Por: Fábio Monteiro

Compatibilizando o sonho do lendário Faraó, que viu vacas magras devorando vacas gordas, o recrutamento da NHL — e de algumas outras ligas menores dos EUA — tenta dar algum equilíbrio à competição, colocando futuros astros em times que tiveram um passado recente tenebroso. Basta ver os campeões dos dois últimos anos para saber que a fórmula funciona. Contudo, é importante frisar que os jogadores selecionados não necessariamente já disputarão partidas pelos times que os recrutaram. Fica a critério de cada equipe a decisão de colocar os garotos no gelo ou esperar um pouco mais pelo amadurecimento das jovens revelações.

Fizemos um breve perfil dos dez primeiros jogadores escolhidos no recrutamento deste ano. Afinal, não é surpresa se algum deles já conseguir destaque na atual temporada.

Taylor Hall
A escolha número um do recrutamento nasceu na cidade de Calgary, no Canadá e tem 19 anos. É atacante (ponta esquerda) e foi escolhido pelo Edmonton Oilers.

No recrutamento da Ontario Hockey League (OHL) de 2007, Hall foi a segunda escolha geral, saindo logo após Ryan O'Reilly, atualmente no Colorado Avalanche. Naquele ano, Hall foi escolhido como o melhor calouro da temporada, com 45 gols em 63 jogos. Seu antigo treinador no Windsor Spitfires, Bob Boughner, diz que Hall é um jogador destemido na hora da decisão. "Ele me faz lembrar Pavel Bure," diz. Na sua despedida da OHL, o jovem canadense liderou o time nos playoffs com 35 pontos em 19 jogos da fase final. Também foi líder em assistências e um dos líderes em pontos da temporada regular (106 em 57 jogos), faturando o bicampeonato com os Spitfires.

No lado pessoal, Hall tem como jogador favorito da NHL Sidney Crosby, gosta do filme "Avatar" e do seriado "Friends", se amarra em cozinhar e curte uma lasanha.

Tyler Seguin
O jovem central canadense de 18 anos foi a segunda escolha geral do recrutamento. Começou no hóquei por influência de seu pai, que jogou na faculdade com ninguém menos que John LeClair. Hoje, Seguin é a mais nova promessa do Boston Bruins.

Seguin tem alguma história nas categorias de base da seleção do Canadá de hóquei. Em 2009, liderou o "Team Ontario" no mundial sub-17, sendo o segundo melhor pontuador, com 11 pontos em seis jogos. Em 2010, foi escolhido como melhor jogador da temporada da OHL. Quando jogou no Plymouth Whalers, deixou boas lembranças ao treinador Mike Vellucci. "Não me surpreende ele ser um grande jogador, me surpreende a vontade e a determinação que ele tem para ser isso. Ele nunca para de se movimentar no gelo, mesmo nos treinamentos. Ele sempre tenta se superar".

Seguin tem como ídolo de infância Steve Yzerman, seu jogador favorito da NHL é Henrik Zetterberg, passaria horas jogando "Call of Duty" e acha que o filme mais sensacional de todos os tempos é "Miracle".

Erik Gudbranson
Nascido em 7 de janeiro de 1992, o defensor canadense é o novo calouro do Florida Panthers. Ele aprecia hóquei desde os cinco anos de idade, quando ia assistir aos jogos com seu pai, e assim deu os primeiros passos no esporte.

Além de ser uma promessa na defesa, Erik Gudbranson também é conhecido por ser um nerd/cdf/inteligente-pra-cacete. Venceu inclusive o troféu de "jogador que tem melhor desempenho no esporte e excelência acadêmica". Perto disso, os títulos com a seleção canadense sub-18 de hóquei não merecem destaque relevante. Na última temporada, Gudbranson viveu tempos de altos e baixos. Jogou apenas 41 jogos e passou 68 minutos no banco de penalidades. Segundo a avaliação dos observadores da NHL, Gudbranson é uma espécie de Chris Pronger mais safarreiro. Para quem gosta de brigas no gelo, o defensor é um prato cheio.

