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30 de janeiro de 2004
Jagr nos Rangers é mais uma magalomania de Glen Sather

Por Marcelo Constantino

É desnecessário recordar aqui o passado recente de transações realizadas por Glen Sather que se revelaram desastrosas para o New York Rangers. Simplesmente porque foram feitas sem qualquer critério, sem qualquer responsabilidade fiscal, na base do "vamos trazer mais e mais estrelas para o time". Raros foram os momentos em que parecia haver algum rumo nas contratações. Ainda assim, viraram chacota.

Por exemplo: quando todos diziam que os Rangers careciam de um atacante que fizesse um bom trabalho defensivo, lá foi Sather contratar o bom central Bobby Holik, exatamente o tipo de jogador que o time precisava. Ofereceu-lhe um contrato astronômico que virou um dos símbolos do absurdo que tomou conta dos salários na liga. Holik mergulhou no conhecido pântano nova-iorquino e nunca mais foi o mesmo, ainda que tenha melhorado recentemente.

Nesta temporada o time está levemente melhor do que nas ultimas em que não se classificou para os playoffs, mas o velho problema perdura: há uma forte carência no setor defensivo, agravada pela recente contusão de Darius Kasparaitis, que ficará de fora por quatro meses. O time, que já sofre gols a granel na temporada (com a natural exceção dos Penguins, os Rangers e os Capitals são os times que mais vezes sofreram cinco ou mais gols numa partida), sofre ainda com seus goleiros, que não inspiram a confiança de ninguém.

Pois bem, diante de um quadro desses, de séria carência defensiva, o que faz o insano Glen Sather? Desafia a lógica e a sensatez e contrata mais um atacante. E um atacante que não defende.

Diferentemente da maioria dos jogadores da atualidade, que buscam cada vez mais incrementar o aspecto defensivo dentre suas características, Jaromir Jagr ainda é um jogador essencialmente ofensivo. Possivelmente o mais habilidoso na liga quando se fala em atacar.

Qual o sentido então de se contratar o Tcheco Maravilha? Simplesmente porque os Rangers podem, não exatamente porque precisam. Jagr foi para os Rangers porque era o único lugar que comportaria, anda que sem qualquer necessidade, o salário dele. E, claro, porque no fim das contas foi um bom negócio. Afinal, foi uma troca mano a mano por Anson Carter.

Não há a menor sombra de dúvida de que os Rangers melhoram com Jagr. Chega a ser covardia compará-lo ao supervalorizado Carter, ex-Oiler que agora poderá dizer aos filhos que um dia foi trocado por um jogador vencedor de cinco troféus Art Ross. Jaromir Jagr, sozinho, é capaz de levar esse time dos Rangers aos playoffs e, estando lá dentro, fazer o time avançar além da primeira fase. Sozinho. Tal qual ele fazia com os Penguins sem Mario Lemieux.

Porém, os dois anos de Capitals mostram o contrário também, que o tcheco pode ser apenas mais um. Será necessário ver qual Jagr será o dos Rangers e o mais provável é que seja o Jagr dos Caps. Afinal, quem é que chega a Nova York e joga tão bem quanto antes? Ninguém. Não esperem que o tcheco fuja a esta regra, mas que seja tomado como referencial os tempos dele de Pittsburgh, não de Washington.

E a defesa? --
Para "reforçar" a defesa, os Rangers contrataram o rodado defensor Jamie Pushor, que estava jogando na AHL pelo Syracuse, com passe preso ao Columbus Blue Jackets. Ainda que esse tipo de raciocínio não pareça ser o forte de Sather, a dedução lógica é simples: um jogador que não serve para atuar nem como sétimo ou oitavo defensor dos lamentáveis Blue Jackets serve para ser titular nos Rangers. Alô, Igor Ulanov, você pode ter uma nova chance em Nova York!

Na festejada estréia de Jagr com a nova camisa, um acachapante desastre. Simbólico. Os Senators, time de melhor saldo na liga há algumas semanas, meteram 9-1 jogando em casa. Entra goleiro, sai goleiro, não adianta, o problema não é (somente) ali. A defesa é que é um verdadeiro mainá. Era como se alguém dissesse: "Sather, seu imbecil, será que você não percebe que o problema do time não é exatamente ofensivo?"

Na estréia em casa, uma boa partida de Jagr, com direito a três pontos, na vitória por 5-2 sobre o fraco Florida Panthers. Pode ser um sinal de que a equipe terá melhores dias pela frente. Se o time conseguir seguir o lema "a melhor defesa é o ataque", ótimo. Mas isso não existe hoje em dia na NHL.

Marcelo Constantino terminou a leitura de “A Ditadura Derrotada”, de Elio Gaspari. Tal qual os dois volumes anteriores, trata-se de um tijolo recomendadíssimo para quem tem interesse nos detalhes e meandros da política do período do último regime ditatorial brasileiro
 
  FELIZ ESTRÉIA NO MSG Jaromir Jagr comemora a vitória em sua estréia no Madison Square Garden, quando os Rangers bateram os Panthers por 5-2 (Kathy Willens/AP - 26/01/04)

 

MILHÕES E MILHÕES
Quando Jagr foi apresentado à imprensa como novo contratado, havia três Rangers ao lado dele: Lindros, Messier e Leetch. Juntos, os quatro jogadores ganham cerca de US$ 30 milhões por ano, valor superior às folhas de pagamento inteiras de Edmonton, Atlanta, Pittsburgh, Florida, Minnesota e Nashville. Com exceção dos Pens, todos os outros times estão em patamar semelhante ao dos Rangers na tabela.

 

 

 

 

 

 

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Página publicada em 28 de janeiro de 2004.