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21 de maio de 2004
Dominando o mundo

Por Igor Vasconcelos, especial para a The Slot BR

O último Campeonato Mundial de Hóquei promovido pela FIHG (Federação Internacional de Hóquei no Gelo) terminou no dia 9 de maio, com mais um título do Canadá, agora com 23 medalhas de ouro na competição. No momento, os canadenses acumulam os títulos de campeão mundial e olímpico, masculino e feminino. Nada mais justo para o país do hóquei.

Jogos entre seleções ainda conservam as características originais do esporte: um jogo aberto, com muitos gols, belas jogadas e emoção do começo ao fim. Exatamente o contrário do que a NHL vem se tornando ultimamente, com mirabolantes esquemas defensivos e todo tipo de agarramento; não tardará o dia em que presenciaremos um homicídio só para não levar um gol...

Voltando ao assunto principal, com o título deste ano o Canadá tornou-se bicampeão — ambos os títulos foram sobre a Suécia, em finais emocionantes. Desde 1959 o Canadá não ganhava dois torneios consecutivos. No ano passado, os inventores do hóquei deram um passeio, não tomando conhecimento dos adversários e conquistando o título invictos, com oito vitórias e apenas um empate. Já neste ano a coisa mudou de figura. Mais atentos e fechados na defesa, os adversários queriam a qualquer custo tirar o caneco das mãos canadenses.

O título veio, porém com muitas dificuldades. Além de ter perdido a invencibilidade frente aos tchecos, os campeões tiveram placares apertados, virando jogos difíceis para chegar à medalha dourada.

Na fase preliminar, um empate com a Áustria do surpreendente goleiro Reinhard Divis, reserva dos Blues, que fechou o gol, e uma vitória magra sobre a França, pior time do torneio, que só veio a marcar gols nos dois últimos jogos do torneio da morte (relegation round), que define as seleções rebaixadas para a segunda divisão do campeonato. Para selar o primeiro lugar do grupo, uma vitória contra a Suíça de Martin Gerber, goleiro do Anaheim.

Já na fase de classificação, os canadenses venceram a Letônia e a Alemanha e perderam para a República Tcheca por um placar elástico, o que lhes deu a segunda posição no grupo, tendo que enfrentar a Finlândia nas quartas de final. A partir daí, começou um festival de viradas espetaculares, com muita emoção. A semifinal foi contra a Eslováquia, e a classificação veio com um gol controverso de Shawn Horcoff.

A final foi uma repetição do ano passado, contra a Suécia, que foi logo abrindo 2-0 em menos de oito minutos, com as estrelas do Ottawa Senators Jonas Hoglund e Daniel Alfredsson. O capitão canadense pelo segundo ano consecutivo, Ryan Smyth (do Edmonton Oilers), diminuiu, mas Andreas Salomonsson aumentou a vantagem viking ainda no primeiro período.

O segundo período registrou o início da virada, com um golaço de Dany Heatley, que recebeu um longo passe do defensor veterano Scott Niedermayer, para marcar livre. O empate veio num gol contra de Michael Nylander, que foi creditado para o irmão de Scott, Rob Niedermayer. Com o momento todo a seu favor, o terceiro período foi a confirmação de mais um título canadense, com gols de Jay Bouwmeester e Matt Cooke. Um fato curioso é que no ano passado a Suécia também tinha uma vantagem de 2-0, mas acabou perdendo a medalha de ouro pelo placar de 3-2.

Dany Heatley foi o maior destaque do torneio, já totalmente recuperado, depois do acidente de carro que matou o amigo e companheiro Dan Snyder, além de deixá-lo com uma grave contusão que o tirou da maior parte da temporada de 2003-04. A volta por cima foi justamente um ano depois de ter aparecido como estrela mundial, no torneio do ano passado, em que também havia sido destaque. Neste ano, Heatley foi considerado o MVP do campeonato, além de melhor atacante, maior pontuador — com 11 pontos em nove jogos —, artilheiro com oito gols e de ter sido nomeado para o time das estrelas. Ty Conklin, dos EUA, foi considerado o melhor goleiro da competição, e Dick Tarnström, da Suécia e dos Penguins, foi o melhor defensor.

O goleiro do Florida Panthers, Roberto Luongo, também foi fundamental para as duas conquistas canadenses, fazendo defesas monumentais em momentos críticos dos jogos. Além dele e de Heatley, Daniel Briere e Ryan Smyth estiveram nas duas campanhas vitoriosas. Devido à campanha vitoriosa, o Canadá levará os mesmos jogadores para a Copa do Mundo, que será realizada nos Estados Unidos e no próprio território canadense.

Sempre lembrando que o campeonato acontece durante os playoffs da NHL, muitas seleções são prejudicadas por não ter suas estrelas, não liberadas para disputar o torneio. Já outros são inscritos no meio da competição, quando seus times são eliminados na NHL, caso de Alfredsson, que reforçou a Suécia depois que os Sens perderam para os Maple Leafs. Uma solução para esse problema seria adiar o campeonato por um mês e colocá-lo durante as férias da NHL, mas essa medida traria problemas, como cansaço de jogadores, que querem gozar férias, e também pode chocar-se com o calendário de outras ligas ao redor do mundo.

Mas o que vale mesmo é o amor à camisa na hora de defender o país. Prova disso foi o depoimento de Ryan Smyth durante as comemorações do título: "Não apenas estamos orgulhosos do que fizemos aqui, mas orgulhamos o Canadá."

Decepções


República Tcheca — Jogando em casa, com a torcida lotando arenas e empurrando o time, com a superestrela Jaromir Jagr, o goleiro sensação Tomas Vokoun e mais uma constelação, foi eliminada muito precocemente pelos Estados Unidos nas quartas-de-final, perdendo nos pênaltis. Pelo menos, acabaram invictos.

Rússia — Antigo império do hóquei, não passou da décima posição, sendo eliminada por 4-0 pela Finlândia, ainda na fase de classificação, o que permitiu o empate canadense em número de títulos. Nem o jovem artilheiro Ilya Kovalchuk e a futura primeira escolha Alexander Ovechkin resolveram o problema russo.

Dinamarca — Após surpreender o mundo do hóquei no ano passado, ganhando dos Estados Unidos e empatando com o Canadá logo na sua estréia na primeira divisão, os dinamarqueses perderam o encanto e foram impiedosamente goleados por quase todos, ganhando apenas do Japão. E só por causa de um bizarro gol contra do "craque" Nobuhiro Sugawara. Espera-se que no próximo ano apresente alguma evolução, em vez de continuar nessa queda deprimente.

No ano que vem, a emoção será na Áustria, nas cidades de Viena e Innsbruck.

Igor Vasconcelos é leitor desta revista online, sonha em morar no Canadá e assistir a hóquei ao vivo todo dia, jogar hóquei nos Habs, ir a um show do Metallica e ser colunista de The Slot BR.
CAMPEÕES A seleção canadense posa para a tradicional foto de campeão (FIHG/CP - 2004)
 
MVP Danny Heatley foi o MVP do campeonato (FIHG/CP - 2004)

A CAMPANHA CANADENSE
2-2 Áustria
3-0 França
3-1 Suíça
2-0 Letônia
6-1 Alemanha
2-6 República Tcheca
5-4 Finlândia
2-1 Eslováquia
5-3 Suécia
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Página publicada em 19 de maio de 2004.