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23 de janeiro de 2004
Poderia ser melhor

Por Alessander Laurentino

O Vancouver Canucks continua na batalha para tentar tomar o título de campeão da Divisão Noroeste, que é praticamente de posse definitiva do Colorado Avalanche. De vez em quando os Canucks cismam em jogar fora as chances de ultrapassar e abrir vantagem sobre o adversário. Um exemplo disso é o desempenho recente do time jogando em casa, tendo inclusive perdido para time mais fracos ou em jogos que deveria ter vencido. No dia 17 foi derrotado pelos Mighty Ducks por 2-1 em pleno GM Place após ter começado o jogo vencendo.

A última vitória dos Canucks jogando em casa foi no dia 14 de dezembro, e, mesmo assim, foi na prorrogação, assim como as outras três vitórias anteriores, deixando o recorde negativo de ter conquistado a última vitória em casa no tempo regular no longínquo 8 de novembro de 2003. Nesse período o time acumula seis derrotas e quatro empates jogando em casa, com as únicas quatro vitórias tendo sido conquistadas na prorrogação. O que mais impressiona negativamente é o fato do time ter começado a temporada com nove vitórias e um empate jogando em casa.

Como então se manter na disputa com os Avs pelo título da divisão se os Canucks não conseguem vencer em casa?

A resposta é simples: fazendo fora de casa o dever de casa. Desde 24 de novembro de 2003 o Vancouver acumula 11 vitórias, apenas três derrotas e um empate jogando em outros domínios, e, graças a esse excelente desempenho, tem conseguido se manter entre os três primeiros do Oeste, seguindo de perto os Avs e os Red Wings. Porém os Blues vêm logo atrás, trazendo os Sharks com eles.

Algumas contusões vêm pesando negativamente no desempenho do time. Talvez o jogador que mais faça falta seja o talentoso e valente Matt Cooke. Junte a isso as contusões de Magnus Arvedson e Artem Chubarov e os Canucks ficam desfalcados de dois centrais.

Outra estatística que à primeira vista parece ser um grande problema é a falta de gols de Todd Bertuzzi, mas basta olhar seus números com mais calma e se conseguirá ver o que realmente isso quer dizer. Bertuzzi sempre foi conhecido como um atacante peso pesado, com muita força e talento, capaz de fazer jogadas sensacionais, mas também com enorme tendência a fazer besteiras históricas. Foi assim quando ficou suspenso por dez partidas duas temporadas atrás, em conseqüência de uma briga, e também nas diversas vezes em que acabou deixando o time em situação de desvantagem numérica quando a equipe estava passando por um bom momento na partida. Além disso, o seu aspecto defensivo sempre foi sofrível.

O que tem acontecido nessa temporada é que não apenas Bertuzzi, mas toda a primeira linha dos Canucks parece ter finalmente tomado consciência defensiva. Bertuzzi continua sendo um dos líderes no time em minutos de penalidade, mas parece ter recebido um transplante de neurônios. O seu mais/menos é o melhor do time, registrando +21, seguido pelo capitão Markus Naslund.

Outro ponto crítico no desempenho ofensivo da equipe é a queda livre no desempenho em vantagem numérica. Na temporada passada os Canucks eram detentores do terceiro melhor time de vantagem numérica da liga, e agora o time está afundado na 18.ª colocação neste critério. É nesse ponto que os gols de Bertuzzi têm feito mais falta. Jovanovski, Sopel, Ohlund, Naslund e os irmãos Sedin não vêm conseguindo resolver esse problema, talvez até pelo fato do time ter se acostumado com Bertuzzi comandando o time neste aspecto, jogando próximo do goleiro adversário e congestionando a frente do gol, fazendo com isso que surgissem espaços para os companheiros ou mesmo abrindo espaço para si mesmo.

Nesse momento, chegamos a um pensamento óbvio: será que os outros times conseguiram entender os Canucks e agora estão preparados para enfrentar Bertuzzi, Naslund, Morrison e companhia?

