Por Humberto Fernandes

Na última edição de The Slot BR a equipe elaborou um especial com os pitacos de meia temporada. Os participantes opinaram sobre os vencedores até o momento dos prêmios concedidos pela NHL, além das surpresas e decepções, inclusive fazendo previsões sobre o restante da temporada.

O especial não permitia que os participantes justificassem suas escolhas e desse fato nasceu a idéia para este artigo, sugerido por Marcelo Constantino.

Hart Memorial

Ninguém é mais importante para seu time que Martin Brodeur. O New Jersey Devils ocupa a sexta colocação da Conferência Leste, quatro pontos atrás do líder Toronto Maple Leafs, apesar de ter apenas o 22º ataque da liga em gols marcados e, à exceção de Patrik Elias, nenhum outro jogador da equipe tem dois dígitos em gols. Como explicar a boa campanha então? Os Devils têm a melhor defesa, a única com média de gols sofridos abaixo de dois por jogo, a terceira maior porcentagem de defesas e com mais shutouts que qualquer outro time. Brodeur é o responsável por isso.

O elenco dos Devils de forma alguma é tão bom quanto parece. A diferença deles para outros times liga afora é que os jogadores se comprometem a jogar especificamente dentro do sistema em que nitidamente são os melhores. A defesa, ponto forte do time, trouxe dois novatos para esse ano e há pouco perdeu o capitão Scott Stevens, com síndrome pós-concussão.

Não é difícil decidir entre Brodeur e os demais candidatos atuais ao Hart: basta tentar imaginar como seriam os Devils sem ele. O Atlanta Thrashers sem seu goleador e artilheiro Ilya Kovalchuk não "morreria" por falta de gols, Pavel Datsyuk não é a alma do Detroit Red Wings e Robert Lang sofre sozinho no Washington Capitals.

Vezina

Dificilmente um jogador candidato a MVP da temporada não leva o prêmio como o melhor em sua posição. Se não há muita discussão para o Hart, imagine então para o Vezina. Brodeur é o favorito disparado, mas há outros goleiros bem credenciados. A concorrência vem do Canadá: Miikka Kiprusoff, do Calgary Flames, e José Théodore, do Montreal Canadiens. A surpresa pode ser David Aebischer, do Colorado Avalanche.

Kiiprusoff tem os melhores números da liga em média de gols sofridos e porcentagem de defesas. Venceu 11 dos 16 jogos que disputou, sendo um dos responsáveis pela ascensão dos Flames. Infelizmente para todos aqueles que adorariam ver o Calgary nos playoffs novamente, Kiiprusoff contundiu-se no início do ano e deve retornar em meados de fevereiro.

Théodore está tão bom — ou até melhor — quanto dois anos atrás, quando foi escolhido como o MVP da temporada. É a grande estrela dos Canadiens e o maior responsável pela ótima campanha da equipe. A menos que aconteça uma tragédia, os Habs estarão nos playoffs com méritos e Théodore será finalista do Vezina.

Brodeur dispensa maiores comentários. Mais dois troféus para sua coleção.

James Norris Memorial

Jogar ao lado de Al MacInnis ou Barret Jackman não deve ser muito difícil; segurar o sistema defensivo do St. Louis Blues praticamente sozinho é missão com uma grande recompensa ao final: o Norris.

Chris Pronger está de volta à velha forma após perder quase toda a temporada passada contundido. Quando os Blues começavam a demonstrar que seriam uma das forças da Conferência Oeste, perderam MacInnis com uma grave contusão no olho. Dez jogos depois, foi a vez de Jackman deixar o time após machucar o ombro. Pronger mantinha-se firme à frente da equipe que lutava pela liderança da Divisão Central.

No início desse ano, Jackman retornou ao gelo e disse adeus na segunda partida. Um ombro deslocado tira o atual vencedor do Calder Memorial pelo restante da temporada.

Apesar desses dois desfalques na defesa, os Blues continuam lutando pelas primeiras posições no Oeste. Pronger está em segundo na artilharia dos defensores com 34 pontos, atrás apenas de Sergei Gonchar.

Na temporada em que Nicklas Lidstrom, dos Red Wings, detentor dos últimos três Norris não está tão bem, vencer o prêmio fica mais fácil, ainda mais sem MacInnis e Derian Hatcher, também dos Red Wings, na disputa.

Os números ofensivos praticamente definem o vencedor do Norris, mas Gonchar não é uma ameaça, com seu terrível -21 de mais/menos. Os maiores rivais de Pronger parecem ser Rob Blake, do Avalanche, Adrian Aucoin, do New York Islanders, e Scott Niedermayer, dos Devils. Sheldon Souray, dos Canadiens, faz ótima temporada, mas deve levar apenas o prêmio de "o retorno do ano".

