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30 de janeiro de 2004
Problemas diferentes, resultados iguais

Por Alexandre Giesbrecht

Há pouco mais de dois anos e meio, os Penguins mandaram Jaromir Jagr para Washington, recebendo em troca três prospectos – Kris Beech, Michal Sivek e Ross Lupaschuk – e dinheiro. O gerente geral do time, Craig Patrick, foi duramente criticado pela troca, já que ainda não tinha assumido publicamente a decisão de cortar drasticamente os custos, à espera do novo acordo coletivo de trabalho, o que ainda custaria as cabeças de Darius Kasparaitis, Robert Lang, Alexei Kovalev e Martin Straka, entre outros.

É bem verdade que os prospectos recebidos ainda não se desenvolveram, e já nem há certeza de que um dia se desenvolverão, mas o negócio conseguiu ser ainda pior para os Capitals. Jagr nunca produziu o que se esperava dele, mesmo tendo algum talento a seu redor. Seu salário de US$ 11 milhões por temporada passou a ser um peso insuportável para um time que nunca consegue ir longe nos playoffs. Por isso ninguém ficou surpreso quando foi anunciado, na última sexta-feira, que Jagr iria para os Rangers, que poderiam absorver seu salário com seu orçamento quase ilimitado.

O que surpreendeu a muitos foi o retorno para o time da capital norte-americana. Apenas o mediano Anson Carter. Aliás, apenas Carter, não. Houve ainda um "retorno negativo": os Capitals vão desembolsar algo entre US$ 4 milhões e US$ 4,5 milhões do salário anual de Jagr, até o fim de seu contrato, em 2007-08. Com isso, a troca de 11 de julho de 2001 resume-se agora a Anson Carter pelos três prospectos, que ainda estão em Pittsburgh, mais os US$ 5 milhões que o Washington desembolsou à época, mais cerca de US$ 21 milhões em salários que o time terá de pagar para ver sua ex-maior estrela marcar gols com outra camisa. De acordo com o jornal New York Post, os Caps terão ainda de pagar dois terços do que faltar ser pago a Jagr se os Rangers rescindirem o contrato após a temporada de 2005-06.

Para os Rangers, não foi um mau negócio. Tentando se classificar para os playoffs, depois de seis temporadas de frustrações proporcionais ao tamanho da folha de pagamento, cumprem um ritual quase anual de trazer uma estrela para tentar se salvar. No ano passado, quem veio foi Alexei Kovalev. Apesar de o time ter conseguido 11-8-3-2 depois da chegada do russo, não foi o suficiente para continuar jogando em abril. No ano anterior, a chegada de Pavel Bure serviu apenas para um final de temporada com 6-6, também sem playoffs.

Aos poucos, vai-se percebendo a fórmula do time: "se é bom para os outros, deve ser bom para mim também." Foi assim em 1993-94, quando o título foi parar em Nova York com boa parte do elenco tendo vindo dos Oilers supercampeões da década de 1980. A diferença é que agora os Rangers vão, aos poucos, comprando (essa é a palavra que melhor se encaixa aqui) o time dos Penguins que se mantinha nos playoffs na década passada. Além de Kasparaitis, Kovalev e Jagr, ainda estão na "Grande Maçã" Matthew Barnaby e Dan LaCouture. Se o GG Glen Sather for rápido, quem sabe ele não consegue trazer de Washington também o atual artilheiro da temporada, Robert Lang, que, claro, é um ex-Penguin? Uma pena que Mario Lemieux está machucado, pois ele poderia se divertir com novos rumores de que estaria de partida para Nova York.

Por que essa fórmula não dá certo, então? Não é difícil explicar. Como os ambientes (e, obviamente, nem todos os jogadores) não são os mesmos, os jogadores também tendem a não ser os mesmos, isso sem falar que já estão mais velhos, o que começa a fazer diferença nos jogadores que já passaram dos 30. E ainda há o fato de que os Rangers vão estocando o que aparece pela frente, sem se preocupar se haverá um lugar para o novo jogador. Se for uma estrela, mas acabar relegado à terceira linha, onde não vai produzir, de que adianta?

Quando se olha para o elenco dos camisas azuis, vê-se que eles têm goleiros pouco confiáveis, uma defesa suspeita e um técnico (por sinal, o próprio GG Sather) que parece não saber direito o que está fazendo. Larry Brooks, colunista do New York Post, escreveu em um artigo sobre como se pode começar a resolver os problemas do time: "(Bobby) Holik tem de se tornar um central de linha de tranco. (Eric) Lindros tem de receber mais tempo no gelo e ao menos um ponta que consiga marcar. Linhas e pares de defesa têm de ser igualados contra os adversários. Quem joga mal tem de ficar no banco ou de fora, independentemente do nome, do salário ou da lenda. Mas isso é básico. Isso é um curso de hóquei para iniciantes em pleno século XXI. Infelizmente para os Rangers, seu professor está repetindo de ano."

Em Washington, problemas diferentes levam a um resultado parecido. Já está praticamente decidido que o time vai começar a ser reconstruído. Caras novas devem chegar, e jogadores que já são a cara do time podem estar de saída, como parecem ser os casos do goleiro Olaf Kolzig e do atacante Peter Bondra. A saída de Jagr significa definitivamente que os Caps jogaram a toalha em relação a esta temporada.

Não que a torcida veja tudo isso com bons olhos. O dono do time, Ted Leonsis, foi bastante vaiado na partida contra os Flyers, no domingo. Tão vaiado que, quando um torcedor se aproximou dele, ao fim do jogo, com um cartaz na mão, Leonsis partiu para cima dele. Há duas versões para o episódio: uma simples troca de empurrões e uma agressão mais grosseira por parte do milionário, que é um dos principais acionistas do provedor de Internet America Online (AOL). No cartaz, lia-se: "Hóquei dos Capitals, ações da AOL. Você vê alguma semelhança?"

Mas não é só o hóquei dos Capitals que parece estar caindo. Como bem apontou Michael Wilbon, colunista do jornal Washington Post, a capital dos EUA é um cemitério de estrelas. Michael Jordan não deu certo lá, assim como Jagr. Só que há uma grande diferença: Jordan chegou lá para ser um executivo dos Wizards, mas acabou retornando às quadras. Aos 39 anos. Já Jagr chegou no que deveria ser o ápice de sua carreira, vindo de quatro artilharias seguidas da liga. Entretanto, suas duas temporadas com menos pontos desde 1992 vieram com os Caps. Ele era uma aposta certa que… bem, deu errado.

Ele tem a chance de mostrar em Nova York que sua carreira não acabou, mas começou com o pé esquerdo. No seu primeiro jogo, os Rangers tomaram uma goleada de 9-1 dos Senators, e Jagr saiu do gelo sem gols, sem pontos e com -2 de mais/menos. No segundo jogo, vitória por 5-2 sobre os Panthers, marcou um gol e uma assistência, mas também foi diretamente responsável por um dos gols do adversário.

É, ele já não é mais uma aposta certa.

Alexandre Giesbrecht, publicitário, andou a pé no asfalto da Avenida 23 de Maio pela primeira vez, graças ao aniversário de 450 anos da cidade de São Paulo.
 
  JARO "CALÚNIA" A contra-capa do jornal New York Post mostra que as cobranças não demoram a chegar em Nova York (reprodução)

 

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Página publicada em 28 de janeiro de 2004.