Por: Alexandre Giesbrecht

Não eram apenas as cadeiras do Prudential Center que estavam bem vazias — o público anunciado de 12.880 pagantes, quase 5 mil pessoas a menos que a capacidade do estádio, era bem menor do que o número de torcedores presentes. O banco do time da casa também estava bem mais vazio que de costume para receber os Penguins na noite de segunda-feira. A folha de pagamento atual dos Devils, perigosamente próxima do teto, não permitiu que o gerente geral Lou Lamoriello substituísse no elenco dois jogadores contundidos (Brian Rolston e Anton Volchenkov) e um suspenso (Pierre-Luc Letourneau-Leblond), e o time foi obrigado a jogar com apenas quinze jogadores na linha, três a menos que o normal. O clube iniciara a temporada com um elenco de 20 jogadores, sem margem para nenhuma adição. "Isso significou que havia espaço quase suficiente no banco [dos Devils] para acomodar a pequena torcida que compareceu ao Prudential Center", escreveu Dave Molinari, repórter do jornal Pittsburgh Post-Gazette, em seu relato da partida. Já o SBNation comparou as condições da partida ao filme Rollerball, de 1975.

A ficha técnica do jogo traz três linhas vazias na seção com as estatísticas individuais do time de New Jersey. À exceção dos defensores Alexander Urbom, que ficou no gelo 11 minutos e 42 segundos, e Mark Fraser (15:52) ninguém de vermelho jogou menos que os 16 minutos e 24 segundos de Jason Arnott. A média no gelo dos jogadores de linha dos Devils foi de 19 minutos e 17 segundos (contra 16:27 dos Penguins), e só não foi maior porque os Devils cometeram seis penalidades. Como os Penguins converteram em uma das vantagens numéricas resultantes, mas a um segundo de esta expirar, isso significa que, se não tivessem cometido nenhuma penalidade, os Devils poderiam facilmente ter uma média de 20 minutos no gelo.

Como não poderia deixar de ser, os Penguins aproveitaram-se da desvantagem numérica surreal de seu adversário e forçaram o ritmo desde o primeiro instante, especialmente nos dois primeiros períodos, quando o jogo ficou concentrado no gelo dos Devils durante boa parte do tempo. "Foi muito estranho ver apenas três linhas [na escalação adversária] antes do jogo", contou Alex Goligoski, defensor dos Pens. "Percebemos ali que tínhamos de fazer com que eles dessem mais duro. Definitivamente, estávamos cientes [da situação deles]." Já no último período ficou bastante difícil perceber qual era o time com menos jogadores no banco, porque os Devils deram 15 chutes a gol contra 8 do adversário, àquela altura com um jogador a menos no banco, devido à contusão do defensor Zbynek Michalek no segundo período. "Nós definitivamente nos apertamos no terceiro período, quando eles marcaram um gol e passaram a pressionar", analisou o defensor Paul Martin, dos Penguins, que até a temporada passada defendia as cores do adversário. "Com cinco defensores, fizemos um bom trabalho ao manter os turnos curtos e jogar de maneira inteligente com o disco."

O placar final de 3-1 deu ao time de Sidney Crosby a primeira vitória da temporada e a primeira vitória em New Jersey desde dezembro de 2008 — aliás, a primeira vitória sobre os Devils desde 2008-09, porque os Penguins foram varridos nos seis confrontos da última temporada regular. Patrik Elias, atacante dos Devils, minimizou o problema: “Foi um pouco diferente. Mas não foi problema nenhum. Não é como se fosse o 80.º jogo da temporada ou coisa parecida. Era o nosso terceiro jogo. Ninguém ficou no gelo muito tempo seguido." O técnico John MacLean também recusou-se a usar o número de jogadores disponíveis como desculpa para a derrota. "Não usamos desculpas", disparou o técnico. "Tivemos um número suficiente de jogadores para competir. Só precisávamos ter jogado melhor."

Todas as ausências foram causadas em lances separados na goleada sofrida diante dos Capitals por 7-2 dois dias antes. Volchenkov contundiu-se ao bloquear um chute de Nicklas Backström com o rosto (amortecido pelo visor, ainda causou um belo estrago em seu nariz), Rolston teve uma "contusão na parte de baixo do corpo" em um lance não especificado e o novato Letourneau-Leblond ganhou uma suspensão automática por ser o causador de uma briga a menos de cinco minutos do fim do tempo normal. Não deixa de ser irônico que Rolston seja um dos principais causadores da confusão salarial que está assolando os Devils: sua cota perante o teto é de US$ 5 milhões, um absurdo para um jogador que assinou contrato aos 35 anos, contrato este que será um fardo para os Devils até o final da próxima temporada.

É possível que Letourneau-Leblond nunca mais volte a vestir a camisa dos Devils. Sua suspensão já não seria das mais inteligentes se ele desconhecesse a regra que causou sua suspensão. Mas em uma entrevista após a partida ele admitiu que tinha, sim, conhecimento da regra, mas ainda assim optou por desafiar um adversário que não tinha o menor interesse em trocar socos. A escaramuça ocorreu a 4:11 do final. Na versão de Marcus Johannson, dos Capitals, seu adversário perguntou-lhe se queria brigar, e sua resposta foi simplesmente "Não". Letourneau-Leblond em seguida deu uma tacada em Johannson, que foi defendido por John Carlson. Letourneau-Leblond foi colocado na desistência, passou e foi designado para o Albany Devils, sem nenhuma perspectiva de volta, ao menos no curto prazo, apesar de Lamoriello ter insistido que o rebaixamento do jogador nada teve a ver com sua atuação contra os Caps.

Com o pequeno espaço criado sob o teto salarial após a saída do novato, os Devils assinaram contrato com o veterano Adam Mair, que se não é um craque, permitiu ao time jogar com "apenas" dois a menos contra os Sabres na quarta-feira — vitória por 1-0 na prorrogação. Nessa mesma quarta Rolston foi colocado na lista de contundidos de longo prazo para recuperar-se de uma operação realizada no dia seguinte, para tratar sua pubalgia. Embora não a tempo de resolver o problema numérico em Buffalo, isso permitiu ao time ultrapassar o teto salarial até o valor da cota do jogador ao longo das quatro a seis semanas que ele ficará de fora. Os US$ 5 milhões foram mais que suficientes para chamar três jogadores do time de baixo: os centrais Tim Sesito e Jacob Josefson, e o defensor Matt Corrente. Não dá para contratar algum jogador sem contrato, porque quando Rolston voltar sua cota contra o teto voltará a tiracolo.

Alexandre Giesbrecht, 34 anos, presta uma última homenagem a João Areosa, repórter de Placar nos anos 1970, falecido na última semana.
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Página publicada em 17 de outubro de 2010.