|    Por 
          Alexandre Giesbrecht 
           
          Poucas semanas antes dos playoffs, o site ESPN.com perguntava quem viria 
          a ser "os Mighty Ducks destes playoffs". Colunistas do site 
          e leitores deram a sua opinião, e a maioria escolheu os Flames, 
          pelo que mostraram ao longo do ano. 
           
          É óbvio que essa pergunta só foi suscitada pelo 
          sucesso extraordinário que os Ducks tiveram um ano atrás. 
          Se eles tivessem sido eliminados rapidamente por Detroit ou Dallas, 
          na primeira ou na segunda fase, o máximo que se lembrariam como 
          surpresa seriam os Hurricanes de 2002, os Capitals de 1998 ou os Panthers 
          de 1996. Todos foram batidos com facilidade pelos eventuais campeões 
          (Wings nos dois primeiros casos; Avs no último) e penaram no 
          ano seguinte (dos três, apenas os Panthers chegaram aos playoffs 
          um ano depois, sendo eliminados logo na primeira fase). 
           
          Os Ducks seguiram a escrita de penar no ano seguinte, ficando de fora 
          dos playoffs com razoável antecedência, mas deram uma canseira 
          nos Devils, que só ficaram com o título no jogo 7 das 
          finais. Só isso já bastaria para destacá-los em 
          relação às outras zebras da última década, 
          mas havia um outro fator: os Ducks tinham um jogador, o goleiro Jean-Sébastien 
          Giguere, que se destacava dos demais e carregava o time nas costas. 
          Isso não pode ser dito de nenhum dos outros times citados, que 
          contaram com um esforço mais coletivo para chegar aonde chegaram. 
           
          Depois de uma campanha como aquela, mas sem conseguir repeti-la, era 
          bom tentar apontar o seu "sucessor". As zebras andam cada 
          vez mais comuns, especialmente nas primeiras fases, especialmente contra 
          os segundos colocados de cada conferência — alguém 
          se lembra da última vez que os segundos colocados de ambas as 
          conferências se classificaram para a segunda fase? (Foi no já 
          longínquo 1996.) —, então apontar as possíveis 
          zebras virou tarefa anual para a imprensa esportiva que cobre a NHL. 
           
          Entre os candidatos, realmente o único que parecia mostrar alguma 
          promessa era o time de Calgary. Com um goleiro em ascensão (Miika 
          Kiprusoff) e uma estrela que desequilibra quando encontra seu espaço 
          (Jarome Iginla), pareciam capazes de fazer algum estrago, mas creio 
          que ninguém esperava que tivessem o mesmo impacto que o time 
          de Anaheim teve em 2003. 
           
          E, na verdade, ainda não tiveram. Os Ducks chegaram às 
          finais com facilidade, perdendo apenas dois jogos no caminho, ambos 
          para o Dallas, o melhor time do Oeste na temporada regular. Já 
          os Flames precisaram de sete jogos para eliminar os Canucks; seis para 
          eliminar os Wings. Das oito vitórias que os levaram às 
          finais de conferência, sete foram por um gol de diferença. 
          Três foram na prorrogação. 
           
          Ainda assim, o time empolga. Se passarem pelos Sharks, chegarão 
          às finais. Como os Ducks de 2003. Aí, não vai importar 
          mais se o caminho foi mais pedregoso ou mais fácil. 
           
          Comparações à parte, passar pelos Sharks está 
          muito mais fácil do que qualquer um poderia imaginar. Depois 
          de dois jogos em San Jose, os Flames já têm duas vitórias, 
          metade do que precisam para se classificar para suas primeiras finais 
          em 15 anos. É a primeira vez na história que os Flames 
          abrem uma série com duas vitórias fora de casa. Os Sharks, 
          favoritos depois de vencer sete de seus primeiros oito jogos, perderam 
          quatro das últimas cinco partidas. 
           
          No primeiro jogo, o time canadense fez 2-0 e complicou uma partida que 
          poderia ter sido mais fácil. Deixou os Sharks assumir o domínio 
          da partida, sofreu o empate, fez 3-2, sofreu novo empate a três 
          minutos do final, mas ainda teve fôlego para vencer na prorrogação, 
          com um gol fantástico em que Steve Montador apareceu do nada, 
          com todo o espaço do mundo, e não teve trabalho algum 
          para mandar o disco fora do alcance do goleiro Evgeni Nabokov, que tem 
          sido mais mortal do que nunca nesta série. 
           
          Enquanto isso, Kiprusoff, que já foi reserva de Nabokov em San 
          Jose, parou 49 dos 52 chutes que foram em sua direção. 
          Nunca a troca que rendeu Kiprusoff aos Flames pareceu tão boa. 
          E nunca pareceu tão amarga para a torcida dos Sharks. Neste exato 
          instante, não deve haver ninguém na baía de São 
          Francisco que não preferisse ainda ter Kiprusoff. 
           
          Já o segundo jogo foi decidido logo aos 20 segundos de jogo, 
          quando Marcus Nilson igualou o recorde da franquia para gol mais rápido 
          em playoffs. Os Sharks perderam o apoio da torcida e sumiram no gelo, 
          abrindo espaço para o que acabou sendo uma goleada por 4-1, com 
          excelente atuação da linha de Nilson, Shean Donovan e 
          Ville Nieminen. Cada um marcou um gol e uma assistência. 
           
          Agora a série se muda para Calgary. Os Flames nem têm lá 
          uma grande campanha em seus domínios. São os 7-2 fora 
          de casa que trouxeram o time até aqui; não os 3-3 em casa. 
          Mas o apoio da torcida só tem crescido, a ponto de os jornais 
          locais dedicarem, em dias que não se seguem a jogos, boa parte 
          de suas primeiras páginas a matérias sobre o clima na 
          cidade. 
           
          A chance que os Sharks têm é vencer o jogo 3. Se perderem, 
          o Canadá pode se preparar para receber as finais da Copa Stanley 
          pela primeira vez desde 1994. 
           
          • Muito tem sido falado sobre o futuro do elenco dos Red Wings. 
          Por causa da idade. Por causa do possível locaute. Por causa 
          da situação contratual. Por causa do novo cenário 
          que a NHL poderá ter na próxima temporada. É o 
          fim de uma era que deu muitas alegrias à torcida do time, que 
          tem uma das maiores representações aqui no Brasil, onde 
          a cobertura do hóquei só chegou a pouco mais de uma década, 
          justamente o período de maior sucesso do time. Tudo o que ainda 
          pode vir a acontecer é incerto, mas já falam até 
          em reconstrução. Para os brasileiros, que se acostumaram 
          a ver o Detroit todos os anos nos playoffs, é difícil 
          até imaginar uma reconstrução dos Wings, mas é 
          justamente isso que pode acabar acontecendo. 
        
           
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            | Alexandre Giesbrecht, 
              28 anos, ficou maravilhado com a beleza do Chile. | 
           
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            | POR CIMA O Calgary de Ville 
              Nieminen (24) atropela o San Jose de Jonathan Cheechoo (Paul Sakuma/AP 
              - 11/05/2004) | 
           
         
          
        
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