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          Alexandre Giesbrecht 
           
          PUCÓN, Chile -- Da varanda de um hotel cinco estrelas à beira do Lago 
          Villarrica, no centro do Chile, a melhor maneira de escrever uma matéria 
          sobre a NHL depois de dois dias com quase nenhum acesso à Internet é 
          com notas. Notas estas que acabam digitadas rapidamente no business 
          center com fila de espera (que raio de cinco estrelas é esse?), 
          em um teclado onde é difícil achar qualquer tecla com que estou acostumado. 
           
           
          Para se ter uma idéia, enquanto escrevo isto, os ÇÇ vêm como ÑÑ. Sim, 
          os chilenos têm uma tecla para o Ñ. 
           
          Mas vamos ao que interessa:  
           
          - A ESPN Internacional pode até ter uma programação diferente aqui (não 
          conferi), mas, mesmo que seja esse o caso, a NHL não é tratada com mais 
          respeito. À meia-noite e meia da madrugada de quarta-feira, peguei, 
          meio que por acaso, a transmissão do jogo 6 entre Sharks e Avalanche. 
          Mas, como eu tinha acabado de checar meu e-mail, já sabia do resultado 
          de antemão. Com a agenda cheia que estou tendo por aqui, não valia a 
          pena ficar acordado até tarde para assistir a uma partida cujo resultado 
          eu já conhecia. Ainda mais porque a imagem estava extremamente ruim, 
          com o branco do gelo se sobressaindo demais, como se a televisão tivesse 
          problema de brilho. Não era o caso, pois os outros canais estavam normais. 
          Aconteceu isso também na transmissão que 
          chegou ao Brasil? 
           
          - A chegada dos Flames às finais de conferência é um alívio para os 
          times canadenses, que tiveram dois times eliminados em cada fase até 
          agora -- tudo bem que, na primeira fase, os dois eliminados saíram de 
          confrontos entre canadenses. O time chegou meio desacreditado, apesar 
          de muitos acharem possível ir longe. Eles já chegaram longe, mas a cada 
          vitória que conseguem a esperança de continuar aumenta. Foi interessante 
          acompanhar a cobertura completa do Calgary Herald enquanto o serviço 
          que apresentava todas as páginas físicas do jornal gratuitamente durou. 
          A cidade está empolgada com seu time, que não se dava bem nos playoffs 
          desde 1989. O caderno de esportes dedica páginas e páginas à cobertura 
          da equipe, do adversário e do que mais está acontecendo no mundo do 
          hóquei. Mais até mesmo do que se esperaria da cobertura de futebol de 
          algum caderno de esportes brasileiro. Agora, para seguir acompanhando 
          as páginas físicas do Calgary Herald, será necessário um investimento 
          de quase dez dólares canadenses. De repente até vale a pena, dependendo 
          do rumo que a final da Conferência Leste tomar.  
           
          - Por outro lado, os Flames seguindo em frente significam que o Detroit 
          parou no meio do caminho. Pela terceira vez em quatro anos, os Wings 
          sucumbiram frente a um adversário teoricamente inferior. Para piorar 
          ainda mais a situação, o clima é de despedida. Com a idade avançada 
          de muitos jogadores, as situações contratuais e a possibilidade cada 
          vez maior de um locaute que paralisará a próxima temporada, a cara do 
          time que começará jogando a próxima partida, seja ela quando for, será 
          muito diferente. Aquele time que nos acostumamos a ver já não existirá 
          mais. E Steve Yzerman, um ícone de Detroit, ídolo de dez entre dez torcedores 
          do time, pode ter jogado a sua última partida no sábado, quando levou 
          um disco no rosto que o tirou do decisivo jogo 6. Deve haver um clima 
          de despedida bastante emocional.  
           
          - Como no ano passado, Avs e Wings foram eliminados na mesma fase. Neste 
          ano, até foram um pouquinho melhor do que 12 meses atrás, mas ainda 
          ficaram longe de satisfazer a torcida. Os Wings balançaram contra os 
          Predators e caíram contra os Flames; os Avs tiveram surpreendente facilidade 
          para bater os Stars e caíram com surpreendente facilidade frente aos 
          Sharks, apesar de terem esboçado uma pequena reação que nem chegou a 
          assustar tanto a torcida de San Jose, afinal foi sempre no sufoco, sem 
          que achassem um jeito de bater e abater o goleiro Evgeni Nabokov. 
           
          - Gostaria de ter tido tempo para tentar descobrir o que aconteceu na 
          série entre Flyers e Leafs. Depois de perder as duas primeiras partidas, 
          o time de Toronto fez bonito em casa, empatou a série e chegou com tudo 
          para o jogo 5. Quer dizer, deveria ter chegado com tudo. Tomou uma surra 
          de 7-2 (o que aconteceu, Belfour?) e depois não conseguiu segurar os 
          Flyers no que acabou por ser o último jogo da série.  
           
          - Nossos palpites conservadores fizeram com que na segunda fase nossa 
          equipe tivesse o pior índice coletivo de acerto nos pitacos. Eu não 
          aprendi a lição. Meus pitacos para as finais de conferência continuam 
          conservadores, inclusive com a indefectível previsão de sete jogos para 
          uma série equilibrada (Lightning x Flyers). 
           
          - Para encerrar, um parágrafo da brilhante coluna 
          que Mitch Albom escreveu no jornal Detroit Free Press no dia seguinte 
          à eliminação dos Wings: "Sim, Joseph fez a sua parte. Sim, os juízes 
          não ajudaram nada. Mas, depois de ouvir todo aquele papo da manhã seguinte, 
          de 'se pelo menos tivéssemos marcado um gol, tudo seria diferente', 
          pense no que está sendo dito: Se pelo menos, se pelo menos, então os 
          Wings poderiam ter arrastado a série de volta para o outro lado 
          do país, apenas para ter a chance de talvez ganhar um jogo para 
          talvez avançar além da segunda fase contra um sexto 
          colocado que não chegava tão longe havia 15 anos! Isso não 
          é papo de dinastia. Isso são vãs esperanças." 
        
           
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            Alexandre 
                Giesbrecht, publicitário, está no Chile a trabalho, mas tem 
                podido aproveitar um pouquinho também.   | 
           
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