Do meu ponto de vista pessoal a resposta é não. O que se passa em Vancouver é mais um daqueles momentos em que o time se acostumou com bons desempenhos na temporada regular e já espera pelos playoffs na metade da temporada. E os fracassos e decepções nos últimos três anos nos playoffs parecem ter criado uma ansiedade geral na torcida, na imprensa e até mesmo nos jogadores, que sabem que a torcida não se satisfaz mais com apenas boas vitórias na temporada regular. Hoje se espera mais do time, se espera que realmente entre na pós temporada como um "contender", não como um "pretender" (trocadilho no inglês, relacionando um time como pretendente ao título ou apenas uma farsa).

E por mais que o time vença na temporada regular, por mais recordes que sejam quebrados, a dúvida vai permanecer até os playoffs novamente: Dan Cloutier é o goleiro capaz de levar o time às finais, ou novamente vai jogar a temporada inteira do time no lixo?

Há cerca de quatro ou cinco anos, jogar nos Canucks era difícil porque o time ia mal, a franquia de mal a pior e a torcida fugia do GM Place. Com desempenhos medíocres, quatro temporadas consecutivas fora dos playoffs, uma rotatividade incrível de jogadores e técnicos, nesse cenário ninguém parecia se importar com nada, nem mesmo a passagem de Mark Messier foi capaz de alterar essa rotina (e Messier viu sua majestade manchada, pelo menos nesse lado do Canadá). Os jogadores que passavam por Vancouver pareciam alheios à situação da franquia, sabendo que em breve seriam negociados e que estavam apenas passando uma chuva em Vancouver. Aliás, como chove em Vancouver.

Daquela época, jogadores como Adrian Aucoin e Bret Hedican se destacavam, talvez pelo time ser muito fraco ou porque eles fossem uns dos poucos que se importavam. É surpreendente que jogadores como Markus Naslund tenham sobrevivido àquela idade das trevas na franquia, quando inclusive a venda da franquia esteve para ser concretizada e o time esteve muito perto de sair de Vancouver.

A pedra fundamental na virada foi a chegada de Brian Burke para ser o gerente geral da franquia e, com ele, o técnico Marc Crawford. Burke foi capaz de montar um time competitivo e que trouxe a torcida de volta ao estádio, devolveu o prazer de assistir o time jogar e o orgulho de ser torcedor do Canucks.

Com um time bastante ofensivo, jovem e talentoso, mas que também tem uma boa defesa, Burke não se esqueceu do goleiro. Após as fracassadas passagens de Garth Snow, Kevin Weekes, Sean Burke, Corey Schwab, Felix Potvin entre outros, Burke resolveu apostar em Dan Cloutier. O que aconteceu até agora já sabemos, o que queremos saber é se nos playoffs de 2004 Cloutier será Cloutier ou se enterrará de vez seu futuro na franquia, porque um novo fracasso quase certamente lhe custará o lugar.

Quem não lembra do famoso frango do meio do gelo que virou o momento na série contra os Red Wings em 2002? E as falhas e a contusão contra os Avs em 2002? Sem falar nas péssimas atuações contra Blues e no final da série contra o Wild em 2003.

Por essas e outras razões que os torcedores e a imprensa de Vancouver são quase unânimes em acreditar que o time poderia ser melhor se tivesse um goleiro também nos playoffs e o ataque voltasse a produzir como no passado recente.

Dá para acreditar, mas sonhar é algo que os fãs dos Canucks não estão mais acostumados.

Alessander Laurentino é torcedor incondicional do Vancouver Canucks há quase dez anos.
 
  DÚVIDA NO GOL Dan Cloutier terá sua úlitma chance no gol dos Canucks nesses playoffs (Lyle Stafford/Reuters - 25/04/03)
   
 
  FORÇA NA FRENTE O atacante Todd Bertuzzi, um raro e legítimo exemplar de power forward tem buscado melhorar seu jogo defensivo (Eric Miller/Reuters - 02/05/2003)

 

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Página publicada em 22 de janeiro de 2004.