Por
Marco Aurelio Lopes
De um lado, vestindo azul e branco, Tie Domi. Do outro, vestindo azul
e vermelho, Matthew Barnaby. Sim, parece apresentação
de luta de boxe mesmo, mas, se você conhece um pouquinho da NHL,
com certeza já ouviu falar destes dois nomes. Não por
serem grandes artilheiros ou craques indiscutíveis. Digamos que
eles sejam o que costumamos chamar de intimidadores, aqueles jogadores
de técnica discutível, mas com aquele instinto brigão
bem aguçado. E nesta categoria certamente eles estão entre
os melhores.
No entanto, ultimamente essa espécie de jogadores anda meio em
baixa, já que as brigas, que, na maioria das vezes, podemos chamar
de gratuitas, não têm mais o mesmo charme (?) e, por que
não dizer?, a mesma intensidade de anos anteriores. É
verdade que as brigas ainda servem principalmente para motivar uma equipe
e uma torcida, que vê seu time em maus momentos durante o jogo,
e tem neste pugilato uma forma de estimular mais os jogadores, mas o
fato é que as novas determinações da NHL em busca
de mais espetáculo e menos violência acabam por tirar um
pouco o sentido de se ter dois jogadores trocando socos e interrompendo
uma partida em determinado momento. Recentemente, por exemplo, um time
da AHL, o Houston Aeros, chegou ao ponto de promover os jogos para sua
torcida como jogos da briga, partidas onde era garantida que houvesse
ao menos uma briga, sob o risco dos espectadores receberem o dinheiro
de volta (a propósito, a liga vetou a proposta sem pensar duas
vezes).
Nos anos 70, equipes como os Flyers e seus "Valentões da
Rua Broad" implantaram na NHL um novo estilo de jogo, que privilegiava
o físico sobre a técnica, abusando da agressividade e
da intimidação dos oponentes para conseguir uma vantagem
no jogo. Felizmente ou não, o fato é que estes Flyers
conseguiram suas duas Stanley Cups neste período (em 1974 e 75),
e a NHL acabou por conhecer uma nova faceta no seu jogo, que depois
viria a ser seguida por outras equipes, dentre as quais o New York Islanders,
que foi uma verdadeira dinastia da NHL no início dos anos 80
sabendo aliar técnica e agressividade. Assim, o jogo físico
ficou marcado de vez na NHL. Jogadores como Dave "Tiger" Williams
e Marty McSorley, por exemplo, foram símbolos desta nova geração
de jogadores de hóquei, estando até hoje entre os maiores
colecionadores de minutos de penalidades, frutos de solavancos, trancos
e brigas.
Vieram os anos 90 e a expansão acabou por trazer à liga
dezenas de novos jogadores, que nem sempre tinham na habilidade com
o taco e o disco suas características, e usavam da força
bruta para garantir seus espaços na liga, como típicos
cães-de-guarda das estrelas do time. Até quem gosta de
assistir a essas brigas sabe que as de hoje em dia já não
são mais uma troca de golpes, mas, sim, um agarra-agarra que
não dá em nada: é puxão de camisa, abraços
e mais nada... Claro que alguns jogadores ficaram conhecidos por sua
habilidade pugilística, mesmo. Jogadores como Donald Brashear,
Krzyzstof Oliwa, Darcy Tucker, Bob Probert, Tie Domi, Matthew Barnaby
e Sandy McCarthy, apenas para lembrar alguns deles, estão entre
os mais famosos brigões da liga.
Mas os tempos são outros, e na NHL do século XXI saber
brigar parece já não ser tão importante assim;
não é ser um bom brigão que vai lhe garantir uma
vaga na equipe. Claro que o jogo físico é algo que não
vai acabar tão cedo, e sempre será importante ter jogadores
que saibam usar o corpo para proteger o gol e seus companheiros, mas
a verdade é que mesmo estes jogadores hoje precisam ter mais
do que força para conseguir vaga no time. É preciso ter
habilidade para ajudar em outros aspectos, e assim você vê
jogadores como Darren McCarty ou Claude Lemieux, que sempre partiram
para a briga, continuarem valorizados até hoje, porque adicionaram
a qualidade técnica a seu jogo, ajudando suas equipes com gols
e assistências.
Além disso, vale lembrar que a NHL hoje em dia está muito
mais incisiva quanto à violência no jogo, e, com isso,
as penalidades ocorrerão mais ainda enquanto os jogadores não
se conscientizarem que bater por bater pode ser prejudicial no final
da partida, em uma época onde as vantagens numéricas de
jogadores se tornam uma das grandes oportunidades que as equipes têm
para fazer os gols em um jogo onde falta espaço no gelo. Retaliar
uma ação ou agredir um adversário simplesmente
para motivar a equipe, coisas que muitas vezes passavam em branco pela
arbitragem, hoje em dia são punidas, e ninguém quer ver
seu time em desvantagem por uma tolice de um jogador que só quer
agredir para fazer valer sua força.
Mesmo alguns dos nomes citados acima, como Brashear e Barnaby, exemplos
que costumavam sair no tapa com o primeiro que aparecesse sem a menor
razão logo nos primeiros instantes de um jogo, ainda hoje conseguem
estar consolidados em suas equipes porque deixaram de ser simplesmente
agressores para serem também jogadores, que entendem mais o jogo
de hóquei em si e sabem os limites da violência. Outros,
como Georges Laraque ou Chris Simon, mostram que um pouco de habilidade
ofensiva pode fazer parte da vida de um intimidador e garantir-lhes
vaga na NHL. Outros, como Steve McKenna ou Scott Parker, que não
fazem nada além de brigar, correm o risco de sumir antes de você
terminar de ler esta matéria. Não é dizer que o
tempo do "Macho Man" acabou, é que apenas eles agora
jogam melhor. E quem não tiver mais a noção do
jogo hoje em dia tende a ter que figurar em equipes das ligas menores.
E se for daqueles então que mal conseguem patinar, vão
ficar relegados mesmo às academias de boxe. A NHL parece não
ter mais lugar para simples pugilistas.
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Marco Aurelio Lopes, 26 anos, é torcedor dos Penguins e
não entende como Steve McKenna está na equipe, já
que o cara, além de jogador limitado, não ganha nem
briga. |
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BRIGA OU TROCA DE CARÌCIAS?
Shane Hnidy (de branco), dos Senators, e Eric Boulton (de amarelo),
dos Bruins, engalfinham-se em mais uma briga na NHL. No entanto,
nada mais do que um agarrando o outro. As brigas têm sido
cada vez menos freqüentes na NHL, além de estarem com
um nível muito questionável (Jim ROgash/AP - 09/11/2002) |
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