Por: Thiago Leal

Muito combatida nos dias de hoje, a caça à baleia — isso mesmo, "caça", e não "pesca", pois baleia é um mamífero —, do inglês whaling, é praticada desde os tempos mais remotos. A caça à baleia em sua versão moderna se popularizou nos estados de Massachusetts e Connecticut, pela abundância da baleia cachalote, que possuía em sua cabeça um gel de alto valor comercial conhecido como "espermacete". Os caçadores de baleia daquela região ficaram conhecido como baleeiros, do inglês whalers. E, certamente, este é o motivo para que a franquia da World Hockey Association fundada em Boston em 1972 se chamasse New England Whalers. Os Baleeiros da Nova Inglaterra.

Caçando baleias
Em 1971 a WHA concedeu uma de suas franquias iniciais à cidade de Boston, a capital informal da região da Nova Inglaterra, divisão político-econômica formada por estados do Nordeste dos Estados Unidos da América. Na verdade, o nome Whalers não era uma referência apenas aos baleeiros da região, mas também ao fato das três primeiras letras serem semelhantes à sigla da então mais nova liga de hóquei da América do Norte. Para treinador foi contratado o lendário Jack Kelley, treinador consagrado com a Universidade de Boston. E Larry Pleau foi o primeiro jogador a assinar contrato com o time. O defensor Ted Green veio do "rival" Boston Bruins para capitanear a nova franquia. O uniforme dos Whalers era verde e branco, com detalhes pretos adornando o logo, e a franquia foi uma das primeiras a adotar o chamado logo de ombro, com a presença do simpático mascote Pucky the Whale, uma baleia cachalote branca com fortes semelhantas com Moby-Dick, lendário cachalote branco que rondava o litoral de Massachusetts no famosíssimo livro de mesmo nome, escrito por Herman Melville.

Quase 15 mil pessoas estiveram presentes na Boston Arena para ver os Whalers reverter uma vantagem de 2-0 em 4-3, saindo vencedor de sua estreia na WHA. O time só conheceu a derrota em sua quarta partida, em casa, para o Quebec Nordiques. No final da temporada regular, chegaram a ter uma sequência de oito vitórias, liderando com sobras a Divisão Leste.

Na primeira edição dos playoffs do Troféu World Avco, os Whalers bateram seus três adversários por 4 jogos a 1: Ottawa Nationals nas semi-finais de Divisão, Cleveland Crusaders nas finais de Divisão e Winnipeg Jets na finalíssima da WHA. Os Whalers ainda faturaram o Troféu Lou Kaplan, calouro do ano, com Terry Caffery; e o Jack Kelley venceu o Troféu Howard Baldwin de técnico do ano.

O Troféu World Avco não se repetiu, mas os Whalers se confirmaram como uma das maiores franquias da curta história da WHA. A equipe nunca ficou de fora da pós-temporada e conquistou o Campeonato da Divisão Leste em 1973, 74 e 75.

Mudança para Connecticut e retorno a Massachusetts
Em 1975, por sinal, o ainda chamado New England Whalers mudou-se de Boston, onde o público não era satisfatório, apesar do sucesso do time, e passou a jogar em Hartford, capital do estado de Connecticut, passando a mandar seus jogos no Hartford Civic Center — em Boston, os Whalers tinham mandado jogos no Boston Garden e The Big E Coliseum, além, claro, da Boston Arena. Sua primeira partida em Hartford, em 11 de janeiro de 1975, teve lotação esgotada, animando os Whalers para suas atividades na cidade. A mudança de cidade viu também uma mudança de logo. O arpão que cortava o grande W no meio ganhou dimensões mais realistas, enquanto o círculo com o nome NEW ENGLAND WHALERS que rodeava o W arpoado simplesmente sumiu. As cores passaram a ser verde, branco e dourado.

A equipe tornou a disputar o Troféu World Avco em 1977, mas o perdeu para o Winnipeg Jets por 4-0. Para a temporada seguinte, os Whalers conseguiram o reforço de uma família de baleeiros: o Sr. Hóquei, Gordie Howe, junto com seus filhos, Marty e Mark, que já vinham atuando na WHA pelo Houston Aeros. Porém no começo de 1978, exatamente três anos e uma semana depois de sua primeira partida no Civic Center, os Whalers encontraram sua arena em ruínas. Uma tempestade de neve destruiu a arena, o que obrigou a equipe a, temporariamente, deixar Connecticut e retornar ao Estado de Massachusetts. Enquanto o Hartford Civic Center estava sendo reestruturado, os Whalers passaram a jogar no Springfield Civic Center, em Springfield, Massachusetts. O último jogo dos Whalers em sua arena havia sido há quatro dias, uma derrota por 5-4 para o Houston Aeros na prorrogação. No dia do desastre, os Whalers foram a Edmonton perder por 1-0. A primeira partida em Springfield foi uma vitória por 6-3 sobre o Quebec Nordiques.

