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13 de novembro de 2002
Regras da obstrução ainda têm provações para passar

Por Alexandre Giesbrecht

Qualquer pessoa pessimista quanto à permanência da rigidez da NHL contra a obstrução certamente deu um sorriso de canto de boca na última quarta-feira. Apenas duas penalidades foram apitadas na vitória do Florida Panthers, em casa, contra o Pittsburgh Penguins, sendo que uma delas na prorrogação.

Se os ábitros apitassem tudo que deveria ter sido apitado, seria absolutamente impossível ter apenas duas penalidades em mais de 62 minutos de hóquei. Foi fácil perceber que Paul Stewart e Dan O'Halloran estavam ignorado escandalosamente até as penalidades mais óbvias.

Cinco palavras se destacam na frase anterior: "Paul Stewart", "ignorando", "penalidades" e "óbvias". O ex-intimidador de ligas menores tem sido uma vergonha para a arbitragem desde o dia em que a NHL o permitiu vestir uma camisa listrada. Em poucas palavras, Stewart odeia apitar penalidades.

Stewart era patético como jogador. Ele não tinha técnica alguma. Como juiz, ele apenas observa com um sorriso amarelo na boca os jogadores menos técnicos algemarem as estrelas. Alguém como Stewart nunca conseguiu parar um talento superior como jogador. Mas quando ele apita, ah, Stewart consegue parar um Mario Lemieux apenas olhando para o outro lado.

Espero que o comissário da NHL, Gary Bettman, e o diretor de arbitragens Andy van Hellemond assistam à fita com o jogo de quarta e depois digam a Stewart e O'Halloran que tal arbitragem é simplesmente inaceitável.

O futuro da rigidez contra a obstrução — e, claro, o futuro do hóquei como alternativa de entretenimento viável nos EUA (depois no Brasil) — está em jogo até o final desta temporada. Fazia coisa de uma década que o hóquei da NHL não era tão divertido de se assistir. Para manter a boa fase do esporte, figuras como Stewart e O'Halloran devem ser colocadas em seus devidos lugares imediatamente. Avacalhar um jogo é avacalhar um jogo a mais do que deveriam.

Bettman e van Hellemond parecem comprometidos com a rigidez. Mas não há dúvida de que a coragem deles será testada na próxima vez que alguém levantar a Stanley Cup em triunfo. De acordo com o comentarista Bill Clement, da ESPN, nenhum time está fazendo lobby ativamente contra a rigidez, e isso é bom.

Mas a mídia esportiva canadense sempre tenta exercer alguma influência à força no mundo do hóquei, e a lábia que emana do "país do hóquei" (especialmente de Toronto) diz que a rigidez contra a obstrução está roubando do esporte a sua personalidade. Um colunista expressou pesar com o fato de um jogador como Tie Domi, o brutamontes do Toronto, está tendo um impacto menor no jogo. Que triste, concluiu o autor.

Na verdade, é triste saber que um batedor como Domi já teve um impacto no hóquei.

A rigidez contra a obstrução está devolvendo a ação ao esporte. Como conseqüência, isso vai acabar deixando o hóquei ser dominado por aqueles que merecidamente deveriam dominar. O problema é que nem todos esses jogadores serão canadenses. Daí a avalanche de blasfêmias canadense.

Não subestime a influência que a mídia canadense tem sobre o hóquei. E não pense que todas as franquias da NHL vão apoiar a rigidez indefinidamente. Quando o outono virar inverno por lá e os apuros de alguns times parecerem casos perdidos, esses time vão apelar a Bettman.

Se a rigidez contra a obstrução durar até o fim dos playoffs, vários dos grandalhões lentos da NHL eventualmente serão jogados na fila do desemprego. Muitos serão canadenses. Eles serão substituídos por jogadores mais rápidos nas mãos e nos patins. Muitos serão europeus.

Veremos como a velha guarda canadense lida com isso. Esse será o verdadeiro teste para Bettman.

Talvez eu esteja exagerando nos comentários sobre o jogo de quarta. Mas é que estou mesmo preocupado com o futuro do esporte. Muitas promessas para abrir o jogo foram quebradas. A queda de uma represa começa com um simples vazamento (ou você nunca assistiu a desenhos do Pica-Pau?). Na quarta-feira, podemos ter assistido a este primeiro vazamento. Espero que não.

Eu não acho que Bettman e van Hellemond vão jogar Stewart e O'Halloran na frente de um trem por causa daquele jogo, apesar de essa não ser uma má idéia. Eu não acho nem que Bettman e van Hellemond vão tornar esse assunto público.

Mas eu suponho que Stewart e/ou O'Halloran não vão voltar a ignorar tantas penalidades. Os juízes precisam ser responsáveis por seus atos. Precisa ser deixado claro que não é atributo do árbitro colocar seu estilo pessoal nos jogos que apita. Ninguém nunca comprou um ingresso para ver Paul Stewart, embora seja difícil convencê-lo disso.

As pessoas compram ingressos para ver Lemieux. E Jaromir Jagr. E Pavel Bure. E Sergei Fedorov.

Se permitirem às estrelas continuar brilhando, o número de pessoas que compram ingressos — e que o assistem na televisão — provavelmente vai crescer. E aqueles que assistem hóquei por causa dos trancos não ficarão desapontados. O hóquei ainda é um jogo físico. Trancos ainda são permitidos. Só não se pode obstruir o adversário.

Se Stewart e seus asseclas mutilarem mais jogos, afastem-nos. Se Stewart jogou fora seu livro de regras para colocar mais um retrato seu no lugar, afaste-o. Não pode ser tão difícil assim.

Alexandre Giesbrecht, publicitário, adorou o novo CD do Jerry Cantrell, que estava ouvindo ao escrever esta matéria. E odeia Paul Stewart há algum tempo (como disseram uma vez no SportsCenter, "Paul Stewart, calls it a goal anyway").
AGARRA-AGARRA Parece uma cena medieval, mas foi um exemplo do agarra-agarra que imperou entre os dois times na partida de quarta entre o Florida de Peter Worrell e o Pittsburgh de Marc Bergevin (Gary I. Rothstein/AP - 06/11/2002)
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Página publicada em 11 de novembro de 2002.