JOGO 4
Edmonton 1-2 Carolina

A PONTO DE NOCAUTEAR
Os Canes de Mike Commodore (de frente) seguem à risca o mais batido script de playoffs (Bruce Bennett/Getty Images - 12/06/2006)
por Scott Burnside

Mestres do hóquei zen, imperturbáveis e inabaláveis, os Hurricanes resistiram ao melhor que os frenéticos Oilers tinham a oferecer e agora estão a uma vitória de conseguir sua primeira Copa Stanley.

Ommnn.

Voltar de um dos menos hospitaleiros estádios de playoffs (o sacolejante e cheio de carma Rexall Place) com uma vitória e um empate, graças à vitória por 2-1 ontem, era tudo que os Hurricanes queriam, agora com uma vantagem de 3-1 na série e com a chance de ganhar o título em casa amanhã à noite.

Os Oilers dominaram nos trancos, 32-19.

Os Oilers dominaram os face-offs, ganhando 39 dos 56 disputados.

Ainda assim, os pacientes e talentosos Hurricanes se valeram de um batido mas eficiente script de playoffs: não se preocupe demais com as coisas pequenas, espere pelo erro do seu adversário e depois seja só um pouquinho melhor.

Ontem foi o exemplo perfeito disso.

Os Oilers abriram o placar pela terceira vez na série, desta vez com uma brilhante troca de passes entre Sergei Samsonov e Radek Dvorak. Mas o nada discreto atacante Raffi Torres foi penalizado 17 segundos depois, e, meros 12 segundos após isso, o sempre perigoso Cory Stillman de alguma forma conseguiu chutar de primeira um passe desajeitado de Tomas Kaberle para dentro do gol de Jussi Markkanen, empatando o jogo.

Os Hurricanes não marcariam novamente até os minutos finais do segundo período. Nesse ínterim, eles matariam cinco penalidades seguidas, incluin-do uma desvantagem numérica de dois homens que durou 1:12. Foi a terceira vez nesta série que os Oilers desperdiçaram uma vantagem de dois homens. Ao todo, os Oilers têm um lamentável aproveitamento de 4% em vantagem numérica. Alguns vão dizer que isso é tudo que faltou para os Oilers conseguirem um empate em 2-2 nas finais.

Na verdade, o técnico do Edmonton, Craig MacTavish, foi um deles: "Uns gols em vantagem numérica a mais, e estaríamos ao menos empatados."

Mas isso implicaria que a vantagem numérica dos Oilers existe no vácuo. Isso é mentira. Ela divide espaço com uma equipe de desvantagem numé-rica do Carolina que tem atacado um dos pontos fortes dos Oilers, o pode-roso chute de Chris Pronger, e neutralizado o mais importante elemento da série.

Os Oilers simplesmente não têm conseguido acompanhar os Hurricanes em vantagem numérica (os Canes têm pouco mais de 19%) porque eles não têm o mesmo talento e oportunismo de seus adversários.

É só tomar como exemplo o gol da vitória.

Nos minutos finais do segundo período, com o jogo tomando formas de uma peleja decidida por um gol, uma jogada, um momento, os Hurricanes desferiram o golpe decisivo.

O passe rotineiro de Pronger para isolar o disco foi desviado e recebido por Eric Staal, que passou para Mark Recchi, que mandou para dentro do gol vazio.

É assim que se faz. Ommnn.

O terceiro éríodo foi típico "hóquei na defesa" dos Canes. Eles não arrisca-ram inutilmente, mas também não se recolheram ao tipo de jogo passivo que foi o erro dos Oilers no jogo 1, quando eles desperdiçaram uma vantagem de 3-0. Os Hurricanes ficaram fora do banco de penalidades e limitaram os Oilers a cinco chutes a gol.

No final do período, a única penalidade tinha sido apitada contra o capitão dos Oilers, Jason Smith, que foi pego enganchando o quarto-linhista Craig Adams. Foi excesso de preciosismo da parte do juiz? Sim, a noite foi de excessos no quesito preciosismo. Mas de ambos os lados. Os Canes assi-milaram tais decisões do árbitro da mesma maneira que assimilam tudo que lhes acontece: com um suspiro e um passo à frente.

O Edmonton, entretanto, é um time que depende mais de adrenalina e energia para ter sucesso e, como resultado, tende a se frustrar quando as coisas ficam difíceis. Como se para ilustrar como a frustração tem saído por todos os poros dos Oilers, o próprio MacTavish começou a perder a com-postura no final de sua entrevista coletiva depois do jogo. Bem-humorado e paciente, MacTavish enfureceu-se quando perguntado se estava preocu-pado com o fato de Ales Hemsky não chutar mais vezes a gol.

"Sabe o que me frustra? Fico frustrado com a pergunta. Quer dizer, você não esteve aqui o ano todo. Fico frustrado com a pergunta", esbravejou MacTavish. "Cada Tom, Dick e Harry está dizendo a ele como ele deve jogar. O cara é um bom jogador, um bom passador, ele cria jogadas."

E MacTavish não tinha terminado.

Segundos depois, um jornalista questionou o benefício em potencial de Georges Laraque se juntar à equipe de vantagem numérica dos Oilers.

"Todo mundo tem uma idéia quando a vantagem numérica não vai bem. Mais alguém? Quer dizer, todo mundo tem uma idéia", prosseguiu MacTavish em seu surto. "Não, não pensei em colocar Georges na frente do gol em vantagem numérica."

É claro que o técnico do Edmonton tem o direito de ficar um pouco irritado. Ele tinha acabado de perder um jogo bastante emocional, que deixou seu time em um buraco de onde apenas dois times na história das finais já conseguiram emergir. Mas há muito pouco tempo para consertar as coisas, ainda mais com o ritmo que os Hurricanes estão determinados a impor na série.

MacTavish antes tinha elaborado uma teoria que sugeria que os Oilers eram como um lutador mercenário desferindo golpe atrás de golpe em seu adversário. A estratégia poderia não lhe valer a vitória nos primeiros rounds, mas, no fim da luta, ela faria a diferença.

Os Hurricanes entendem essa teoria e não querem nem saber de compro-vá-la. Eles absorveram cada golpe e sem alarde chegaram à posição onde estão prestes a dar o golpe fatal bem antes que a teoria de MacTavish possa ser testada.



Scott Burnside é jornalista do site ESPN.com . O artigo foi traduzido por Alexandre Giesbrecht.
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Página publicada em 13 de junho de 2006.