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7 de maio de 2004
Divagações no Chile

Por Alexandre Giesbrecht

PUCÓN, Chile -- Da varanda de um hotel cinco estrelas à beira do Lago Villarrica, no centro do Chile, a melhor maneira de escrever uma matéria sobre a NHL depois de dois dias com quase nenhum acesso à Internet é com notas. Notas estas que acabam digitadas rapidamente no business center com fila de espera (que raio de cinco estrelas é esse?), em um teclado onde é difícil achar qualquer tecla com que estou acostumado.

Para se ter uma idéia, enquanto escrevo isto, os ÇÇ vêm como ÑÑ. Sim, os chilenos têm uma tecla para o Ñ.

Mas vamos ao que interessa:

- A ESPN Internacional pode até ter uma programação diferente aqui (não conferi), mas, mesmo que seja esse o caso, a NHL não é tratada com mais respeito. À meia-noite e meia da madrugada de quarta-feira, peguei, meio que por acaso, a transmissão do jogo 6 entre Sharks e Avalanche. Mas, como eu tinha acabado de checar meu e-mail, já sabia do resultado de antemão. Com a agenda cheia que estou tendo por aqui, não valia a pena ficar acordado até tarde para assistir a uma partida cujo resultado eu já conhecia. Ainda mais porque a imagem estava extremamente ruim, com o branco do gelo se sobressaindo demais, como se a televisão tivesse problema de brilho. Não era o caso, pois os outros canais estavam normais. Aconteceu isso também na transmissão que chegou ao Brasil?

- A chegada dos Flames às finais de conferência é um alívio para os times canadenses, que tiveram dois times eliminados em cada fase até agora -- tudo bem que, na primeira fase, os dois eliminados saíram de confrontos entre canadenses. O time chegou meio desacreditado, apesar de muitos acharem possível ir longe. Eles já chegaram longe, mas a cada vitória que conseguem a esperança de continuar aumenta. Foi interessante acompanhar a cobertura completa do Calgary Herald enquanto o serviço que apresentava todas as páginas físicas do jornal gratuitamente durou. A cidade está empolgada com seu time, que não se dava bem nos playoffs desde 1989. O caderno de esportes dedica páginas e páginas à cobertura da equipe, do adversário e do que mais está acontecendo no mundo do hóquei. Mais até mesmo do que se esperaria da cobertura de futebol de algum caderno de esportes brasileiro. Agora, para seguir acompanhando as páginas físicas do Calgary Herald, será necessário um investimento de quase dez dólares canadenses. De repente até vale a pena, dependendo do rumo que a final da Conferência Leste tomar.

- Por outro lado, os Flames seguindo em frente significam que o Detroit parou no meio do caminho. Pela terceira vez em quatro anos, os Wings sucumbiram frente a um adversário teoricamente inferior. Para piorar ainda mais a situação, o clima é de despedida. Com a idade avançada de muitos jogadores, as situações contratuais e a possibilidade cada vez maior de um locaute que paralisará a próxima temporada, a cara do time que começará jogando a próxima partida, seja ela quando for, será muito diferente. Aquele time que nos acostumamos a ver já não existirá mais. E Steve Yzerman, um ícone de Detroit, ídolo de dez entre dez torcedores do time, pode ter jogado a sua última partida no sábado, quando levou um disco no rosto que o tirou do decisivo jogo 6. Deve haver um clima de despedida bastante emocional.

- Como no ano passado, Avs e Wings foram eliminados na mesma fase. Neste ano, até foram um pouquinho melhor do que 12 meses atrás, mas ainda ficaram longe de satisfazer a torcida. Os Wings balançaram contra os Predators e caíram contra os Flames; os Avs tiveram surpreendente facilidade para bater os Stars e caíram com surpreendente facilidade frente aos Sharks, apesar de terem esboçado uma pequena reação que nem chegou a assustar tanto a torcida de San Jose, afinal foi sempre no sufoco, sem que achassem um jeito de bater e abater o goleiro Evgeni Nabokov.

- Gostaria de ter tido tempo para tentar descobrir o que aconteceu na série entre Flyers e Leafs. Depois de perder as duas primeiras partidas, o time de Toronto fez bonito em casa, empatou a série e chegou com tudo para o jogo 5. Quer dizer, deveria ter chegado com tudo. Tomou uma surra de 7-2 (o que aconteceu, Belfour?) e depois não conseguiu segurar os Flyers no que acabou por ser o último jogo da série.

- Nossos palpites conservadores fizeram com que na segunda fase nossa equipe tivesse o pior índice coletivo de acerto nos pitacos. Eu não aprendi a lição. Meus pitacos para as finais de conferência continuam conservadores, inclusive com a indefectível previsão de sete jogos para uma série equilibrada (Lightning x Flyers).

- Para encerrar, um parágrafo da brilhante coluna que Mitch Albom escreveu no jornal Detroit Free Press no dia seguinte à eliminação dos Wings: "Sim, Joseph fez a sua parte. Sim, os juízes não ajudaram nada. Mas, depois de ouvir todo aquele papo da manhã seguinte, de 'se pelo menos tivéssemos marcado um gol, tudo seria diferente', pense no que está sendo dito: Se pelo menos, se pelo menos, então os Wings poderiam ter arrastado a série de volta para o outro lado do país, apenas para ter a chance de talvez ganhar um jogo para talvez avançar além da segunda fase contra um sexto colocado que não chegava tão longe havia 15 anos! Isso não é papo de dinastia. Isso são vãs esperanças."

Alexandre Giesbrecht, publicitário, está no Chile a trabalho, mas tem podido aproveitar um pouquinho também.

 

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Página publicada em 6 de maio de 2004.