Mas os dons de Gudbranson não se resumem apenas ao hóquei e à pancadaria. Ele também curte o universo dos instrumentos musicais, onde toca saxofone e bateria, além de arranhar alguma coisa na guitarra. Gudbranson também aprecia golfe e beisebol, torce para o Montreal Canadiens, admira Shea Weber e Dion Phaneuf, é fã do Adam Sandler e se distrai assistindo a "Two and a Half Men" e "Family Guy".

Ryan Johansen
O central de 18 anos foi recrutado pelo último colocado da Divisão Central na temporada passada, o Columbus Blue Jackets. Mais um integrante da trupe canadense de jovens promissores, Johansen era apenas um magrelo de 1,77 m e 68 Kg quando jogava nas categorias de base até 14 anos. Deu uma espichada e hoje tem respeitáveis 1,86 m e 87 Kg.

Quem já viu o garoto jogar acredita que ele tem uma visão de jogo diferenciada, pois sabe usar seu físico não apenas para atacar com qualidade, mas também para marcar e dar um tranco mais duro. É considerado um coringa nas equipes especiais e também é hábil nos faceoffs.

No mais, ele gosta do San Jose Sharks, admira muito o Joe Thorton — a ponto de passar horas assistindo aos seus gols —, se anima ouvindo DJ Tiesto e é fã da bela atriz Jessica Alba.

Nino Niederreiter
O New York Islanders recrutou o ala direito suíço — o primeiro jogador nascido fora do Canadá a ser escolhido. Com 18 anos, Niederreiter começou a jogar hóquei em Chur, cidade com pouco mais de 30 mil habitantes, situada na parte norte do condado de Graubünden. Incentivado por um amigo de infância, começou a praticar quando tinha apenas seis anos. Passou nove anos jogando nas ligas de base da Suíça e passou outras três temporadas no HC Davos, antes de vir para o continente americano.

Seus 1,88 m e 90 Kg fazem de Niederreiter um legítimo atacante físico, que sabe se impor no meio de defensores grandalhões. Seu posicionamento é frequentemente elogiado por observadores e treinadores. O suíço também é lembrado por ser eficiente em disputas nas bordas. Além do bom chute, Niederreiter tem também um ótimo passe. Seus 68 pontos em 65 jogos da última temporada da Western Hockey League (WHL) reforçam essa análise.

Longe dos rinques, Niederreiter se amarra em jogar boliche e sair com os amigos, não abre mão de uma torrada com Nutella e tem como herói o tenista compatriota Roger Federer.

Brett Connolly
O atacante canadense Brett Connolly é natural da Colúmbia Britânica, tem 18 primaveras (?) de vida e é o novo calouro do Tampa Bay Lightning. Aos três anos de idade, seus pais lhe ensinaram a dar umas patinadas no gelo e aos cinco anos já jogava partidas com os fraldinhas do Port Hardy Lions.

O atacante cresceu fascinado pelos movimentos e gols de Paul Kariya. "Eu era um grande fã dos Ducks na minha infância. Minha primeira camisa de time da NHL foi desse time," lembra. Goleador nato, Connolly foi o primeiro atacante de 16 anos a marcar 30 gols na WHL desde Patrick Marleau, recorde mantido por 15 anos e batido por ele em 2008-09, conquistando o prêmio de calouro do ano na liga júnior. Na temporada seguinte, jogou apenas 16 jogos, devido a uma lesão no quadril. Mesmo sem poder mostrar muito serviço nos últimos meses, foi a sexta escolha no recrutamento da liga.

E para quem quer saber um pouco mais de Connolly, ele é fã de Sidney Crosby e do Pittsburgh Penguins, gosta de enganar o goleiro nos pênaltis com um chute falso, adora o desenho "Os Simpsons" e gosta de ovos no café da manhã.

Jeff Skinner
Mais um atacante canadense entre os dez mais do recrutamento, Skinner foi a escolha feita pelo Carolina Hurricanes.

