Por
Alexandre Giesbrecht
Quando descobri que Alexandre Daigle iria tentar a sorte na pré-temporada
do San Jose Sharks, não dei muita bola. Ele iria provavelmente
mostrar alguma coisa de útil, contribuir com uns dez gols na
temporada e, aos poucos, ir sumindo novamente.
Quando descobri que ele havia desistido dos Sharks em favor dos Pensguins,
passei a dar mais atenção ao caso. Claro, torcendo para
os Pens, eu teria até de ter esperanças de que Daigle
pudesse trazer de volta todo o fogo que ele costumava mostrar nas categorias
inferiores. De qualquer forma, não parecia muito provável.
Em agosto, Ted Montgomery, colunista do jornal USA Today, demonstrava
toda a sua descrença no sucesso de Daigle: "Existe um desperdício
maior de talento que Daigle? Um aviso à torcida dos Penguins:
se acham que ele vai colocar os patins e fazer a diferença ficarão
desapontados. Ele é preguiçoso e não consegue manter
a forma, podendo sumir antes do Natal". Desanimador, não?
Mas o que se viu assim que os Pens abriram a pré-temporada foi
um Daigle faminto, que aparentemente redescobriu sua paixão pelo
hóquei. Ele ficou de fora do esporte por duas temporadas, porque
estava desiludido. Montou sua empresa em Hollywood e tocou seus negócios
até sentir uma chama reacender. A mesma chama que foi-se apagando
aos poucos depois de ele ser a primeira escolha do recrutamento de 1993.
Tido como o "salvador da pátria" no Ottawa Senators,
time que batia seguidos recordes negativos na liga, até conseguiu
mostrar uma produção tímida, mas nunca chegando
sequer perto de seu potencial. O assédio constante da imprensa
canadense também não ajudava em nada. Depois de peregrinar
por Flyers, Lightning e Rangers, desistiu de vez.
Agora ressurge para tentar ajudar os Penguins a voltar aos playoffs.
Não era muito fácil apostar nele, e ele sabia disso: com
o excesso de jogadores no elenco, entre veteranos experimentados e jovens
promessas a ponto de explodir, Daigle sabia que somente uma atuação
excepcional garantiria a ele uma vaga no time, talvez sua última
chance de provar seu valor na NHL.
Nos primeiros treinamentos, ele mostrou que não perdeu a velocidade
que sempre lhe foi característica. Chegaram os jogos e ele mostrou
um toque de artilheiro até então inédito na sua
carreira, marcando seis pontos (três gols e três assistências)
nos quatro jogos que disputou, ficando atrás apenas do seu colega
de linha Randy Robitaille na artilharia do time na pré-temporada.
Mesmo antes de finalizar esta atuação nos preparativos
para a temporada, já era praticamente certo que ele assinaria
contrato com os Penguins. Ele teve a atuação excepcional
de que precisava, ao contrário de Alexander Selivanov, outro
veterando que tentou voltar na pré-temporada dos Pens, mas, ao
contrário de Daigle, acabou não conseguindo.
Desta vez, Daigle ficou com um salário modesto, ainda mais se
comparado com os US$ 12,5 milhões que ele ganhou nos seus primeiros
cinco anos em Ottawa. Agora são "apenas" US$ 650 mil,
mas com incentivos que podem fazer seus ganhos chegar aos US$ 2 milhões.
O contrato é válido por apenas um ano, o que deve ser
bom para ambas as partes, já que pressiona o jogador a produzir
a contento.
Numa linha que provavelmente contará ainda com a estrela Alexei
Kovalev e a surpresa Robitaille, ele não terá a obrigação
de pontuar com freqüência, mas também não poderá
se dar ao luxo de ficar de fora das fichas técnicas de jogos
muitas vezes. De qualquer forma, ele espera voltar à sua melhor
forma em cerca de dois meses. "Isso foi o que o Mario [Lemieux]
me falou. É outra coisa jogar nos jogos de verdade. [Na pré-temporada]
não jogamos contra equipes completas. É um nível
diferente", explica Daigle.
Ele está otimista para os "jogos de verdade". Tão
otimista que ele tem de puxar pela memória para saber quando
foi a última vez que se divertiu tanto com seu trabalho. "Divertir-me
assim? Há uns dez anos, porque a NHL era uma coisa diferente
para mim. (...) [Estar em] um time de expansão, você perde
toda hora e não é muito gostoso".
Claro, isso não prova que Montgomery estava errado em sua previsão,
que vai até o Natal, mas é um belo primeiro passo.
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Alexandre Giesbrecht, publicitário, tem um anuário
de The Hockey News de antes da temporada 1993-94. Quando este anuário
tinha capa, era Daigle quem aparecia nela, de terno e gravata. |
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ALEXANDRE DAIGLE Muitos dizem
que ele não vai conseguir, mas o que ele mostrou tem tudo
para provar que os críticos estão errados (James M.
Kubus/Pittsburgh Tribune-Review - 16/09/2002) |
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FICHA |
Alexandre Daigle
Nascido: 7/fevereiro/1975
Local: Montreal, PQ
Altura: 1,83 m
Peso: 92 kg |
CARREIRA |
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J |
G |
A |
P |
Min |
93-94 OTW |
84 |
20 |
31 |
51 |
40 |
94-95 OTW |
47 |
16 |
21 |
37 |
14 |
95-96 OTW |
50 |
5 |
12 |
17 |
24 |
96-97 OTW |
82 |
26 |
25 |
51 |
33 |
97-98 OTW |
38 |
7 |
9 |
16 |
8 |
97-98 PHI |
37 |
9 |
17 |
26 |
6 |
98-99 PHI |
31 |
3 |
2 |
5 |
2 |
98-99 TAM |
32 |
6 |
6 |
12 |
2 |
99-00 NYR |
58 |
8 |
18 |
26 |
23 |
TOTAL |
459 |
100 |
141 |
241 |
152 |
|
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