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13 de novembro de 2002
Por que existe goleiro reserva? O mundo seria tão mais surpreendente sem eles!

Por Humberto Fernandes

O que você faria se dentro de um jogo tivesse que ser emprestado ao time adversário e atuar por ele contra os seus próprios companheiros?

Pode parecer absurdo, mas aconteceu diversas vezes na história da NHL.

No passado, as equipes listavam apenas um goleiro para os jogos. Contavam com ele sempre saudável, do primeiro ao último minuto de jogo, mas, às vezes, imprevistos aconteciam e o goleiro se contundia.

O jogo não podia ser adiado ou encerrado sumariamente, e não havia goleiro reserva. Restava apenas uma opção: encontrar um substituto, fosse ele quem fosse. É neste momento que a história nos brinda com grandes acontecimentos. Destaque para duas lendas do hóquei, Ross Wilson e Lester Patrick.

Ross, falecido na última semana, foi treinador assistente do Detroit Red Wings durante 32 anos, de 1950 a 1982. Mas, no início de sua carreira, ele precisou ser mais que treinador. Como era de costume, os treinadores com experiência como goleiros eram usados como substitutos — em seu time ou contra ele. Ross, goleiro nos juniores e ligas inferiores, teve a distinção de jogar a favor e contra seu time, aparecendo em três jogos da NHL, dois contra os Red Wings.

Sua estréia aconteceu em 10 de outubro de 1953, quando substituiu Terry Sawchuk no terceiro período da derrota de 4-1 para o Montreal. Em 16 minutos, não sofreu nenhum gol. No dia 22 de janeiro de 1956, ele substituiu Harry Lumley no gol do Toronto e defendeu todos os chutes dos Wings nos últimos 13 minutos de jogo, embora eles tenham vencido por 4-1. Seu terceiro jogo foi em 29 de dezembro de 1957, substituindo o goleiro do Boston, Don Simmons, no primeiro período e atuando por 52 minutos, seu maior tempo. Este jogo resultou em seu primeiro e único gol sofrido, mas ele segurou os Wings a um empate em 2-2.

Lester construiu um vencedor de Stanley Cup em Nova York. Ele liderou os Rangers em três títulos, inclusive o de 1928. Um dos mais dramáticos eventos da NHL aconteceu no segundo jogo dessas finais. E lá estava Lester, treinador e gerente geral aos 44 anos.

Pela segunda vez em sua ilustre carreira, ele precisou ir para o gol em um jogo decisivo. O goleiro titular dos Rangers, Lorne Chabot, machucou-se no segundo período quando o taco de Nels Stewart o atingiu próximo ao olho esquerdo. Eddie Gerard, gerente do hoje extinto Montreal Maroons, não permitiu que o adversário usasse um goleiro reserva para Chabot, forçando Lester a jogar. O homem que dá nome a um dos prêmios mais importantes da NHL sofreu apenas um gol em 18 chutes e os Rangers venceram por 2-1 na prorrogação.

Curiosamente, outros dois de vários casos deste tipo também envolveram Red Wings e Rangers.

Julian Klymkiw destacou-se como um sólido goleiro amador em Manitoba e Ontário durante seus oito anos em times inferiores. No fim dos anos 50, ingressou nos Red Wings como treinador assistente e servia como goleiro nos treinamentos do time. Seus minutos de fama na NHL aconteceram em 12 de outubro de 1958, quando foi emprestado aos Rangers pela contusão do titular Gump Worsley no terceiro período. Os Wings venceram por 3-0.

Três anos e nove dias mais tarde, novamente por contusão de Worsley, os Wings emprestaram Dan John Olesevich — também treinador assistente e goleiro nos treinamentos — para os Rangers. Havia mais de dois anos em que ele apenas treinava e estava afastado do hóquei profissional, mas teve de atuar contra o próprio time. Em 29 minutos, sofreu apenas dois gols e ajudou os Rangers a empatarem em 4-4.

Enfim, estes são apenas alguns dos casos de que se há notícia. Imaginem se as regras da NHL não permitissem goleiro reserva até hoje? Treinadores, gerentes gerais e talvez até mesmo jogadores teriam que se passar por goleiros um dia! Em Detroit, talvez fosse Joey Kocur, um ex-enforcer, o escolhido. Em Phoenix, quem sabe Wayne Gretzky? É, realmente seria interessante se não existissem goleiros reservas!

Humberto Fernandes contou com ajuda indispensável do amigo Eduardo Costa na elaboração da pesquisa para este artigo.
ROSS "LEFTY" WILSON Além de membro dos Red Wings, foi, acima de tudo, um grande profissional. Ele faleceu na semana passada, aos 83 anos (Arquivo The Slot BR)
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Página publicada em 11 de novembro de 2002.