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28 de maio de 2004
Que seja uma final histórica

Por Marcelo Constantino

Em muitos aspectos esta já é uma final histórica. Ela quebra a hegemonia de uma década de Devils, Wings e Avs; ela traz de volta um time canadense (e justo o pior deles na temporada anterior); ela está sendo realizada por dois times que, há meros cinco anos mais ou menos, eram motivo de piada na liga. Não precisa ser decidida na enésima prorrogação do jogo 7 (ainda que isso transforme qualquer série na mais sensacional de todos os tempos), basta que o Tampa Bay Lightning e o Calgary Flames sigam jogando o mesmo hóquei que vêm demonstrando até aqui. E, claro, que chegue à apoteose do jogo 7. Finais de Copa Stanley, jogo 7, o paraíso de qualquer torcedor de hóquei.

Nós somos grandes! --
Jogando na mais fácil das divisões, onde apenas eles possuem um time decente, os Bolts chegaram aos playoffs com uma indefinição: eles foram os primeiros colocados da conferência porque eram os melhores ou porque a vida foi mais fácil, tendo de jogar seguidamente contra os times de várzea da Divisão Sudeste? Essa indefinição foi caindo por terra com as facílimas vitórias sobre Islanders e Canadiens e foi definitivamente resolvida com a conquista do título da Conferência Leste frente aos Flyers numa bela série de sete jogos.

E pensar que há apenas dois anos o Lightning sequer estava nos playoffs, ainda era um time jovem em formação. E pensar que Vincent Lecavalier esteve envolvido em rumores de trocas nesta temporada. E pensar que Martin St. Louis foi dispensado do Calgary Flames....

Go, Flames, go! --
O Calgary Flames, depois de sete anos sem sequer chegar aos playoffs, está na final. O time, que foi o 12.º colocado geral na temporada, teve de eliminar todos os campeões de divisão até aqui. Não é à toa que o Calgary era o time que ninguém queria encarar nos playoffs. A reta final do time na temporada indicava que eles seriam osso duro de roer e que a simples classificação aos playoffs não os satisfaria.

Aliás, antes de começar a temporada ninguém esperava sequer que eles se classificassem para os playoffs. Hoje já tem gente que acredita neles para vencer o título, embora pareça ser senso comum que o Tampa Bay é um time superior. Mas e daí, Vancouver, Detroit e San Jose também eram (ao menos em tese), não é verdade?

Eles chegaram até aqui sem Toni Lydman e Denis Gauthier, dois defensores que estariam nas duas primeiras linhas do time. E com um goleiro que era reserva em San Jose, que ninguém na liga daria muita coisa em troca. Claro, ninguém exceto Darryl Sutter, técnico do time que havia comandado os Sharks anteriormente e que conhecia bem as habilidades de Kipper.

Dave Lowry está de volta às finais da Copa. Para quem não se lembra, ele foi jogador-símbolo da também mágica escalada do Florida Panthers em 1996. É aquele tipo de jogador de quarta linha que aparecia do nada nos playoffs, marcando gols e personificando a raça do time. Não é mais assim hoje em dia, mas vale o registro.

Dos candidatos a MVP --
Sim, fala-se nisso desde a primeira semana dos playoffs, e os nomes variam semana após semana. Ed Belfour (ok, estou forçando a barra...) e Keith Primeau já ficaram para trás, então a briga, hoje, parece ter um pequeno punhado de candidatos. Muito se fala em Martin St. Louis, mas Brad Richards é outro que pode levar o troféu. Não tenham dúvidas de que se Khabibuin for dominante e decisivo nas finais, o troféu é dele. Praticamente não há outros nomes do lado do Tampa Bay, nem mesmo Lecavalier, ainda que esteja fazendo ótimos playoffs.

Do lado do Calgary o nome mais evidente é Jarome Iginla, que só não leva o Conn Smythe para casa se os Flames não forem campeões, ou se Kiprusoff for dominante e decisivo nas finais. Ou, quem sabe, se Martin Gelinas marcar mais uma vez o gol da vitória no jogo decisivo da série! Enfim, é tudo conjectura mesmo, o fato é que o troféu vai para um desses nomes citados aqui.

Sobre o Jogo 6 entre Flyers e Bolts --
Quem teve a oportunidade de assistir, não se arrependeu, foi o melhor jogo a que assisti desde as finais da Conferência Oeste em 2002. Teve de tudo que um torcedor pode querer numa partida, exceto brigas: muitos gols, empate no fim, prorrogação, trancos nas bordas, vira-desvira no placar, um jogo aberto, rápido e dinâmico.

Fiquei com a clara impressão de que os Bolts eram bem superiores aos Flyers, só que estes jogavam com muito mais raça. Só isso (e uma bela de uma pitada de sorte) explica como o time do Philadelphia, que ainda cometia erros bobos em quantidade além do razoável para uma equipe nos playoffs, venceu aquele jogo. E que vitória!

Sobre a superstição de não se tocar no troféu da conferência --
A primeira temporada que acompanhei, a de 1996-97, negou-me completamente a crença nessa tradição, ou superstição, o que seja. Lembro que Eric Lindros, então capitão do Philadelphia Flyers, negou-se a tocar na taça e apenas posou para as fotos. Lembro de ter lido, ou escutado de algum narrador à época, algo como "não é essa a taça que ele quer", justificando o ato.

Do outro lado, vi Steve Yzerman levantando, feliz da vida a taça que ele mesmo havia levantado dois anos antes. No fim das contas Yzerman levantou a Copa Stanley também e Lindros nunca mais teve uma segunda chance de levantar qualquer dos troféus. Ao longo dos anos seguintes esse tipo de situação repetiu-se com razoável freqüência, inclusive no ano passado (Paul Kariya também recusou-se a tocar no troféu). Ou seja, palmas para quem não liga para isso e sabe que o jogo é vencido no gelo.

Marcelo Constantino adora os trancos no hóquei e sugere dois para baixar: clique aqui para baixar um violentíssimo, porém limpo, de Darcy Tucker em Sami Kapanen, deste ano. Clique aqui para baixar outro mais violento ainda, e ilegal, de Derian Hatcher em Jeremy Roenick, em 1999. Os links são cortesia de Humberto Fernandes.
LESTE Dave Andreychuk com o troféu pela conquista da Conferência Leste. É a chance dele finalmente conquistar a Copa Stanley, depois de uma carreira com mais de 1700 jogos realizados na NHL (Charles W Luzier/Reuters - 22/05/2004)
 
OESTE Jarome Iginla com o troféu pela conquista da Conferência Oeste. Será que finalmente este ano o time azarão vencerá as finais? (Frank Gunn/AP - 19/05/2004)

 

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Página publicada em 25 de maio de 2004.