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2 de janeiro de 2004
Novas regras para atrair público

Por Marcelo Constantino

Seguindo nosso especial, hoje vamos listar aqui algumas das várias idéias que volta e meia surgem em artigos e fóruns, todas com o objetivo natural de melhorar o jogo. É fundamental ressaltar que, ainda que exista um punhado de boas idéias, não é recomendável fazer uma série de alterações bruscas de uma hora para outra, em qualquer esporte, sob pena de descaracterizá-lo frente ao seu público fiel. A busca por um novo público tem seu limite no desrespeito ao público atual.

É bom lembrar também que novas idéias para atrair público significam, em grande parte, idéias para melhorar a qualidade do jogo, seja através de sua dinâmica (fazer com que ele pare o menos possível), seja através da ofensividade (aumentar o número de gols).

Retirar um jogador de cada time X aumentar o tamanho dos rinques:
É conclusão óbvia o fato de que hoje em dia os jogadores cobrem mais espaços do que há vinte anos atrás. Maior condicionamento físico e o aumento da estatura e de peso médio dos jogadores da NHL corroboram isso. Como solução muitos sugerem a retirada de um jogador de cada time, tornando o padrão com quatro jogadores de linha e um goleiro. Por outro lado, outros sugerem o aumento do tamanho dos rinques, geralmente para o tamanho olímpico, e afirmam que isso é possível de ser feito em todos os estádios da liga. Hóquei é disputado com cinco patinadores e um goleiro, ponto final. O ideal, então, seria aumentar o tamanho dos rinques, mas a NHL perdeu o bonde aqui: de 1990 para cá, nada menos que 21 novos estádios foram criados, todos sem possibilidade de alargar a superfície do gelo.

Eliminar a linha vermelha divisória (e/ou as azuis também):
Se é para fazer o jogo rolar mais rápido e dinâmico, com menos paralisações, por que não? Às favas com o passe de duas linhas! Não me agrada a retirada das linhas azuis, creio que bastaria a retirada da vermelha para que fosse dado um baque tanto nos esquemas de armadilha da zona neutra como na falta de dinâmica do jogo. Sim, porque passe de duas linhas é mais um fator, dentre outros vários, que faz o jogo parar.

Bonificação em pontos para cinco gols marcados ou mais:
De fato seria um incentivo a mais, mas aí estaria aberta a porta para os pontos de bonificação, o que é pavoroso. Possivelmente diversas novas idéias de bonificação poderiam surgir com a brecha aberta, o que seria um mau precedente. Que os pontos sejam concedidos exclusivamente pelo básico: vitórias (em tempo normal e prorrogação) e empate.

Reduzir o tamanho dos equipamentos dos goleiros:
Os goleiros vão chiar, dizendo que querem mais proteção, blábláblá, mas a verdade é que isso em grande parte é subterfúgio para que cada vez mais tenham algo maior com que parar o disco. Não basta limitar, é necessário reduzir já o tamanho de alguns equipamentos. São raras as contusões de goleiros oriundas do disparo de um disco, os jogadores de linha sofrem bem mais com isso.

Servir os dois minutos integrais das penalidades menores:
Até os anos 50, a NHL era assim. O problema é que o time de vantagem numérica do Montreal Canadiens de meados daquela década era tão poderoso que a liga acabou por adotar a atual regra, de que o jogador fica livre assim que sai um gol do adversário. Scotty Bowman sugere um meio termo, que os dois minutos integrais valham para algumas penalidades, como high-sticking. Não vejo problemas em manter as determinações atuais, o problema está é na marcação correta das penalidades, até que os jogadores aprendam que as regras não permitem agarrar ou enganchar o adversário. Marquem mais penalidades, ou melhor, marquem as penalidades corretamente (inclusive para os que as cavam) e não será necessário servir os dois minutos integralmente para que tenhamos mais gols em vantagem numérica.

