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6 de dezembro de 2002
Análise profunda do Boston Bruins

Por Eduardo Costa

Byron Dafoe não está mais entre as traves e partiu rumo a Atlanta; Bill Guerin agora marca seus gols pelo Dallas Stars; e Kyle McLaren não tem nenhuma intenção de continuar como membro da equipe.

A campanha dos Bruins neste primeiro quarto de temporada surpreende, se levarmos em consideração estas três perdas que a equipe teve em relação à temporada passada. O começo da equipe (16-3-3-1) é o melhor desde a temporada 1976-77. Ao vencer os Penguins por 3-2, em Pittsburgh, a equipe chegou a cinco vitórias consecutivas. Nas últimas 11 partidas, foram nove vitórias e apenas uma derrota, com 44 gols a favor e apenas 18 contra.

Apesar de uma participação pífia nos playoffs contra os Canadiens, Dafoe teve uma temporada excepcional, levando o Boston ao título da Conferência Leste. Para a atual temporada, o goleiro, com passe livre, recusou as ofertas dos Bruins e acabou na Geórgia, defendendo os Thrashers, após ficar inativo por vários meses. Quem aproveitou bem a lacuna deixada foram Steve Shields e John Grahame, que se alternam na posição. O ex-goleiro dos Ducks tem a preferência do treinador Robbie Ftorek e foi responsável por 8 das 16 vitórias dos Bruins até agora na liga. Shields tem 2,20 gols sofridos por jogo e 92% de defesas.

Grahame, titular na vitória sobre os Penguins, a última partida da equipe até o encerramento desta matéria, tem uma campanha de 6-2-1 nesta temporada e é o quinto melhor goleiro da NHL em porcentagem de defesas (93,2%, e ainda 1,91 gol sofrido por jogo).

Ele foi o goleiro que levou o Providence Bruins, da American Hockey League, ao título da Calder Cup na temporada 1998-99, mas muitos duvidavam de sua real capacidade para defender uma equipe da NHL. Até agora tem dado conta do recado. Grahame diz que os segredos da boa fase são os puxados treinamentos: "São treinamentos duros para nós; é tudo bem intenso. Mas, quanto mais pesado o trabalho durante os treinos, mais fáceis ficam os jogos. As grandes quantidades de chutes a gol que sofro nos treinamentos me fazem entrar no fluxo dos jogos oficiais de modo mais rápido".

Por falar na equipe inferior dos Bruins, vale lembrar que ela tem muita importância até agora nesta campanha. Com muitas contusões na equipe, o Boston trouxe de Providence jogadores que produziram bem, como Tim Thomas, Shaone Morrisonn, Andy Hilbert e Lee Goren.

A defesa não tem mais Kyle McLaren, um agente livre restrito, que, insatisfeito com a proposta de US$ 1,755 milhão, deseja mudar de cenário, após sete temporadas na equipe. Mas, assim como no gol, a defesa também conta com agradáveis surpresas. Nick Boynton lidera a liga em mais/menos, com +18 (ao lado de Nicklas Lidstrom e Mike Knuble). Apesar de não ser uma força ofensiva, Boynton é o defensor com maior tempo de jogo em média na equipe (21:56), seguido de perto por Hal Gill (21:27).

Outro "desconhecido" é Jonathan Girard, um defensor que joga limpo (apenas dez minutos de penalidade em 23 partidas) e que também está entre os melhores em +/- na liga. Ao seu lado está Bryan Berard, mandado embora dos Rangers após o fracasso da equipe de Nova York na última temporada. Berard é o mais produtivo defensor da equipe, com 12 pontos em 23 jogos, praticamente a metade do que obteve em 82 partidas com os Rangers na temporada 2001-02. Completam a defesa Sean O'Donnell, o ex-Oiler Sean Brown e Don Sweeney, que recentemente se tornou o quarto jogador na história dos Bruins a atuar mil vezes com a camisa do time.

O ataque vem sofrendo inúmeras mudanças, por causa das contusões que atormentam a equipe. A principal linha perdeu o russo Sergei Samsonov no quarto jogo da temporada. Após testar diversas combinações, o técnico Robbie Ftorek optou pelo ex-Wing Mike Knuble para fazer companhia ao central Joe Thornton e ao asa direito Glen Murray. A linha ganhou o nome de "Big Boys Line" devido ao tamanho de seus jogadores, mas não foi apenas por isso: a produtividade também foi alta. Para se ter idéia do sucesso da mesma, todos os três se encontram entre os seis primeiros atacantes na categoria +/-, sendo que Knuble lidera com +18, Thornton é o terceiro com +14 e Murray o sexto com +11.

O capitão Thornton foi eleito o jogador da semana na NHL na última segunda-feira. Como é seu último ano de contrato, a direção dos Bruins já o estendeu e engordou a conta bancária com um bônus de US$ 400 mil neste ano e a garantia de US$ 5,5 milhões para a próxima temporada. Sem os bônus, Thornton recebe US$ 2,175 milhões, sendo o sétimo mais bem pago no time — lembrando que Martin Lapointe, com US$ 5,25 milhões, é quem mais recebe. O capitão é o mais festejado jogador desde a saída de Ray Bourque para o Avalanche, em 2000. O central é o segundo em pontos na NHL, com 34 em 23 jogos, ficando atrás apenas de Mario Lemieux e seus 46 pontos. Thornton, a primeira escolha geral do recrutamento de 1997, foi o segundo jogador da história da franquia a liderar a equipe em gols, assistências, pontos e minutos de penalidade em uma única temporada (2000-01).