Foi também contra os Nordiques a última vitória do New England em temporada regular da WHA: 3-2, em Quebec. O time avançou aos playoffs e foi eliminado pelo Edmonton Oilers, do então novato Wayne Gretzky, em sete jogos.

Nadando em outras águas
Em 1979 aconteceu a sonhada fusão entre NHL e WHA. Os Whalers, junto com o Winnipeg Jets, Quebec Nordiques e Edmonton Oilers, foram aceitos na principal liga de hóquei no gelo da América do Norte. E, embora ainda estivesse jogando em Springfield, a equipe mudou de nome, de New England Whalers para Hartford Whalers. As cores também tornaram a mudar: agora eram verde, branco e azul. E o logo mudou radicalmente, atendendo a uma nova perspectiva ecológica — o final dos anos 70 viu a explosão do fenômeno ambiental GreenPeace e a caça à baleia já era absurdamente condenada. O arpão saiu do logo. E o grande W passou a ser completado por uma cauda de baleia cachalote, criando aquele que foi, sem sombra de dúvidas, o melhor logo que este esporte já viu.

A primeira temporada dos Whalers na NHL foi também a última temporada do, até ali, maior jogador de hóquei de todos os tempos, Gordie Howe. Na verdade, para muitos Howe é o maior jogador de todos os tempos, mas isso discutiremos em outro artigo. Para a despedida de Howe, nada mais adequado que um Jogo das Estrelas em Detroit. O primeiro de Gretzky, o último de Howe. Sua entrada na Joe Louis Arena é simplesmente emocionante.

Voltando aos Whalers, a estreia do time na NHL não foi boa. Começou com uma derrota para o Minnesota North Stars em Bloomington por 4-3. Os Whalers só vieram a vencer na sua quinta partida, a primeira em casa, 6-3 sobre o Los Angeles Kings. O primeiro duelo contra uma colega de WHA foi um empate em 2-2 com o Quebec Nordiques. E novamente contra os Kings os Whalers enfrentaram e venceram seu primeiro jogo no novíssimo Hartford Civic Center. Era o retorno ao lar, onde o time jogou até seus últimos dias. A campanha ruim ainda levou os Whalers aos playoffs, eliminado pelo Montreal Canadiens, mas iniciava uma má fase na franquia, que perdeu os playoffs pelas cinco temporadas seguintes. O time só retornou aos playoffs na temporada 1985/86, eliminado na final de divisão pelo Montreal após passar pelo rival Quebec na semi-final de divisão. Nas seis temporadas seguintes, o time foi derrotado na semi-final da Divisão Adams, antes de viver suas últimas cinco temporadas novamente fora dos playoffs. Em 1986/87, os Whalers terminaram a temporada regular em primeiro lugar da Divisão Adams, seu único título na NHL.

Caça à grande baleia branca
Em suas últimas temporadas em Hartford viram significantes mudanças no uniforme. O simpático Pucky the Whale saiu dos ombros na metade dos anos 80. E durante os anos 90 o uniforme em cor, então utilizado para jogos como visitante, mudou de verde para azul. O time foi vendido para um grupo de empresários liderados por Peter Karmanos em 1994. Um ano depois trocaram o defensor Chris Pronger, então segunda escolha geral de 1993, com o St. Louis Blues por Brendan Shanahan. Em seguida Shanahan foi mandado a Detroit com Brian Glynn em troca de Paul Coffey e Keith Primeau. Apesar disso tudo, os resultados não vinham. Em 13 de abril de 1997, último jogo da temporada regular 1996/97, o eterno ídolo Kevin Dineen marcou o gol vencedor dos Whalers contra o Tampa Bay Lightning, 2-1. Ao final da temporada, Karmanos quebrou sua promessa pública de manter os Whalers em Hartford e mudou o time para a Carolina do Norte, mudando também o nome para Carolina Hurricanes e as cores para preto e vermelho.

Era o fim do Hartford Whalers e do hóquei de grande liga em Connecticut.

Ídolos
Ao longo de sua história os Whalers tiveram uma porção de ídolos. Em termos de talento e na história do esporte, sem dúvida não houve jogador melhor que Gordie Howe no time. Ele foi um dos três a ter seu número aposentado pela franquia, e o único a ter a honra respeitado pelo Carolina Hurricanes. Quem os Canes não respeitaram foi Rick Ley, #2, e John McKenzie, #19, também com seus números devidamente retirados em Hartford. Gordie Howe encerrou sua carreira pelos Whalers. Uma outra lenda a encerrar sua história com a camisa dos Whalers foi Bobby Hull, já em 1980, jogando poucas partidas pela franquia.

Após a partida dos Whalers de Hartford, a cidade não esqueceu suas glórias. Tanto que os números 11 de Kevin Dineen, 10 de Ron Francis e 5 de Alexander Godynyuk foram pendurados no alto do XL Center, antigo Hartford Civic Center, ao lado do #19, #9 e #2, em uma bela forma de relembrar os antigos ídolos do velho time de hóquei da cidade.

