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16 de outubro de 2002
Giesbrecht: Como lidar com uma futura estrela

Por Alexandre Giesbrecht

Eu falei sobre Alexandre Daigle na semana passada. Um jogador que foi recrutado com a primeira escolha pelo Ottawa Senators em 1993 e nunca conseguiu mostrar na NHL o mesmo hóquei que o consagrou nas categorias de base. Aliás, decepções como Daigle não são nada incomuns por aí. Perguntem aos Rangers sobre Manny Malhotra. Perguntem aos Islanders sobre Roberto Luongo. Perguntem ao Lightning sobre Vincent Lecavalier.

Lecavalier ainda pode se recuperar, mas a cada dia que passa é menos provável que seja em Tampa Bay. Também recrutado com a primeira escolha, ele foi nomeado capitão do time aos 19 anos e chamado de "Michael Jordan do hóquei" pelo antigo dono do Lightning antes mesmo de disputar sua primeira partida. Quatro anos depois, ele só mostrou alguns flashes da promessa que ele um dia foi.

Os times acabam cedendo à tentação de transformar suas futuras estrelas em estrelas de hoje. Eles ganham o C de capitão, toneladas de tempo no gelo, e até campanhas de marketing são centradas neles. Tudo isso antes mesmo de eles derramarem uma gota de suor num uniforme da NHL. Claro que as probabilidades de isso dar errado não são pequenas, e esses jovens acabam de desintegrando com o pesos de expectativas que simplesmente não são realistas.

O Minnesota Wild também tem suas tentações. Por que eles também não dariam a Marian Gaborik, seu garoto de ouro, as chaves do clube? Gaborik tem muito talento, além do tamanho e da inteligência que costumam ter grandes jogadores. Ele é o tipo de jogador que os times sonham em pôr as mãos, o tipo de jogador que pode ser a pedra fundamental de uma equipe vitoriosa. Ele é bom assim.

Mas ele também pode ser classificado como: um jogador de 22 anos prestes a disputar sua terceira temporada na NHL. E esse é o motivo por que o técnico Jacques Lemaire se recusa a colocar todos os ovos no cesto de Gaborik. Quer um exemplo? O Wild escolheu um capitão para o mês de outubro, e não foi Gaborik. Ele também não vai ser o capitão em novembro, em dezembro nem em qualquer outro mês desta temporada. Outro exemplo? Na pré-temporada Gaborik fazia parte da equipe de desvantagem numérica. Com os jogos que contam começados, não espere mais vê-lo matando penalidades.

Por quê? Porque Lemaire não acredita que Gaborik esteja preparado para a responsabilidade que ser um capitão requer ou que tenha experiência o suficiente para matar penalidades. E nem deveria, segundo Lemaire, já que ele ainda é um jovem, mesmo que tenha marcado 30 gols e 67 pontos na temporada passada.

Alguns críticos acham que os Thrashers estão lidando de forma errada com seus projetos de estrela Ilya Kovalchuk e Dany Heatley, por mais talentosos que eles sejam, ao deixá-los fazer praticamente o que eles quiserem. O Wild parece estar lidando do jeito correto. Ao mesmo tempo em que ele já é um grande jogador, ele ainda está aprendendo. Ele precisa cuidar do seu próprio jogo primeiro e não pode fazer isso se toda a responsabilidade for jogada sobre seus ombros.

Talvez um bom exemplo de como se deve fazer seja Joe Thornton, do Boston. Recrutado com a primeira escolha em 1997, ele foi sendo trazido para o time de cima lentamente, mesmo com os Bruins precisando subir na classificação e sendo pressionados pela torcida. Ele jogou apenas 55 jogos em sua temporada como novato e marcou apenas três gols. Mas, ano a ano, ele melhorou até chegar ao ponto onde está hoje: um dos melhores atacantes do hóquei.

Lemaire costuma dizer "Você não pode simplesmente decidir que 'OK, o time agora é todo Marian'". Gaborik está preparado para assumir papéis maiores. Ele quer matar penalidades. Ele quer ficar no gelo por dois minutos nas vantagens numéricas. Ele quer jogar 30 minutos por jogo. Ainda assim, ele entende por que Lemaire se recusa a soltar as amarras e até virou adepto da filosofia de seu técnico.

"Eu não vou sair dizendo 'tenho de marcar tantos gols ou tantos pontos'. E não vou me preocupar com quantos gols eu tenho. Sei que minha função é trabalhar duro e, se eu fizer isso, as chances vão aparecer, os gols e as assistências vão aparecer. Mas tenho de trabalhar duro", diz Gaborik.

Essa parece ser a filosofia certa. Eventualmente, se as coisas saírem como o esperado, Gaborik vai se tornar o craque do Wild. Mas isso irá acontecer apenas se ele o merecer. Não porque falaram que iria acontecer.

Alexandre Giesbrecht, publicitário, espera que os Penguins saibam lidar com suas futuras estrelas, como Konstantin Koltsov, Brooks Orpik, Colby Armstrong e Ryan Whitney.
FORÇA NO ATAQUE Gaborik acerta a trave de John Grahame, do Boston (Paul Battaglia/AP - 11/10/2002)
 
FICHA

Marian Gaborik
Nascido: 14/fevereiro/1982
Local: Trencin, Eslováquia
Altura: 1,83 m
Peso: 87,5 kg

CARREIRA
  J G A P Min
00-01 MIN 71 18 18 36 32
01-02 MIN 78 30 37 67 34
02-03 MIN 2 0 2 2 0
TOTAL 151 48 57 105 66
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Página publicada em 14 de outubro de 2002.