Murray, adquirido junto com Josef Stumpel na troca que mandou para a Califórnia o ex-capitão Jason Allison e Mikko Eloranta no inicio da temporada 2001-02, também está entre os dez maiores pontuadores da liga, com 28 pontos em 23 partidas. O asa direito de 30 anos é um dos melhores atacantes defensivos e tem tido atuações de gala, como nos 7-2 contra os Flames no dia 26, jogo em que marcou o quarto hat trick de sua carreira. Em partidas em que Glen marcou um ou mais pontos, o Boston venceu 12, empatou uma e perdeu outra na prorrogação.

Ftorek teve um agradável problema para resolver quando Samsonov retornou à equipe contra os Penguins — marcando o gol da vitória. Com o russo reconquistando seu lugar na primeira linha, Knuble foi para o lado direito da linha do sueco P. J. Axelsson e do central Brian Rolston. Ainda assim, Knuble manteve sua seqüência de partidas com pontos (oito). É inegável que Samsonov representa muito mais em termos ofensivos que Knuble para o time.

"Nós já jogamos muitas partidas juntos e sabemos controlar um ao outro",' disse Thornton, sobre Samsonov. "É tão agradável ter aquela velocidade ao seu lado. Mike fez um trabalho fantástico conosco, mas Sergei, no seu primeiro jogo (após a contusão), já mostrou do que é capaz'', completou.

Ainda existe receio em relação ao pulso de Samsonov, que não descarta a idéia de cirurgia. A óbvia preferência é esperar até o final dos playoffs para fazê-la, mas, caso as dores voltem, o russo poderia adiantar essa opção.

Stumpel, em sua segunda passagem pelo time, lidera a terceira linha da equipe. Na última temporada marcou oito gols em 81 jogos e na atual, em apenas 19 partidas já colocou o disco na rede seis vezes. Foi um dos três jogadores que retornou de contusão na vitória contra os Canadiens na última quinta-feira, no FleetCenter, juntamente com Lapointe — ausente por 17 partidas, com o pé esquerdo fraturado — e P. J. Axelsson — fora por quatro partidas, por contusão no joelho. O eslovaco centrou a linha de Ivan Huml e Lapointe, marcando um dos gols na vitória de 4-2 sobre os rivais da Divisão Nordeste, que garantiu a oitava vitória consecutiva atuando em casa, a maior seqüência desde 1983, quando a equipe venceu o mesmo número de partidas de modo consecutivo no extinto Boston Garden.

Comentando rapidamente os outros dois integrantes dessa linha, o asa esquerdo tcheco Huml é um dos melhores novatos da temporada até agora, com 12 pontos em 22 partidas. Lapointe, único com +/- negativo no time, talvez seja a pior relação custo/benefício nesta temporada, junto ao Ranger Bobby Holik, e pode servir de moeda de troca. O Avalanche já manifestou interesse. A negociação também envolveria o defensor McLaren. Em troca, viriam Alex Tanguay e Martin Skoula.

O ponto negativo para os Bruins nesta temporada está sendo sua torcida, com apenas duas lotações no FleetCenter, apesar da excelente campanha da equipe. Em algumas oportunidades, o público foi tão pequeno quanto em jogos disputados nos dias de grandes tempestades de neve no noroeste dos Estados Unidos, na década de 80. Está certo que a economia anda em crise, o time de futebol americano local (Patriots) vai bem das pernas e é o atual campeão da NFL, e o dono dos Bruins, Jeremy Jacobs, não fez muitos esforços para manter alguns craques. Mas uma campanha destas merece um pouco mais que públicos de 11 mil pessoas.

O gerente geral do Vancouver Canucks, Brian Burke, diz não entender o que se passa na cabeça dos torcedores dos Bruins. "Eu não consigo colocar isso na minha cabeça. Este é um time real de hóquei, um time muito bom. Eles foram ao GM Place no mês passado e chutaram nossos traseiros dentro de nossa casa. O que esses torcedores querem?". Esta declaração foi dada após Burke presenciar a partida em que os Bruins venceram convincentemente os Hurricanes por 3-1, vendo carreiras e carreiras de cadeiras vazias no FleetCenter.

O time está fazendo sua parte. Agora é esperar que o espírito natalino contagie os torcedores, e estes resolvam dar um presente para si mesmos, indo ao FleetCenter prestigiar um dos melhores times da NHL nesta temporada. Na próxima quinta-feira eles terão outro bom motivo: o retorno de Byron Dafoe a Boston. Será que haverá casa cheia?

Eduardo Costa iria aos jogos do Boston se não ganhasse tão pouco e agradece a costumeira colaboração de Humberto Fernandes.
O ROSTO NÃO MOSTRA, MAS É ALEGRIA Joe Thornton (19) celebra seu segundo gol contra os Pens, com seu companheiro de linha Glen Murray (27), que deu a assistência para Thornton vencer o goleiro Jean-Sebastien Aubin (Gene J. Puskar/AP - 30/11/2002)
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Página publicada em 4 de dezembro de 2002.