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12 de dezembro de 2003
Mais uma vítima de uma estranha síndrome

Por Marcelo Constantino

As expectativas do Anaheim Mighty Ducks para esta temporada estavam muito além de uma mera luta para chegar aos playoffs. Um surpreendente vice-campeonato após uma belíssima campanha em 2003 credenciavam o time da Disney a uma temporada como um dos grandes do Oeste, ainda que poderosas forças como Avs, Wings, Canucks e Stars (este último em tese) estivessem na mesma conferência.

Para esta temporada, o time sofreu uma baixa considerável: o melhor jogador de sua breve história, Paul Kariya, recusou a oferta da gerência para renovar contrato e foi jogar em Denver. Kariya já não era mais a máquina ofensiva do final dos anos 90, andava meio obscurecido pelo sistema defensivo do técnico Mike Babcock e parecia sentir falta de seu companheiro Teemu Selanne, ao lado de quem ele teve seus melhores dias na liga.

Com o espaço aberto pela saída de Kariya, Sergei Fedorov foi contratado para ser a grande (e única) estrela do time. Era o tipo de situação que o russo almejava, depois de tantos anos na sombra de Steve Yzerman em Detroit e ainda tendo de dividir o estrelato com Lidstrom, Shanahan, Hull, Hasek, dentre outros.

Mas eis que os Ducks são os mais novos sofredores da famosa e epidêmica "Síndrome do time azarão que chegou às finais na temporada anterior", ou qualquer outro título semelhante. Depois dos Devils em 96, Panthers em 97, Capitals em 99 e Hurricanes em 2003, agora é a vez dos Mighty Ducks.

Não se iludam com a goleada sobre o lamentável Dallas Stars no último domingo, porque aquilo é um dos lampejos que o time tem tido na temporada. A vitória salvou uma semana que tinha tudo para ser pra lá de lamentável, que começou com uma derrota diante dos fracos Blue Jackets, e agravou-se com duas goleadas seguidas, 7-2 frente aos Red Wings, no aguardado retorno de Fedorov a Detroit, e 6-2 diante dos ainda surpreendentes Thrashers.

Um sistema baseado essencialmente na defesa foi o ponto forte dos Ducks nos playoffs. Era difícil pacas marcar um gol neste time, tanto pelo sistema como pela forma excepcional do goleiro Jean-Sébastien Giguere. Hoje o time sofre gols a rodo e Giguere amarga uma prolongada temporada no banco, tendo de assistir a atuações e números melhores de seu reserva, Martin Gerber. Era Gerber, aliás, que estava no gol na vitória por shutout contra os Stars no domingo. Foi o segundo shutout do time na temporada, ambos conseguidos com Martin no gol.

Na temporada passada eles primavam pela eficiência em vencer jogos apertados, por um gol de diferença. A realização plena disso foi nos playoffs, onde praticamente todas as vitórias do time saíram dessa forma. Agora o Anaheim é o time com mais derrotas em prorrogações na liga, com cinco nas onze disputadas. Venceu duas delas somente.

Fedorov vem fazendo um bom papel, verdade seja dita. É o líder do time em pontos, gols e assistências e vem mantendo a mesma (ir)regularidade de suas últimas temporadas em Detroit. Levou algumas partidas para conseguir seu primeiro ponto com o time, mas dali em diante vem atuando como deveria atuar o jogador mais bem pago da equipe. Conseguir um +/- positivo, coisa habitual para ele em sua carreira com os Wings, tem sido tarefa hercúlea para qualquer jogador do Anaheim.

Lembram-se daqueles jogadores pouco conhecidos que desandaram a fazer surpresas nos playoffs? Pois é, retornaram ao escuro. Aquela química, o momentum prolongado, não existe mais em Anaheim.

Steve Rucchin anda longe de ser aquele central que vimos e um Vaclav Prospal sozinho não faz verão. Todo o corpo defensivo está passos atrás do que estava seis meses atrás, e nem houve alterações na defesa de lá pra cá. Mas, enfim, não são os jogadores A, B ou C que são os culpados pela campanha decepcionante do time. Nem mesmo o mais decepcionante deles, Giguere. O time todo realmente vem sofrendo a tal inexplicável "Síndrome". O que pode colocar em breve o técnico Babcock na corda bamba.

Os Ducks só engrenaram realmente na temporada passada após o Jogo das Estrelas. Pode ser que isso se repita, eles podem se recuperar, crescer e chegar fortes aos playoffs (olha lá, Giguere!). Podem repetir também os Sabres de 2000 que, depois do vice-campeonato de 99, chegaram aos playoffs na oitava colocação apenas para serem eliminados pelos Flyers na primeira fase por 4-1. Enfim, conjecturas apenas.

Se é para engrenar, esta semana é ideal para os Ducks: dois jogos contra os rivais Sharks e ainda os fracos Oilers pela frente.

Emoções diversas no amargo regresso -- De volta a Detroit para a primeira partida contra o time em que atou por 13 anos, Fedorov foi recebido majoritariamente por vaias, ainda que uma parte dos torcedores o tenham aplaudido e até levado cartazes de apoio.

Bastava ele tocar no disco e as vaias o perseguiam impiedosamente. Quando ele marcou um gol elas vieram com mais intensidade ainda, mesmo que acompanhada de aplausos da turma que preferia reverenciá-lo.

No fim, uma goleada definitiva de 7-2, com direito a substituição de Giguere. Os sete gols marcados pelos Wings superaram os seis marcados durante todas as quatro partidas de playoffs contra os Ducks em 2003.

Marcelo Constantino dá as dicas da semana aos cinéfilos: Albergue Espanhol, uma delícia, e Irreversível, uma angústia decrescente e fascinante
 
  RETORNO A DETROIT Sergei Fedorov entra no gelo sob aplausos de alguns torcedores de Detroit. Mas a maioria vaiou o russo (EPA - 03/12/2003)
   
 
  REVENDO AMIGOS Fedorov e Chelios conversam antes da partida começar (Paul Sancya/AP - 03/12/2003)
   
 
  EX-MURALHA Jean-Sébastien Giguere é substituído por Martin Gerber na partida contra os Wings (Rebecca Cook/Reuters - 03/12/2003)

 

 

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Página publicada em 10 de dezembro de 2003.