Seus 1,78 m de altura e 84 Kg podem passar a impressão de que o prospecto do Canes não aguentaria um tranco bem dado por algum defensor mais grandalhão. Jeff tenta compensar a sua evidente falta de tamanho com uma precisão incrível de chutes. E mesmo com a desvantagem física, o canadense é lembrado por ter uma boa técnica na proteção do disco. Alguns analistas acreditam que ele ainda não tem um físico preparado para a NHL, mas não entendem como o canadense foi apenas a sétima escolha geral — para os mesmos analistas, Skinner deveria ter sido escolhido entre os três primeiros do recrutamento. Se os observadores estiverem certos, os Canes escolheram muito bem o novo pupilo.

Skinner admira a equipe do Toronto Maple Leafs e se impressiona com Sidney Crosby. Mata o tempo assistindo a bobagens no Youtube, se empolga ouvindo "We will rock you" do Queen e gosta de futebol.

Alexander Burmistrov
O russo de 19 anos atraiu os olhares dos observadores do Atlanta Trashers. O atacante de 1,80 m e 75 Kg nasceu em Kazan, a sexta maior cidade Rússia e joga atualmente na Ontario Hockey League (OHL).

Fato curioso de Burmistrov é o respeito às suas origens. Tamanha é sua admiração pelos compatriotas que ele usa a camisa número 8 em homenagem ao "professor" Igor Larionov, ídolo de Burmistrov desde a mais tenra idade. Ademais, o calouro russo é conhecido por ser um jogador que voa no gelo, com boa visão de jogo e bons passes.

Burmistrov simpatiza com o Detroit Red Wings, tenta se espelhar em Pavel Datsyuk, tem como filme favorido "O Gladiador" e curte também uma bela peleja no futebol.

Mikael Granlund
Com dois anos de idade, o finlandês Mikael Granlund aprendeu a andar e a patinar no gelo ao mesmo tempo. A precocidade foi além: aos cinco já treinava alguns passes e chutes. Granlund credita boa parte do seu sucesso ao apoio da família, que sempre o incentivou no esporte. Hoje, aos 18 anos, o central é a futura esperança de gols do Minnesota Wild.

No mundial sub-18 desse ano, Granlund ajudou a seleção finlandesa na conquista da medalha de bronze, liderando em número de assistências (nove em seis jogos). Na primeira temporada da principal liga de seu país, ele marcou praticamente um ponto por jogo (40 em 43 partidas). Uma síntese de Mikael Granlund, feita pelo diretor de observação de novos talentos europeus da NHL, Goran Stubb: "Ele é o clone de Saku Koivu".

Entre os times da NHL, o favorito de Granlund é o Montreal Canadiens. Fora dos rinques, ele curte uma boa macarronada, fica xeretando os outros no Facebook e adoraria visitar a Jamaica.

Dylan McIlrath
O reforço escolhido pelo New York Rangers no recrutamento atende por Dylan McIlrath. O defensor canadense tem 18 anos, nasceu em Winnipeg e tem apenas — leia-se esse apenas da maneira mais irônica que for capaz — 1, 96m e 98 Kg.

Com esse tamanho todo, não é de se admirar que Dylan McIlrath — apelidado carinhosamente de "Big Mac Truck", pelo seu sobrenome complicado e sua delicadeza (mais ironia, por favor) nas jogadas — tenha como seu trunfo o jogo físico. Melhorou demais após seu primeiro ano como calouro na WHL, convertendo seu diferencial de -22 para +19 em um ano. Já acumula mais de 270 minutos em penalidades nos dois anos de liga júnior e é meio encrenqueiro. Alguns atacantes da NHL deve ter pesadelos com ele em breve.

O gigante é Montreal Canadiens, admira Shea Weber, tem como jogo preferido de videogame "Mario Kart 64" e, quando está longe do gelo, gosta de tocar guitarra e passear com seus amigos(as).

Fábio Monteiro é um dos novos colunistas de TheSlot.com.br.

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Página publicada em 10 de outubro de 2010.