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7 de maio de 2004
Uma questão de merecimento

Por Marcelo Constantino

E então, o time que todos no Oeste apontavam como aquele que ninguém queria confrontar no começo chegou à final de conferência. O Canadá terá ao menos um representante! O Calgary Flames já havia eliminado o Vancouver Canucks em sete partidas, numa série em que os jogos 6 e 7 foram épicos. Agora, nas semifinais, eliminou o favorito Detroit Red Wings em seis. Alguém ainda duvida deste time?

Jamais. Antes da série contra os Wings muitos diziam que, para parar o ataque do time, era necessário conter Jarome Iginla. E lá se foi toda aquela portentosa defesa dos Red Wings fazer de tudo para parar a estrela adversária. Até que conseguiram na maior parte do tempo. Mas craque que é craque sempre encontra espaço e Iginla encontrou alguns desses espaços para marcar um gol e para dar passes para outros.

Já que a estrela exigia a atenção constante dos adversários, veio a demonstração de que o ataque dos Flames não se resume a Iginla. Tanto que o autor do gol que classificou o time à final de conferência foi Martin Gelinas, o mesmo que havia marcado o gol da classificação do time sobre os Canucks.

Você consegue imaginar o que passa pela cabeça de um jogador já experiente, de 33 anos de idade, que marca por duas vezes os gols mais importantes do seu time em duas semanas, gols na prorrogação, gols que deram a classificação ao time? Agora somem a isso o fato de que foi o mesmo Gelinas que marcou o gol da vitória do Carolina Hurricanes na final da Conferência Leste dois anos atrás, contra o Toronto Maple Leafs. O cara é o primeiro jogador na história da NHL a matar três séries com gols na prorrogação!

Muito também se fala das semelhanças dos Flames deste ano com os Mighty Ducks de 2003. De fato, são várias, mas com diferenças. Ambos são azarões em que poucos apostavam. Mas nos Ducks NINGUÉM apostava, os Flames já tinham entusiastas desde o começo dos playoffs. Miikka Kiprusoff tem sido sensacional, mas não chega ao sobrenatural que Jean-Sébastien Giguere atingiu no ano passado.

O que é idêntico é a forma com que ambos os times vencem os jogos. Todas as partidas em que os Flames venceram os Wings foram por diferença de um gol. Aliás, com exceção de um 4-0 no jogo 4 contra os Canucks, todas as demais vitórias dos Flames foram assim. Time que tem a sabedoria de vencer jogos apertados, com diferença de um gol, que vence partidas na prorrogação é time com carimbo de corrida séria pela Copa Stanley. Os Ducks seguiram assim até o jogo 7 da final no ano passado.

Mas não apenas isso. O Calgary Flames é daqueles times que começam um jogo de uma forma e terminam exatamente da mesma forma. Brigando, batalhando, correndo atrás. Não há disco perdido, não há partida perdida, desistir não faz parte do vocabulário do time. Todos na liga reconhecem que eles são o time mais batalhador dentre os quatro que restaram.

Este é um time que esteve a perigo de sequer chegar aos playoffs um mês atrás. Este é um time que deveria estar contente apenas por chegar aos playoffs depois de tanto tempo, um time que não deveria ter maiores aspirações na pós-temporada. Nada de fazer frente aos campeões da Divisão Noroeste.

Mas não, eles vão superando todos os que supostamente seriam superiores. Pela primeira vez em sua história de playoffs, os Flames conseguiram shutouts consecutivos. E isso contra um ataque que era considerado o melhor da liga, ao lado dos Senators. O ataque do time que venceu o Troféu dos Presidentes.

Claro que não foi fácil derrotar um time como os Red Wings. Mas, verdade seja dita, não foi tão difícil assim. Pra começar, foi menos difícil do que passar pelos Canucks na fase anterior. Aquela série custara sete jogos, prorrogações vencidas pelo adversário e um número consideravelmente maior de gols sofridos. Os Wings marcaram inclusive mais gols que os Flames na série, graças ao jogo-exceção da série, o jogo 2. A chave do Calgary é o espírito com que encaram cada partida.

A defesa deste time não tem jogadores com muita experiência. Seus principais defensores -- Robyn Regehr, Rhett Warrener, Jordan Leopold, e Andrew Ference -- não têm sequer 30 anos de idade ainda. No gol, Kiprusoff tem 27 anos e era reserva de Nabokov nos Sharks até esta temporada. Não sofre gols há 150 minutos.

É trabalho para seu ex-time, que agora terá de quebrar essa seqüência, na primeira final de conferência do Calgary em 15 anos. E na primeira final de conferência da história do San Jose.

Um ataque liderado por um jogador que, com a incógnita quanto ao futuro de Todd Bertuzzi, é tido como o melhor power forward da liga no momento, rodeado de coadjuvantes daqueles que ninguém dá muito por eles, mas que nunca se apagam. Uma defesa de jovens guerreiros com pouca experiência e um goleiro quente e sólido. Um time guerreiro que nunca desiste. Os Flames merecem estar aqui. E merecem até mais.

Marcelo Constantino torce pelo sucesso do representante único dos canadenses nas finais de conferência.
SOLIDEZ NO GOL Miikka Kiprusoff traz tranqüilidade e segurança ao gol dos Flames (Ryan Remiorz/AP - 03/05/2004)
 
O PENÚLTIMO PASSO Craig Conroy dispara para marcar o gol da vitória no jogo 5. Com Jarome Iginla sendo vigiado constantemente pelos defensores dos Red Wings, sobrou espaço para ele e Martin Gelinas aparecerem nos momentos decisivos da série (Ryan Remiorz/AP - 01/05/2004)

 

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Página publicada em 6 de maio de 2004.