Por
Alexandre Giesbrecht
Tudo muda a toda hora. A NHL também muda. Mas a minha leitura
de fim de semana me convenceu que ela muda, mas, ao mesmo tempo, não
muda.
Explico.
Peguei uma revista Inside Sports (que eu nem sei se existe mais), com
data de capa de novembro de 1992, o que significa que ela foi publicada
logo antes do início da temporada de 1992-93. Ao invés
de um guia da temporada, o assunto da NHL eram os problemas da liga,
cujo então presidente, John Ziegler, tinha acabado de se despedir
do cargo.
A matéria relacionava os vários erros dos 16 anos de reinado
de Ziegler, entre eles o sumiço sempre que alguma questão
polêmica surgia. Um exemplo apontado pela revista foi a "machadada"
criminosa de Adam Graves, então nos Rangers, em Mario Lemieux,
dos Penguins, nos playoffs da temporada anterior. O então manda-chuva
da liga se omitiu totalmente da questão, enquanto a imprensa
vociferava indignação.
O artigo o depreciava tanto, que criticava até pontos mais discutíveis
e vagos, como a mudança do nome do cargo para comissário.
Ziegler sequer discutia o assunto, mas a cúpula da liga insistia,
sem sucesso. Não preciso dizer que seu sucessor, Gary Bettman,
assumiu como comissário, não como presidente.
Toda crítica construtiva deve ser baseada em fatos e, se possível,
trazer junto sugestões, e foi o caso ali. Um Box destacava alguns
dos principais jogadores em ascensão naquele momento, e sugeria
que a liga deveria dar um destaque maior a eles, tal qual a liga de
basquete NBA faz com seus bons jogadores. Entre os destacados, nomes
como Jaromir Jagr, Jeremy Roenick e Eric Lindros.
A Inside Sports não foi o único veículo a sugerir
isso, é claro. Nos últimos anos, sempre foi possível
pinçar artigos como esse nos mais variados jornais e revistas
americanos. Naquela época, também não foram eles
os primeiros a sugerir esse destaque. A escolha de um novo comissário
com experiência na NBA trouxe a esperança de que isso finalmente
fosse acontecer.
Olhando para a questão 11 anos e meio depois, é fácil
ver que isso não aconteceu. E é fácil ver que,
se a NHL não tem os mesmos problemas daquela época, tem
outros, talvez até mais graves. Esses problemas, como a falta
de gols, as más arbitragens, a falta de público, a falta
de competitividade de vários times e outros já foram tratados
à exaustão por aqui. Mas a falta de competitividade (por
questões financeiras) de vários times chama a atenção
pelo modo com que essa questão era tratada em novembro de 1992.
"Equilíbrio" e "paridade" eram duas palavras
repetidas à exaustão. Parecia que a NHL já estava
pautada em um modelo baseado no que a liga de futebol americano NFL
tem hoje. Parecia. Como pudemos ver, o modelo está mais parecido
com o do beisebol, onde apenas os grandes têm chances e compram
todos os bons jogadores, enquanto os pequenos ficam à míngua,
tentando apenas não acabar a temporada no vermelho.
Quando Bettman sair, o que não parece iminente, é bem
possível que algum outro veículo traga uma matéria
como a que li no último sábado.
Mas aquela edição não foi a única que achei
no sábado. Também achei uma de dois anos depois, com a
prévia da temporada de 1994-95 — sim, aquela que acabou
só começando em janeiro. Ao contrário da Sports
Illustrated, que previa que os Blues seriam campeões com seu
novo técnico, Mike Keenan, a Inside Sports acertava em cheio
quem carregaria a Copa Stanley oito meses depois: o New Jersey Devils.
Hoje é comum ver os Devils apontados como favoritos à
Copa, mas naquela época fazer isso era um verdadeiro ato de ousadia.
Mesmo com o time tendo sido eliminado na segunda prorrogação
do jogo 7 das finais de conferência, ainda era tratado como uma
zebra. Só que todo o crédito que isso poderia dar aos
analistas da publicação é anulado por uma omissão,
ainda mais grosseira quando se leva em consideração que
o referido artigo tinha mais de dez páginas.
Essas páginas não tinham uma linha sequer sobre o até
então "possível" locaute. E não é
como se o locaute tenha sido uma surpresa. Qualquer um que acompanhasse
a NHL de perto à época sabia que havia uma chance nada
pequena de que a temporada de 1994-95 não fosse disputada. Como
se sabe hoje, aquela temporada só foi começar em 20 de
janeiro, mais de três meses depois do previsto.
Outra edição da Inside Sports que eu achei (ah, os tempos
em que revistas importadas não custavam os olhos da cara...)
trazia a prévia dos playoffs de 1993-94. Era consenso na época
que os Rangers eram os favoritos ao título, algo que confirmaram
dois meses depois. E aquela matéria dava a dimensão da
zebra que o Vancouver era quando chegou às finais. A bolsa de
apostas simulada pela revista pagava 4 para 1 nos Rangers e 100 para
1 nos Canucks.
Até aí, provavelmente todo mundo tinha expectativas semelhantes,
e é sempre mais fácil analisar previsões sabendo
o que aconteceu depois, mas o interessante ali eram os argumentos para
o time não ter vida longa nos playoffs: Kirk MacLean era suspeito
no gol, e Pavel Bure não estava dando conta do recado na frente.
Ambos foram os principais motivos para o time de Vancouver levar os
milionários Rangers ao jogo 7 das finais...
Passei também por algumas Sports Illustrated da mesma época,
mas o que eu queria dividir com você, mesmo, era sobre o que li
nas Inside Sports. Foi como uma aula de história no colégio,
onde você aprende sobre o passado para compreender melhor o presente.
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