Ley foi o jogador que mais atuou pela franquia na WHA, enquanto Tom Webster detém recordes de gols e pontos. Al Smith tem os recordes de goleiro da era. Já na era NHL, Ron Francis é recordista em jogos, gols, assistências e pontos. Ley, Francis e Pat Verbeek foram os capitães com mais longevidade na franquia. Os últimos jogadores a capitanear os Whalers foram Shanahan e Dineen.

Talvez o melhor jogador para a história dos Whalers tenha sido Ron Francis (o que é bem diferentemente de ser o melhor jogador de hóquei que já atuou pelos Whalers, que aí é o Gordie Howie). Mas sem dúvida Dineen é o atleta que mais teve a cara da franquia, que mais se identificou com o time. Dineen era chamado de "John Wayne de patins", fazendo referência ao maior astro da história dos filmes western.

Legado
Os Whalers mudaram para a Carolina do Norte dando origem ao Carolina Hurricanes. O time veio a vencer a Conferência Leste em 2002, perdendo a Copa Stanley para o Detroit Red Wings. Tornou a vencer a Conferência Leste em 2006, desta vez conquistando a Copa Stanley em cima do Edmonton Oilers, na primeira final disputada por dois times originados da WHA.

Peter Karmanos é o fundador do Detroit Compuware Ambassadors, equipe júnior que disputa a Ontario Hockey League. Depois de chamar a franquia de Detroit Junior Red Wings, Karmanos aproveitou a compra do Hartford Whalers e mudou o nome de sua franquia juvenil para Detroit Whalers. Em seguida, mudou o time para Plymouth, região metropolitana de Detroit, e passou a chamá-lo Plymouth Whalers. As cores são as mesmas do Hartford: azul, verde e branco. E o logo do time tem uma baleia cachalote expelindo um disco pelo espiráculo, aquele orifício na cabeça que ajuda a baleia a respirar.

Os Whalers venceram a Copa J. Ross Robertson, o campeonato da OHL, em 2007.

Já Hartford hoje em dia tem o Hartford Wolf Pack, antigo Binghamton Rangers, que mudou-se para Hartford logo após a partida dos Whalers da cidade. O Wolf Pack joga na AHL e é filiado ao New York Rangers desde 1990. O mais irônico disso tudo é que de 1980 a 1990, o Wolf Pack foi o Binghamton Whalers, time filiado ao Hartford Whalers na AHL, antes de, ainda em Binghamton, filiar-se aos Rangers.

Em Hartford, o Wolf Pack foi campeão da Copa Calder, o campeonato da AHL, de 2000, ano em que também venceu a temporada regular da liga menor.

Ficha — Hartford Whalers
Fundação:
1972 (WHA)
Adesão à NHL: 1979
História:

- New England Whalers (WHA), 1972-79
- Hartford Whalers (NHL), 1979-1997
Cidade:
- Boston — Massachusetts, 1972-1975
- Hartford — Connecticut, 1975-1978
- Springfield — Massachusetts, 1978-1980
- Hartford — Connecticut, 1980-1997
Cores:
- Verde, branco e preto — 1972-1975
- Verde, branco e dourado — 1975-1979
- Verde, branco e azul — 1979-1977
Arenas: Boston Arena; Boston Garden; The Big E Coliseum; Springfield Civic Center e Hartford Civic Center.
Títulos: Campeão do Troféu World Avco (1973); campeão da Divisão Adams (1987).
Melhor campanha: WHA — Campeão do Troféu World Avco (1973); NHL — Final da Divisão Adams (1985).

Na próxima edição: Conheça em detalhes a história do Quebec Nordiques, equipe que deu à NHL as lendas Joe Sakic, Peter Forsberg e Mats Sundin.

Thiago Leal é torcedor do Plymouth Whalers e dedica este artigo a J.J. Júnior, o Mec.
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Acima, o logo do New England Whalers e o logo alternatico Pucky the Whale. Abaixo, duas versões do logo sensacional do Hartford Whalers.

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Momento histórico: Ted Green (à esquerda), o primeiro capitão, no face-off simbólico de inauguração do New England Whalers e da própria WHA.
(12/10/1972)

Denis Brodeur
O nome dele era "Hóquei", embora alguns insistissem em chamá-lo de Gordon Howe.

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John McKenzie, em ação com o New England Whalers.

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Kevin Dineen, talvez o maior ídolo da história dos Whalers.

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Ron Francis e todos os seus recordes.

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Homenagem, ainda que tardia: Francis e Dineen, o #10 e o #11, assistem aos seus banners sendo erguidos ao alto do XL Center.

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Onde fazem companhia a John McKenzie e Gordie Howe.

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Pat Verbeek e os Whalers de azul, cor predominante em suas últimas temporadas.

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Página publicada em 11 de novembro de 2009.