Como dissemos na semana passada, o Toronto Maple Leafs é sempre notícia.
Recentemente boatos (nome elegante para fofocas) indicam que o gerente
John Ferguson Jr tentara demitir o técnico Paul Maurice, mas foi demovido
(!). Sabe-se lá como, por que e por quem. Se for verdade, você já sabe:
a gerência atual é figura decorativa na franquia. Se for mentira, é
evidente: Ferguson está sendo fritado pela mídia canadense. E, quanto
se trata dos Maple Leafs, isso é voraz e venenoso.
É possível que o gerente caia ainda esta semana, e a fofocalhada já
dispara nomes a esmo: Mark Messier, Joe Nieuwendyk, Glenn Healy, Doug
Gilmour, Ron Francis, Steve Yzerman, GMs de sucesso em outras franquias,
e por aí vai. Nomes não faltam. Entretanto, trocar de gerente agora,
no meio da temporada, geralmente é contraproducente. Sobretudo porque
não há gerentes experimentados e de sucesso comprovado disponíveis no
mercado. Ou seja, trocar de gerente agora seria colocar possivelmente
uma nova aventura no comando de uma das franquias mais importantes da
NHL. O problema é que atualmente Ferguson tornou-se um morto-vivo no
comando.
Parte da diretoria dos Maple Leafs quer a cabeça de Ferguson, parte
(inclusive a presidência) o protege. Diante da divisão, o morto-vivo
prossegue no comando (?). É o tipo de situação que não tem como seguir
por muito mais tempo.
A rigor os Maple Leafs têm até de onde colher um exemplo, e muito próximo.
Basta olhar para o Toronto Raptors, que contratou o gerente Bryan Colangelo
e deu-lhe a liberdade necessária para tornar o time competitivo. Colangelo
era experimentado e de sucesso comprovado. Conseguir alguém assim na
NHL a essa altura é praticamente inviável, porém mais inviável ainda
é manter por mais tempo a humilhação cotidiana sobre o coitado do Ferguson.
Gerente da franquia desde 2003, com ele o time foi aos playoffs somente
uma vez — na última temporada pré-locaute. Atualmente faz mais uma campanha
digna de não classificação para os playoffs (até o fechamento desta
matéria, na terça-feira, era a pior defesa do campeonato e somente o
tenebroso Washington Capitals tinha mais vitórias na temporada) e a
mídia local simplesmente perdeu a paciência. Chovem críticas à gestão
da franquia, sobretudo em relação a maus negócios realizados.
Jogadores como Bryan McCabe e Pavel Kubina consomem cerca de US$ 11
milhões da folha de pagamento dos Leafs. Se Kubina vem sendo, digamos,
razoável, McCabe atravessa talvez a pior fase de sua carreira, com direito
a gol contra e -10 em 18 jogos. Darcy Tucker renovou por US$ 3 milhões.
Tem 2 gols e 6 pontos em 17 jogos até aqui. O goleiro Vesa Toskala foi
contratado para formar uma boa dupla com Andrew Raycroft. Os dois têm
sido uma dupla decepcionante, como todo o time.
Com um cenário desses, uma velha pergunta retorna: negociar o craque
Mats Sundin seria bom negócio? Talvez, depende do que viesse em troca.
Num cenário de reformulação de elenco — mas de curtíssimo prazo, porque
o peso da franquia não comporta esses planos de "time que está sendo
montado para o futuro" (geralmente subterfúgio para "nosso time é ruim,
talvez melhore no futuro").
Porém, antes disso, seria necessário tentar negociar alguns salários
pesados do elenco, como os citados McCabe, Kubina e até mesmo Tucker.
Esqueça essa história de que "ninguém paga tanto por eles". Paga sim.
Nunca duvide da insanidade, ainda mais quando ela parte de gerentes
de clubes da NHL.
Franquia forte, sólida, tradicionalíssima e decepcionante nas últimas
temporadas, a segunda franquia mais vencedora de Copas Stanley (13)
não vence uma há 40 anos. Sim, quarenta anos, possivelmente a idade
dos pais de vários leitores desta coluna. A transmissão a cores era
uma baita novidade na época. Ainda eram os seis originais somente que
disputavam a NHL. O lendário Bobby Orr era o novato do ano, Gordie Howe,
Stan Mikita e Bobby Hull ainda jogavam. O Brasil ainda era bicampeão
mundial de futebol. Chris Chelios estava aprendendo a falar.
E o cenário atual, incluindo o horizonte próximo, indica que mais anos
de seca virão.
Para completar o calvário do gerente, na terça-feira o próprio presidente
do Toronto disse, com todas as letras, que foi um erro contratar Ferguson.
Em entrevista ao Toronto Sun, Richard Peddie declarou:
"Sinceramente, foi um erro de minha parte não entender naquele momento
que o papel (de ser o gerente dos Leafs) nesse mercado (...). Convenhamos,
era provavelmente o lugar errado para um gerente geral novato começar.
Quero dizer, todos gerentes erram, mas eles não estão sob a mira constante
que se tem em Toronto, que é, na minha opinião, o principal mercado
de hóquei que existe."
Fico tentando entender o que o atual (?) gerente (?) ainda faz (?) na
cadeira de gerente dos Maple Leafs. É mais que evidente que é apenas
questão de tempo para que ele caia. Então, por que não facilitar as
coisas, massagear minimamente a auto-estima e pedir logo pra sair? Pede
logo pra sair, Ferguson!
ERRAMOS
Na semana passada, esta coluna insinuou que talvez fosse bom
negócio para o Edmonton Oilers ficar em último, para obter a primeira
escolha geral no recrutamento. Grave erro. A primeira escolha foi cedida
ao Anaheim Ducks por conta da contratação de Dustin Penner, então agente
livre restrito. Créditos ao sempre alerta Humberto Fernandes.
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![]() Toskala e os Leafs fazem mais uma temporada decepcionante. |