Blake reina em Denver junto de sua seleção, Aucoin nunca recebeu a atenção merecida da liga e Niedermayer tem Brodeur na retaguarda. Por essas e outras é que Pronger vai levar o Norris.

Calder Memorial

Trent Hunter é quem tem mais gols. Michael Ryder tem mais assistências e pontos. O defensor Dan Hamhuis fica no gelo mais tempo que qualquer outro novato. E o único goleiro na disputa é Andrew Raycroft. Ao que tudo indica, a disputa ficará entre três prospectos do recrutamento de 1998.

Hunter é o goleador (15 gols) e artilheiro (29 pontos) dos Islanders, empatado com outros veteranos. Escolhido na sexta rodada do recrutamento pelo Mighty Ducks of Anaheim, Hunter enche os olhos de sua torcida. Sem Mark Parrish e Alexei Yashin, os Isles precisam do garoto para vencer.

Raycroft está em sua quarta temporada na liga e ainda é considerado um novato. Escolhido na quinta rodada do recrutamento, ele deveria ser reserva de Felix Potvin, contratado para ser o goleiro número um do Boston Bruins e liderar o time rumo aos playoffs. Os papéis se inverteram: o veterano é reserva do novato. Raycroft justifica a preferência com bons números. Ele é o décimo em vitórias e gols sofridos por partida e sétimo em porcentagem de defesas.

Apesar do sucesso dos dois jogadores acima, é bem provável que Ryder, dos Canadiens, escolhido na oitava rodada daquele recrutamento, vença a disputa com alguma folga. Vice-goleador (14 gols) e vice-artilheiro (36 pontos) de sua equipe, lidera também os novatos, com sete pontos de vantagem sobre Hunter. Ryder tem papel fundamental na vantagem numérica dos Habs e se mantiver o desempenho de até então vai mostrar que um prospecto escolhido na 216ª posição geral também pode brilhar na NHL.

Jack Adams

Ninguém pode com ele. Corajosos assim são poucos. A aposta em Bob Hartley para vencedor do prêmio de melhor treinador da temporada é unânime. Capa da edição 31 de The Slot BR, Hartley ensaiava seus primeiros passos como treinador do Atlanta Thrashers, em artigo que eu tive o prazer de escrever. Ele desceu degraus e encarou o desafio — e será recompensado por isso. Na época ele já dizia, "nós vamos fazer isso [ir aos playoffs], não aposte contra nós", mas pela primeira vez em sua carreira de treinador não conseguiu chegar aos playoffs.

Apesar de tantos problemas na pré-temporada dos Thrashers, a equipe com a cara de Hartley sempre esteve brigando pela classificação, sendo considerada por alguns a maior surpresa da temporada. Particularmente não vejo surpresa nenhuma no sucesso de um time que conta com um treinador de alto nível.

O troféu pode escapar das mãos de Hartley se os Thrashers não forem aos playoffs e seus concorrentes ao prêmio classificarem seus times. Darryl Sutter, dos Flames, Claude Julien, dos Canadiens e Ron Wilson, do San Jose Sharks, são os mais cotados. Quem corre por fora é Andy Murray, do Los Angeles Kings. Com tantas contusões importantes ele ainda consegue manter seu time jogando um hóquei decente.

Sutter durante anos fez dos Sharks uma equipe respeitada e agora tenta levar os Flames aos playoffs pela primeira vez em anos; Julien está há pouco tempo na liga e tem um bom material humano em mãos; Wilson é um mau treinador, limitado, mas que está dando certo com a garotada dos Sharks.

Surpresas

Os Sharks são a surpresa da temporada pelo bom hóquei que apresentam tendo um elenco jovem e um treinador ruim. Como não parece haver concorrência na Divisão do Pacífico, seguem isolados.

Datsyuk não é a surpresa da temporada como jogador porque já passou disso há duas temporadas. O russo é craque, não mais surpresa. Esse título fica para Souray, que retornou de contusão grave e lidera os defensores em gols, fazendo até hat trick. Lang é mencionado por sua explosão como artilheiro, mas o tcheco já teve temporada com 80 pontos e mais de 30 gols em sua carreira.

As decepções da temporada são fáceis de apontar: Dallas Stars e Capitals, na categoria "equipes que enchem seus jogadores de dinheiro e não ganham de ninguém", e Mike Modano, entre os jogadores. O capitão dos Stars tem 27 pontos e -18, no pior ano de sua carreira. Apesar disso, foi votado como titular do Jogo das Estrelas.

Tanto Stars quanto Capitals têm elencos para chegar aos playoffs com ligeira tranquilidade, o que não vai acontecer. Esperem por novidades em ambos.