Por
Marco Aurélio Lopes
"Acredite!" Esta era a manchete do site do Tampa Bay Lightning após
a vitória no jogo 7 contra os Flyers, que levou a equipe pela primeira
vez às finais da Copa Stanley. Do outro lado, um dos primos pobres do
Canadá, senão o mais pobre dos times canadenses. Apenas algumas curiosidades
que podem fazer desta uma final emocionante, histórica e, principalmente,
com um gostinho extra. Resolvemos então listar algumas razões que podem
levar a esta conclusão. Depois liste as suas também.
1. Milhagem Extra: Desde 1993, quando Montreal e Los Angeles se
enfrentaram, jamais houve uma final com uma distância tão grande entre
as cidades. Afinal, Calgary e Tampa ficam a apenas 3.195 km de distância
(ah, Montreal fica a 3.449 km de Los Angeles). Ou seja, viagens desgastantes,
especialmente após o jogo 4, quando se alternam as sedes, poderão
ser um fator nesta série.
2. Dinheiro traz felicidade? Aparentemente não. Tampa Bay e Calgary
não estão entre as maiores folhas salariais da liga. Ao contrário, foram
despachando, ou assistiram de poltrona, grandes "investidores", como
Detroit, Philadelphia, Dallas, New York Rangers e outros pelo meio do
caminho. Pelo menos em 2004, ter vários jogadores caros não significou
muita coisa.
3. Viva a Juventude! No gancho do tópico anterior, ao mesmo tempo
Flames e Lightining investiram em jogadores jovens para criar bases
sólidas e que agora se mostraram também vitoriosas. Afinal, de veteranos,
mesmo, só vêm à cabeça Andreychuk, Sydor e Khabibulin, pelo Tampa
Bay, e Lowry, pelo Calgary. De resto, vários jogadores com muitos anos
de NHL pela frente. Mas, mesmo assim, alguns que já têm vários
anos de janela, como LeCavalier e Iginla.
4. A vingança de Martin: 2004 foi, sem dúvida, uma temporada de
sonho para o pequenino Martin St. Louis, que se consagrou como artilheiro
e principal arma ofensiva do Tampa Bay. Uma resposta sensacional àqueles
que duvidaram de sua capacidade de triunfar na NHL, como os próprios
Flames, por onde St. Louis passou por apenas uma temporada, por ser
considerado assim como por outras equipes "pequeno" demais
para a NHL. Curioso é o Calgary dizer isso, quando um de seus maiores
nomes na história foi o também diminuto Theoren Fleury...
5. Duelo europeu nas traves: Não, não estou falando de competição
de ginástica, mas, sim, da disputa paralela entre dois goleiros do Velho
Continente, onde o russo Khabibulin e o finlandês Kiprusoff fazem a
segunda final da história da NHL entre dois goleiros titulares vindos
da Europa (Hasek, tcheco, venceu Irbe, letão, em 2002, quando o Detroit
superou o Carolina). Porém, ao contrário da primeira disputa, os goleiros
poderão ter papel muito mais influente, dada a similaridade entre os
dois elencos.
6. Queremos gols! Depois de temporadas em que os vencedores chegavam
porque jogavam focados em defender, em não perder antes de ganhar, em
não levar o gol antes de fazê-lo, neste ano Tampa Bay e Calgary chegam
por apresentar um jogo que extrai o máximo do poder ofensivo de seus
jogadores. Claro, ambos os times têm goleiros espetaculares e defesas
vigorosas e sólidas, prontas para o jogo físico, mas não se pode negar
que os dois jogam muito mais bonito que equipes finalistas em outros
anos, com um jogo coletivo, de troca de passes, habilidade na patinação
e muita velocidade, o que pode garantir jogos com artilharia pesada.
7. Andreychuk e Iginla, os capitães: Mais duas belas histórias aqui,
já que cada um vai ter uma razão extra para levantar a Copa Stanley.
Andreychuk, do alto de seus 40 anos, após mais de 20 anos de carreira
e 1,7 mil jogos sem vencer uma única Copa Stanley, tem a chance de fazer
isso como o grande tutor de uma legião de jovens do Lightining. Já Iginla,
que viveu alguns dos piores anos do Flames, mas sempre jurou amor à
equipe por onde ingressou na NHL, pode ser a história viva de um jogador
que viveu a boa a e má fase de uma equipe sem jamais desistir. E, além
disso, tornar-se o primeiro jogador de descendência negra a ser capitão
de um time campeão da Copa.
8. Yes, nós temos jogadores de hóquei! Ele tem nome de canadense,
pinta de canadense, fala inglês (possivelmente melhor que português)
e joga na seleção canadense. Mas nasceu no Brasil! Sim, queiram ou não,
Robyn Regehr é um "canadense do Recife", e isso vem em todos os informes.
E, de certa forma, podemos dizer que nas finais da Copa Stanley há
um jogador nascido aqui. E, ainda mais, sendo campeão. Agora é ver se
ele vem ao Brasil para passar seu dia com a Copa...
9. Nova era na liga? Desde 1995, as finais da Copa Stanley sempre
tiveram Detroit, New Jersey, Dallas ou Colorado. Também, estes quatro
times dividiram todas as Copas do período. Depois de algumas zebras
(Panthers, Capitals, Sabres, Hurricanes e Ducks), finalmente neste ano
os dois finalistas não são do quarteto de ferro que domina a NHL. E,
tendo em vista que as finais em que dois destes quatro times não estavam
envolvidos acabaram sendo grandes decepções, desta vez Flames e Lightning,
que você ainda pode considerar zebras, devem promover um espetáculo
de alto nível. Afinal, os Flames vão para a sua segunda Copa apenas
(já venceram uma, mas há longínquos 15 anos), e o Lightning jamais havia
chegado sequer às finais de conferência. Ou seja, poderemos ainda por
cima ter um campeão inédito.
10. Oh, Canadá! O hino canadense vai ser executado para uma das
equipes, finalmente, depois de dez anos. Muito para a nação que inventou
o hóquei, ainda mais para seus fanáticos torcedores. Desde que o Vancouver
chegou e perdeu às finais de 1994, um time do "norte
da fronteira" não retornava à disputa do Santo Graal do hóquei. Uma
temporada repleta de surpresas merecia ter uma equipe do Canadá nas
finais. Canadá este que já vencera as Olimpíadas em 2002, pode mais
uma vez superar os americanos, desta vez na figura do Calgary Flames,
equipe que já esteve à beira da extinção e agora surge como a ressurreição
do combalido hóquei das equipes do país, que há anos lutam com seu desvalorizado
dólar local. Para se ter idéia, torcedores de todo o país abraçaram
a causa dos Flames, até os arqui-rivais do Edmonton Oilers. Ou seja,
no quesito torcida, 10-0 para o Canadá (até porque hóquei em Tampa não
é o que se pode chamar de esporte favorito...).
Essas foram apenas dez histórias dentro da grande história que deverá
ser a final de 2004. Muitas outras serão reveladas e outras serão escritas.
É assim que se escreve a história. E desta vez, um capítulo que tem
tudo para ser "especial".
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Marco A. Lopes, 28 anos, gostaria muito de ver uma final em sete
jogos, com prorrogação e tudo mais, mas, principalmente,
queria ver seus Penguins na decisão. Paciência. |
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