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9 de outubro de 2002
Rafael: Os vários pontos de vista de uma mesma troca

Por Rafael Roberto

Demorou algum tempo para que os torcedores do Colorado Avalanche assimilassem a troca. Primeiro porque esta não é a época em que Pierre Lacroix (gerente geral e presidente do Colorado Avalanche) comumente faz suas grandes trocas, e, segundo, porque um dos jogadores favoritos da torcida de Denver está indo para o Canadá.

Na segunda grande troca do Avalanche com o Calgary Flames em quatro anos, Chris Drury e Stephane Yelle foram para o time canadense, em troca de Derek Morris, Dean McAmmond e Jeff Shantz.

Há algumas semanas surgiram rumores de que Morris poderia ir para Denver. Os especuladores diziam que o Avalanche poderia usar Yelle numa troca, já que ele se tornou um jogador "dispensável" com a ascensão de Brad Larsen e Riku Hahl, além da consistência de Dan Hinote, que também pode jogar defensivamente, consegue dar trancos e, como diferencial, é mais produtivo ofensivamente. Yelle provavelmente iria ficar desprotegido no Recrutamento de Desistência e, para não perdê-lo a troco de nada, Lacroix iria trocá-lo, junto com uma jovem promessa ofensiva, por uma promessa defensiva, já que jovens atacantes com potencial são mais fáceis de achar que jovens defensores com potencial.

Lacroix ficou relutante em mandar Drury, mas, depois de semanas de negociação, os dois gerentes gerais finalmente chegaram a um acordo, envolvendo um grande central e um defensor que sabe, além de defender, levar o disco para os atacantes e auxiliar a equipe de vantagem numérica.

O novo Bourque? -- Pelo menos em teoria, ele chega a Colorado para preencher a vaga que Ray Bourque deixou ao se aposentar. Desde que Ray se aposentou o Avalanche vem falhando em conseguir um defensor para dar estabilidade ao setor defensivo.

Lacroix adquiriu Dairus Kasparaitis em março, mas não fez esforços para mantê-lo em Denver, porque era um jogador que não auxiliava o ataque, além de não ter rendido o mínimo esperado.

A relação de Morris com a diretoria do Calgary estava abalada devido a um problema contratual, quando as duas partes não conseguiam assinar um acordo, fazendo com que Morris chegasse a perder 31 jogos há duas temporadas, antes de assinar um acordo de US$ 5 milhões por três temporadas. Na ultima temporada, uma contusão no pulso limitou-o a 61 jogos, quatro gols e 30 assistências, além de deixá-lo de fora do time olímpico canadense.

Saudável novamente, Morris se diz pronto para jogar com Rob Blake ou Adam Foote. Na pré-temporada, ele disse a um jornal de Calgary que sua meta, para esta temporada, era marcar mais de 50 pontos e que se encontrava nas melhores condições de sua carreira.

A surpresa -- Drury não tinha idéia que iria para Calgary, já que seu nome não foi falado nos rumores. "Quando você ouve seu nome nos rumores é porque você não vai a canto nenhum, mas quando você não ouve eu acho que é aí que você deve ficar nervoso. Eu sabia que eles queriam pegar Morris [...]. Na mente de qualquer jogador há a possibilidade de ser trocado, mas isso não alivia o choque da troca", disse Drury.

Recrutado pelo Quebec Nordiques um ano antes da ida da franquia para o Colorado, Drury tinha motivos para ficar chocado com a troca. Era um jovem talento criado desde cedo para ser um jogador do Avalanche. Foi o novato do ano em 1999, foi fundamental na conquista do título em 2001 e é um vitorioso nato. "Drury já nasceu vencendo", elogia Craig Button, gerente geral dos Flames. A carreira vitoriosa dele ainda se completa com uma medalha de prata nas olimpíadas de inverno, um título da NCAA e o prêmio de melhor jogador universitário dos Estados Unidos.

Porém Drury falou que a mudança foi boa. Ele viu seu tempo em vantagem numérica cair drasticamente na ultima temporada. Com a volta de Peter Forsberg ao time e Vaclav Nedorost evoluindo mais que qualquer jogador nesta pré-temporada, Drury provavelmente perderia mais tempo no gelo. Agora ele deverá jogar na principal linha do Calgary, talvez venha a ser o principal jogador do time e não terá mais Joe Sakic ou Forsberg para ofuscar seu brilho.

Os outros caras -- McAmmond é praticamente um nômade. É sua quinta troca desde 1993. Recrutado pelo Chicago Blackhawks, ele já jogou no Edmonton Oilers, Philadelphia Flyers, Flames e, agora, chega ao Colorado. "Acho que todo mundo quer um pedaço de mim", brincou ele com a troca. Suas várias transferências não o impediram de ser produtivo. Jogando como ponta esquerda na principal linha dos Flames, ele marcou 51 pontos (20 gols e 31 assistências), um recorde pessoal. Provavelmente ele ficará com o lugar que Drury deixou na segunda linha.

Shantz perdeu 32 jogos na temporada passada por causa de uma contusão no joelho. Em seus 40 jogos, ele marcou apenas seis pontos (três gols e três assistências). Mesmo tendo as mesmas características que Yelle, Shantz não deve ficar com seu lugar na terceira linha. Também pode ser considerado um jogador dispensável para o Avalanche, tanto que não esta protegido no Recrutamento de Desistência e pode sair do time antes de estrear e, pior, por nada.

As semelhanças -- Esta foi a troca mais arriscada que Lacroix fez desde que trocou Owen Nolan por Sandis Ozolinsh em 1995. Esta troca de sete anos atrás é bem similar à mais recente, já que o Avalanche estava desesperado atrás de um jovem zagueiro de alta qualidade e estaria disposto mandar um bom jogador por ele.

Fora as semelhanças com o passado, Drury e Morris, principais figuras desta troca, possuem alguns pontos em comum: ambos têm vinte e poucos anos, lutam para se firmar como jogadores de ponta em suas posições, ganham US$ 2,5 milhões e tiveram problemas para renovar seus contratos com os antigos times no passado.

Drury foi um dos melhores e mais importantes jogadores do Avalanche nas ultimas temporadas, mas nunca foi um atleta inegociável. Morris é um híbrido dos zagueiros modernos, defende bem e ainda apóia o ataque, principalmente em vantagem numérica.

Independente de como Morris jogue, se o Colorado chegar aos playoffs e descobrir que as grandes atuações de Drury são insubstituíveis e, ainda por cima, continuar perdendo jogos por 2-1, esta troca terá sido uma tragédia para o time de Denver, pelo menos a curto prazo.

Comparando mais uma vez com troca de 1995, a ausência de Nolan foi suprida pelas subidas-surpresa de Ozolinsh, que também contribuiu muito na defesa, e pela renovação ofensiva do Colorado. A troca funcionou tanto para o Avalanche, que conseguiu seu primeiro título, como para o San Jose Sharks, que ainda possui este grande jogador em seu time.

Drury provavelmente vai voltar a jogar como central em Calgary, posição que ele tanto almejava jogar em Denver, mas não podia. Deve atuar na primeira linha, com Jarome Iginla e desta união pode sair uma das maiores parcerias da NHL.

Agora que o Avalanche deve conseguir a mesma renovação ofensiva de 1995, deve ter a mesma esperança que Lacroix tem em seus garotos e, se eles não corresponderem o esperado, pode ser um tchau, tchau para uma nova Stanley Cup.

Rafael Roberto é um dos novos contratados da equipe Slot que estréia nesta edição.
 
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Página publicada em 7 de outubro de 2002.