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6 de dezembro de 2002
As conseqüências da equivocada nova regra contra obstrução

Por Humberto Fernandes

A coisa mais previsível na NHL — mais até que o fracasso do superfaturado New York Rangers — é a reação a uma mudança de regra.

Nas férias, todos gostaram da maior rigidez contra a obstrução. Durante a pré-temporada, quando não há pontos ou trabalho em jogo, todos tiveram paciência. Mas agora, quando certos times não estão satisfazendo suas expectativas, as reclamações começam a ficar sérias.

O treinador e gerente geral do Toronto Maple Leafs, Pat Quinn, sempre um tormento para os árbitros, tem uma equipe de mergulhadores profissionais em seu time, mas, quando Mats Sundin foi penalizado por enganchar o gigante Zdeno Chara, do Ottawa Senators, Quinn não culpou seu líder: preferiu culpar os árbitros por não marcarem um mergulho.

"Um sanguinário defensor de 200 kg deslizando pelo gelo", reclama Quinn. "Era um mergulho. É incrível!".

O Detroit Red Wings ficou três partidas sem vencer, e Chris Chelios declarou que o jogo está morrendo. Felizmente, ele pode salvá-lo. Infelizmente, isso parece perturbar o defensor mais do que deveria, prejudicando seu jogo.

"Eu estou cansado de ver mais jogadores mergulhando para tentar conseguir algo", disse Chelios. "Estou doente com isso. É terrível. Estou neste jogo há 20 anos e o amo. Apenas digo aqui o que muitos jogadores querem dizer mas não podem. Algo precisa ser feito".

Uma semana antes, o defensor Marc Bergevin, do Pittsburgh Penguins, chamou a liga de "farsa" entre outras ofensas, com os Pens numa seqüência de sete jogos sem vitória.

Esta é a visão que a liga deseja: as críticas somente recebem destaque quando vêm de times em má fase. Uma "quase censura" mesmo. Até porque quem está se beneficiando com a rigidez, como Vancouver Canucks, Minnesota Wild e Boston Bruins, dificilmente vai criticá-la. Estes parecem não ter nada contra a rigidez nas obstruções. Mesmo assim, não se pronunciam, talvez por imaginar que um dia poderão fazer parte do coro de insatisfeitos.

Voltem a Pittsburgh e perguntem novamente a opinião de Bergevin. Dificilmente ele vai repetir as mesmas palavras, já que seu time agora vence e com muitos gols em vantagem numérica — o melhor em toda a liga. Fruto da competência de seus jogadores, já que eles estão na 20.ª posição em quantidade de vantagens numéricas. Não vale dizer que são beneficiados pela arbitragem, apenas pode-se contemplar o talento dos jogadores.

E tantas penalidades marcadas sem qualquer padrão de arbitragem acabam punindo aqueles jogadores conhecidos por sempre concorrer ao Troféu Lady Bing. É o caso de Nicklas Lidstrom e Joe Sakic, respectivamente, de Red Wings e Avalanche.

Em 23 jogos até agora, Lidstrom acumulou 14 minutos de penalidade. Sua média nos últimos sete anos é de aproximadamente 20 por temporada. Ou seja, ele normalmente precisaria de 58 jogos para acumular o mesmo que já conseguiu em dois meses de rigidez contra obstrução.

Sakic, com 25 jogos, já cometeu uma penalidade a mais que na temporada passada. Soma 20 minutos. Sua média nos últimos cinco anos é de 25 por temporada, o que pode ser facilmente ultrapassado desta vez. Mantendo a média, o capitão dos Avs poderia alcançar 65 minutos em 82 jogos, a maior marca de sua carreira.

Apenas dois dias após as críticas de Chelios, a liga emitiu uma declaração em que seu comitê de gerentes gerais "por unanimidade concordou que o padrão está sendo corretamente aplicado pelos árbitros".

A dúvida é: que padrão é esse? Marcar tudo em uma noite e não apitar nada na seguinte? Voltem o jogo ao normal; isso não é hóquei de verdade. Não que Paul Stewart deva apitar todos os jogos, mas que parem com estas penalidades inventadas e, conseqüentemente, com os sensacionais mergulhos dos atletas em busca de penalidades. Do jeito que o jogo anda, no próximo campeonato de habilidades do Jogo das Estrelas, teremos a modalidade "mergulho sobre o gelo", onde vence quem conseguir percorrer a maior distância. Favoritos? Claro, todo o elenco dos Maple Leafs.

Seja lá o que for este tal comitê de gerentes gerais citado pela NHL, é desnecessário dizer que Quinn não é um membro dele. Nem o patrão de Chelios, Ken Holland.

Para ler mais sobre Paul Stewart, acesse a coluna de Alexandre Giesbrecht na E-20. E sobre os Maple Leafs e suas peripécias, leia a coluna de Eduardo Costa na E-21.

Humberto Fernandes detesta a rigidez contra a obstrução e se pergunta quando começa a temporada do esporte mais quente do gelo.
 
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Página publicada em 4 de dezembro de 2002.