Por
Marco Aurelio Lopes
No último dia 4, quatro celebridades do mundo da NHL alcançaram
a máxima honra que uma personalidade pode alcançar no
hóquei: a indicação para o Hall da Fama. Na cerimônia
realizada em Toronto, os ex-jogadores Rod Langway, Bernie Federko e
Clark Gillies, e o técnico Roger Neilson tiveram seus nomes imortalizados
na história do hóquei.
Aos 68 anos, Roger Neilson pode ser uma inspiração para
muitos em vários aspectos. Desde seu estilo inconfundível,
demostrado pela sua notória coleção de gravatas
que variam do sóbrio ao espalhafatoso , passando
pela sua genialidade como treinador, que iniciou na NHL em Toronto no
final dos anos 70, passando por Buffalo, Vancouver, New York Rangers,
Florida, Philadelphia e Ottawa, onde hoje atua como assistente técnico,
e o mais importante, a sua determinação em vencer o câncer
que insiste em atormentá-lo, luta esta que, inexplicavelmente,
parece ter sido a razão de seu afastamento do comando do Philadelphia
Flyers em 2000.
Muitos talvez não saibam, mas indiretamente Neilson influiu na
carreira de todos os jogadores de hóquei em qualquer parte. Afinal,
quando ainda era treinador de uma liga menor em Ontário, foi
ele que teve a idéia de gravar as partidas de sua equipe (o Peterborough
Petes) para analisá-las mais tarde e usá-las como ferramenta
de treinamento. Quando foi contratado pelos Maple Leafs, em 1977, ele
aproveitou a idéia e introduziu-a na NHL. Como se sabe, hoje
o vídeo é uma arma das equipes (que contam até
com técnicos específicos de videotape) para analisar seus
pontos fracos e fortes, além de estudar seus adversários,
e todos os jogadores passam horas assistindo aos vídeos dos jogos,
"culpa" de Roger Neilson.
Treinador com mil jogos disputados como técnico principal, Neilson
é, sobretudo, um motivador para seus jogadores, servindo como
fonte de inspiração. Um exemplo claro desta motivação
veio em 1982, quando seus Canucks disputavam a final do Oeste contra
os Blackhawks, e, após uma sucessão de penalidades marcadas
contra sua equipe, ele, em um misto de comédia e ironia, simplesmente
pegou um taco de um jogador e amarrou uma toalha branca em sua ponta,
como que criando uma bandeira branca, rendendo-se à arbitragem,
que considerava parcial para o time de Chicago. Na volta para Vancouver,
desde o piloto do avião até os torcedores no aeroporto
e os que foram ao estádio para os jogos finais da série
acenavam com suas toalhas brancas, como que abraçando a idéia
lançada por Neilson. Tal motivação fez com que
os Canucks chegassem à final da Stanley Cup, somente para ser
derrotados pelo New York Islanders.
Islanders este que teve seu quinto membro da dinastia dos anos 80 escolhido
para o Hall da Fama em Clark Gillies. Gillies era um dos jogadores mais
temidos daquele time, afinal combinava como poucos uma grande habilidade
ofensiva e um poder de intimidação e agressividade que
assustavam seus adversários. Gillies era o terceiro homem de
uma das mais famosas linhas da NHL, e uma das mais fortes de sua época.
Ao lado de Bryan Trottier e Mike Bossy (outros dois membros do Hall),
Gillies era o responsável pelo "serviço sujo"
do trio, encarregado de dar um toque físico à linha, enquanto
Trottier e Bossy faziam os gols, embora muitas vezes o próprio
Gillies os fizesse.
O ex-jogador, hoje com 48 anos, teve uma carreira brilhante, que culminou
com as quatro Stanley Cups dos Islanders entre 1980 e 1983. Ele jogou
até 1986 em Nova York e depois disputou mais duas temporadas
pelo Buffalo Sabres até se aposentar, em 1988. O asa esquerda
teve seis temporadas com 30 ou mais gols, totalizando 319 em sua carreira,
e teve ao todo 697 pontos; nada mal para um jogador conhecido por sua
agressividade, mas que hoje é um membro do Hall da Fama também
por ser um grande artilheiro.
Jogador com extremo senso de jogo, uma presença importante na
defesa, capaz de anular como poucos ataques adversários em situações
de um-contra-um, Rod Langway foi um defensor clássico, que usava
seu porte junto com uma grande inteligência para parar os oponentes
sem ser necessariamente um intimidador. Com sua habilidade, conseguia
contornar as situações de perigo e anulá-las com
precisão. Apesar de ter um chute forte, não era um defensor
que se apresentava muito ao ataque, tanto que em 15 temporadas, marcou
apenas 51 gols. Seu instinto era de defensor nato, um patrulheiro da
linha azul.
E foram justamente essas características que levaram Langway
a uma Stanley Cup com o Montreal Canadiens no seu primeiro ano na NHL,
em 1979 (onde jogava com o grande Larry Robinson, outro do Hall da Fama),
além de ser eleito duas vezes o melhor defensor da NHL, vencendo
o Troféu Norris, e tendo participado seguidamente de seis Jogos
das Estrelas. Sua carreira em Montreal estendeu-se até 1982,
de onde saiu para o Washington, jogando lá até 1993, onde
encerrou sua brilhante carreira de 994 jogos.
O último dos quatro selecionados para o Hall da Fama em 2002
talvez seja o menos conhecido por aqui. Um central com grande habilidade
e controle do disco, Bernie Federko era um grande jogador no um-contra-um
e tinha como principal característica a precisão nos passes.
Era um jogador que sabia muito bem como esperar o momento certo para
seus alas aparecerem para a finalização.
Ainda assim, ele também tinha faro para o gol e marcou 369 em
sua carreira de 13 temporadas em St. Louis, além de uma última
temporada em Detroit. E foi assim, por 14 anos, que Federko se estabeleceu
como uma ameaça para as defesas adversárias, inclusive
totalizando quatro temporadas com mais de cem pontos, culminando em
1988, quando atingiu seu milésimo ponto na NHL. Para completar,
foi o primeiro jogador da NHL a conseguir 50 assistências ou mais
em dez temporadas seguidas. Se não conseguiu conquistar a Stanley
Cup, ao menos seu brilhantismo o leva agora ao Hall da Fama.
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Marco Aurelio Lopes, 26 anos, é torcedor dos Penguins e
tem certeza de que um dia vai visitar o Hall da Fama. |
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HOMENAGEM No jogo entre Montreal
e Toronto, os capitães Saku Koivu (à esquerda) e Mats
Sundin (à direita) são observados pelos novos membros
do Hall da Fama Rod Langway, Clark Gillies, Roger Neilson e Bernie
Federko (Frank Gunn/CP - 02/11/2002) |
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