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          Alexandre Giesbrecht 
           
          Enquanto escrevo estas linhas, a cidade de Calgary se prepara para o 
          "Mar Vermelho" no Pengrowth Saddledome, na esperança 
          de que os Flames encerrem as finais de conferência contra os Sharks 
          em seis jogos. Mas, se a esperança for baseada em estatísticas 
          e no histórico recente, os torcedores mais fanáticos podem 
          desde já reservar sua passagem para San Jose, a fim de assistir 
          ao jogo 7: pela terceira vez na história da NHL, os cinco primeiros 
          jogos de uma série foram vencidos pelo time visitante. 
           
          É claro que estatísticas não decidem um jogo, muito 
          menos uma série. E o histórico recente, que costuma embalar 
          uma ou outra equipe, também não está tendo influência 
          nesta série. Os Flames venceram as duas primeiras partidas, em 
          San Jose, e voltaram para casa pensando até em varrer a série, 
          mas o que se viu foram duas vitórias convincentes do time de 
          San Jose em Calgary. Para o jogo 5, esperava-se outra performance sólida 
          dos Sharks, confirmando o favoritismo e virando a série, mas 
          o que se viu foi um time totalmente perdido no gelo, derrotado com facilidade, 
          embalando o adversário. 
           
          Eu escrevi "embalando"? Acho que não. O momento não 
          tem sido de ninguém nesta série. A não ser dentro 
          de cada jogo. O time que abriu o placar sempre acabou ficando com a 
          vitória. E não por atuações brilhantes dos 
          dois goleiros. À exceção do jogo 1, em que Miikka 
          Kiprusoff, goleiro dos Flames, parou 49 chutes na vitória de 
          seu time por 4-3 na prorrogação, os goleiros não 
          foram dominantes. No jogo 5, Kiprusoff até conseguiu o shutout, 
          mas só precisou parar 19 chutes de um apático San Jose. 
          Já Evgeni Nabokov, dos Sharks, parou 34 chutes dos Flames no 
          jogo 3, conseguindo o shutout, mas não teve de se esforçar 
          muito. 
           
          De novo excluindo o primeiro jogo, a tônica da série tem 
          sido a de um time que some no gelo contra outro que não precisa 
          se superar para vencer. 
           
          Fica parecendo que a única explicação para o placar 
          atual é mesmo o endereço do estádio em cada partida. 
          Vale lembrar que os problemas de ambos os times em casa não começaram 
          nas finais de conferência. Os Sharks não vencem no HP Pavilion 
          desde 24 de abril, quando derrotaram os Avs no jogo 2 da segunda fase. 
          Já os Flames ganharam apenas três dos oito jogos que disputaram 
          no Pengrowth Saddledome. Essa particularidade dá a eles a chance 
          de bater o recorde de vitórias fora de casa nos playoffs, detido 
          pelos Devils de 1995 e de 2000 (dez vitórias). 
           
          E uma vitória no jogo 6 (ou no 7) dará a eles a primeira 
          vaga de um time canadense nas finais da Copa Stanley desde 1994. 
           
          • Depois de cinco jogos das finais do Leste, nem o Philadelphia 
          nem o Tampa Bay conseguiu ganhar duas partidas seguidas. Isso significa 
          que, como os Bolts ganharam o jogo 1, eles podem seguir esse padrão 
          até alcançar primeiro a quarta vitória. E agora 
          os Flyers são obrigados a conseguir as duas vitórias seguidas 
          para conseguir chegar às finais. 
           
          Isso até é possível, mas eles vão ter de 
          duplicar o esforço do meio do jogo 5, quando perdiam por 3-0 
          e, em 38 segundos, conseguiram diminuir a diferença para 3-2. 
          E também vão ter de evitar repetir o que fizeram logo 
          depois, que foi não aproveitar o embalo. Ah, sim, esta série 
          tem time que embala. 
           
          O mais engraçado é que a única área em que 
          os Flyers têm sido consistentes é no gol, justamente o 
          que apontavam ser o ponto fraco do time antes de os playoffs começarem. 
          O goleiro Robert Esche não conseguiu impedir que o Lightning 
          fizesse 2-0 logo no primeiro período, mas certamente impediu 
          que essa vantagem fosse ainda maior, ao defender 16 dos 18 chutes disparados 
          contra ele. Sim, 18 chutes. Apenas no primeiro período. 
           
          • Tradição é tudo no futebol. Até 
          acontece, mas é raro ver uma final como a do Paulistão 
          deste ano, em que o São Caetano derrotou o Paulista de Jundiaí. 
          Já no hóquei, ainda que os últimos anos tenham 
          visto um domínio das mesmas equipes, há uma alternância 
          das potências. Ainda assim, uma possível final entre Calgary 
          e Tampa Bay ainda soa como algo estranho. 
           
          Nem tanto pelo Calgary, que chegou a ser uma potência na temporada 
          regular entre a segunda metade da década de 80 e a primeira metade 
          da década de 90. Mas o Tampa Bay foi, por muitos anos, uma das 
          piadas da liga. Seu "irmão gêmeo" Ottawa Senators 
          também foi motivo de piada, mas acabou por conquistar respeito 
          — e em menos tempo. 
           
          Dois anos atrás, nenhum dos dois times foi aos playoffs. Nenhum 
          deles alcançava os mata-matas desde 1996. Vislumbrar uma final 
          com qualquer um deles seria risível. No ano passado, o Lightning 
          conseguiu se classificar. Foi até a segunda fase, enquanto os 
          Flames estavam jogando golfe desde o início de abril. 
           
          Isso é o que se pode chamar de virada. E dupla, ainda por cima. 
          Mesmo que um time ou ambos não cheguem às finais. 
           
          • Eu ainda não apostaria que estas séries vão 
          acabar no jogo 6. Só faria isso nos últimos segundos do 
          terceiro período, se — e somente se — um dos times 
          tiver uma vantagem de mais de dois gols. 
           
          • Chegaram às minhas mãos duas cópias do 
          tablóide Toronto Sun e dois cadernos de esportes do jornal Toronto 
          Globe & Mail. Mesmo com acesso à Internet e coisa e tal, 
          ter os referidos jornais em papel é outra coisa, ainda que tenham 
          chegado com atraso de dois ou três dias. E bateu, claro, uma inveja 
          dos canadenses, que têm páginas e páginas de informação 
          de hóquei sem precisar queimar a retina olhando para o monitor. 
           
          Mas o que mais chamou a atenção no meu "pacote" 
          foi uma cópia de The Hockey News desta semana, com Mike Commodore, 
          dos Flames na capa. O THN é certamente tudo o que nós 
          gostaríamos de ser, tanto é que foi ele a nossa inspiração 
          antes de começarmos. Naquela época, a minha única 
          referência eram as páginas amareladas de uma edição 
          das férias de 1994, em papel jornal. 
           
          Eu imaginava que a publicação não teria mudado 
          muito, mas mudou bastante. Ainda é em papel jornal, mas do tamanho 
          dos cadernos nacionais em formato tablóide, como o caderno Boa 
          Viagem d'O Globo ou o Folhateen, da Folha de S. Paulo. A diagramação 
          também ficou bem mais moderna visualmente, embora não 
          seja lá tão fácil achar as matérias, que 
          ficam muito desagrupadas. 
           
          Ainda assim, é uma publicação de qualidade. Um 
          dia chegaremos lá. Com uma versão impressa. 
        
           
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            | Alexandre Giesbrecht, 
              28 anos, não se cansa de folhear a sua nova cópia 
              de The Hockey News. | 
           
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