Não permitir que o time em desvantagem numérica cometa icing:
Trata-se de uma boa medida de fortalecimento dos times de vantagem numérica e contra times de desvantagem que ficam apenas zunindo o disco para longe. E elimina essa coisa estranha de que "não se pode cometer icing, a não ser que você esteja em desvantagem numérica". Quer dizer, é uma medida que atualmente beneficia o infrator.

Voltar com a regra tag-up:
A regra tag-up é européia e foi utilizada na NHL de 1986 a 1996, mas a liga considerou que os jogadores estavam amolecendo quando mandavam o disco para a zona de ataque. Ela consiste no seguinte: se uma jogada está em impedimento e o time da defesa tem a posse do disco, o árbitro levanta o braço indicando impedimento, mas sem parar a jogada. É o que podemos chamar de impedimento em atraso (delayed offside). Os atacantes podem se "desimpedir", voltando para a zona neutra e seguir o ataque. O mais importante de tudo isso é que a jogada não pára. A regra foi utilizada nas Olimpíadas de 2002, mas não houve consenso para introduzi-la novamente na NHL.

Acabar com a penalidade por instigar brigas:
É necessário acabar com esse papo furado de que as brigas espantam potenciais torcedores. Hóquei não é feito para virgens aos vinte anos de idade, nem para mocinhas que só gostam de ver jardinzinho da janela. Se há algo que é característico do esporte e que fascina, são as brigas. Poucos esportes têm rivalidades tão sangrentas como no hóquei e as brigas são o desdobramento mais claro possível disso. E, verdade seja dita, violência atrai público. Isso já foi dito por vários: ninguém muda de canal durante uma briga no gelo. Enfim, brigas devem ser incentivadas, ao menos flexibilizem mais a penalidade contra os instigadores. Agora, uma ressalva: a NHL jamais deverá ser leniente com jogadores que visem contundir o adversário.

Proibir a tática da armadilha da zona neutra:
Complicado proibir uma tática, não? Ainda mais pq é difícil de caracterizá-la no gelo. Os que propõem isso levantam a NBA como exemplo, onde a marcação por zona é proibida e penalizada. São esportes diferentes, não vejo como fazê-lo de forma sensata na NHL.

Vitória valendo três pontos:
Eis uma ótima idéia, que deu certo no futebol. Se atrair público é evitar jogos enfadonhos onde os times não objetivam vencer em primeiro lugar, então que se valorize as vitórias. Para isso, nada melhor que dar um ponto a mais e caracterizar o empate como uma perda para os dois times. O empate deixa de ser um ganho de 50% para cada time, passa a ser uma perda para ambos. A vitória na prorrogação seguiria valendo um ponto a mais, num total de dois.

Disputa de pênaltis em caso de empate:
Isso é o horror. Alguns sugerem até mesmo eliminar as prorrogações (na temporada normal, apenas) para que seja instituída a disputa. Outros sugerem que se faça somente se a partida terminar empatada após a prorrogação. Enfim, seria o fim dos empates. Do meu modo de ver, um grave desrespeito ao público fiel da NHL. Cairíamos na mesma loteria onde o futebol costuma cair, um desastre. Que a disputa por pênaltis se restrinja ao Jogo das Estrelas, onde não faz mal a ninguém.

Arbitragem implacável com o agarra-agarra:
Eis um ponto vital que está corroendo o esporte. É também o ponto principal que deve ser combatido, porque a NHL ate agora só tem falado muito e agido muito pouco. De tão especial, o item será tema de uma matéria especial, na próxima semana. Até lá.

Marcelo Constantino manda um abraço a todos leitores e amigos da The Slot BR.
 
  MEGA-PROTETORES O goleiro Jean-Sébastien Giguere tem sido freqüentemente criticado por causa do tamanho de seus equipamentos protetores (Paul Chiasson/AP - 02/06/2003)
   
 
  DEIXA ROLAR Que uma coisa fique bem clara: as brigas atraem, e muito, público para o hóquei (Ellen Ozier/Reuters - 05/12/2003)

 

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O que há com a NHL?

 

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Página publicada em 31 de dezembro de 2003.