínqua atingida pela memória. Dick Tarnström,
quem? Isso era perguntado no início da temporada. Hoje, até
mesmo o GG do New York Islanders Mike Milburry, responsável pela
brilhante idéia de dispensar Tarnström na mais recente entressafra,
deve saber quem ele é.
Se não bastasse ser o defensor mais confiável do time,
o que não significa muito, dada a concorrência, e também
não entra no foco da coluna, Tarnström tem sido um verdadeiro
quarto-zagueiro de futebol americano, um meio-campista camisa 10 clássico
para a vantagem numérica. Tudo bem que jogar no lado esquerdo
da defesa dos Penguins nessa situação significa passar
de lado para Kovalev, à frente para Lemieux ou chutar, mas Tarnström
não toma as decisões fáceis: toma as certas. Quem
quiser contestar seus quatro gols e 21 assistências, dois e 17
respectivamente em vantagem numérica, vá em frente.
Dick liderava todos os seus colegas defensores da NHL em pontos até
um mau bloqueio de chute com o pé em Buffalo, na semana passada,
que vai lhe custar de duas a quatro semanas fora do gelo. Nesse tempo,
alguns nomes mais previsíveis, como Sergei Zubov, Tom Poti e
seu compatriota Nicklas Lidstrom devem passá-lo no quesito. Bem,
para começo de conversa, nem o próprio Tarnström
esperava estar em algum momento à frente.
Outros e o banquete nem tão farto -- Aleksey Morozov,
o quinto componente da unidade, não precisou mudar muita coisa
em seu jogo. Foi só confirmar o que mostrou em partes da temporada
passada ao lado de Lemieux, abusando de sua velocidade, bons movimentos,
chute colocado e tentando vencer sua "suavidade", que às
vezes pode exagerar, até irritar.
Mais uma vez, a produtividade desses jogadores, talvez livrando aí
Kovalev, pode ser atribuída por muitos a Lemieux, e quase exclusivamente
a ele. Insisto, ninguém vai criticar quem mostra tal opinião.
Talvez apenas os Sabres, que, na única oportunidade em que Super
Mario não jogou, por enquanto, na temporada, aceitaram dois gols
quando com um patinador a menos, na goleada de 4-1 sofrida frente ao
Pittsburgh.
Fala Steve McKenna, que como humorista não é muito melhor
do que como pseudo-patinador: "Os Sabres procuravam insistentemente
pelo 66 e só viam o 23 (nota do colunista: número de McKenna).
Isso deve ter levado suas mentes ao colapso".
Falando em ausência e não dependência, no jogo seguinte,
que foi o primeiro sem Dick Tarnström, a unidade também
marcou dois gols, dessa vez contra o Boston. Andrew Ference, que jogava
pela segunda vez na temporada, após se recuperar de seus problemas
de hérnia, tomou seu lugar e marcou um gol na partida. Rick Kehoe
leva o crédito por, em mais uma adversidade, manter a máquina
em funcionamento.
Os dois gols levaram a seqüência atual de jogos com gol de
vantagem numérica do time a oito. Em outro momento da temporada,
atingiram dez.
Outros jogadores, como Martin Straka e Randy Robitaille, que recentemente
voltaram de contusão, e Alexandre Daigle, que voltou da aposentadoria
prematura, têm tentado achar seu lugar no quinteto principal.
Straka é o que tem dado motivos numa base mais consistente, Daigle
teve lampejos, mas anda apagado, e Robitaille ainda não pegou
como na temporada passada, quando teve média superior a um ponto
por jogo vestindo preto e dourado. Sem esquecer, por mais que se deseje,
do grande, no tamanho, Steve.
Depois de tudo isso, você conclui que... Não, não,
torcedor do Pittsburgh Penguins. O povo não está bem alimentado
só por comer muita, e suculenta, carne de frango. Ou você
teria orgulho de ser autor da sentença: "Meu time está
ótimo; só falta aprendermos a nos defender e a jogar cinco
contra cinco"?
Apenas 4 dos 18 patinadores que estarão no gelo contra os Capitals
na terça-feira possuem mais/menos positivo. O melhor entre eles
é +4.
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Thomaz Alexandre, estudante, estagiário, músico
e redator amador, está tentando se adaptar ao novo dia de
fechamento da revista. Um assunto simples nesta semana para retomar
o ritmo. |
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STRAKA MARCA Seu gol em vantagem
numérica iniciou dolorosos 7-2 sobre os Flyers. Ele tenta
se firmar entre os cinco principais da unidade (Peter Diana/Pittsburgh
Post-Gazette - 28/11/2002) |
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COMEMORAÇÃO
Hrdina (à esquerda) e Lemieux festejam gol de Kovalev contra
o Tampa Bay. Alexei voltou à linha azul da vantagem numérica
com a contusão prematura de Michal Roszival (Matt Freed/Pittsburgh
Post-Gazette - 03/11/2002) |
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