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5 de dezembro de 2003
A vida dura dos Red Wings até agora

Por Humberto Fernandes

O começo de temporada do Detroit Red Wings empolgou os torcedores como se fosse um prenúncio do que viria pela frente. Tão logo sonhos começaram a aparecer, a empolgação ruiu-se em uma semana.

Em 17/10, a classificação mostrava um time competente dotado de muita sorte. Afinal, os Red Wings haviam derrotado LA Kings, Ottawa Senators e Vancouver Canucks, todos por 3-2, com finais, de certa forma, dramáticos. Contra Kings e Canucks, o gol da vitória foi marcado próximo ao fim do jogo, respectivamente, com 1.7 segundo e 66 segundos restando, e diante dos Senators a vitória veio na prorrogação. E foi após o terceiro jogo que os problemas começaram a aparecer.

No primeiro período da vitória sobre os Canucks, Derian Hatcher rompeu o ligamento anterior cruzado do joelho direito. As melhores perspectivas apontaram seu retorno para o fim da temporada regular, talvez até mesmo em março. Apesar de toda a experiência do elenco, a ausência de Hatcher foi sentida. Fora de casa, em atuações questionáveis, os Wings conseguiram perder para o Pittsburgh Penguins, que até então não havia vencido na temporada, e para o Montreal Canadiens. Em Pittsburgh, a liderança de 3-1 não foi suficiente e a virada aconteceu.

De volta a Detroit, duas vitórias fáceis, contra Columbus Blue Jackets e Dallas Stars, times que possivelmente iniciarão suas férias em abril. Na partida seguinte, com Steve Yzerman descansando, os Wings não foram páreos para o New York Rangers pela primeira vez em alguns anos. Também não foram bons o suficiente para evitar uma derrota diante do St. Louis Blues. Após uma péssima atuação neste jogo, Dominik Hasek sentiu a virilha e viu Curtis Joseph estrear (na temporada) contra o Nashville Predators. Mais uma derrota e com sabor amargo, após nove brigas e 210 minutos de penalidades combinados.

O mês de outubro terminou e a maior parte dos problemas sequer havia surgido. Novembro começou com uma excursão pelo oeste do Canadá, onde os Wings empataram com o Edmonton Oilers, levaram uma sacolada dos Canucks e venceram o Calgary Flames — mas perderam Henrik Zetterberg, seu atacante com mais tempo de gelo até então. O defensor Bryan Allen, dos Canucks, que teve participação no lance em que contundiu Hatcher, covardemente acertou seu taco na perna direita de Hank e deixou o sueco com a perna quebrada. Os médicos apontaram seu retorno em cinco ou seis semanas.

A pior derrota da temporada viria no jogo seguinte, em Detroit, contra os Predators. O que poderia ser a vingança pela derrota na semana anterior acabou tornando-se um pesadelo. Os Red Wings venciam por 3-0 até o fim do segundo período e foram capazes de sofrer a virada no tempo normal. Os Predators, que haviam derrotado apenas os Wings em seus nove jogos anteriores, tiveram nessa virada um fator emocional que os empurraram a vencer oito dos dez jogos seguintes. Como se não bastasse a derrota de forma vergonhosa, Detroit ainda perdeu Darren McCarty, com problemas nas costas — o "Vingador" ainda deve ausentar-se por mais algumas semanas. Essas duas infelicidades somadas à adição de Darryl Bootland foram como um divisor de águas.

Na semana seguinte, os Wings assinaram com o veterano Steve Thomas, de 40 anos, por $1 milhão de dólares, e Hasek retornou de contusão. Apesar de ter quatro jogos em seis noites, sendo três na estrada, a equipe saiu-se muito bem, vencendo Chicago Blackhawks (duas vezes) e Dallas Stars e empatando com o Minnesota Wild. Thomas estreou marcando gol da vitória em resposta aos críticos — eu, inclusive — que duvidavam de sua capacidade. Quando o time parecia estar no caminho certo, mais duas baixas: Hasek e Ray Whitney, com problemas na virilha. Ambos desfalcam o time desde então.

A sequência invicta poderia ter sido ainda maior se o time não tivesse perdido o segundo jogo do "home-and-home" contra o Columbus Blue Jackets. Com três jogadores do Grand-Rapids Griffins, afiliado da AHL, no elenco, os Wings golearam o Wild em Minnesota, no jogo que antecedia o retorno a Detroit.

Em casa, com CuJo supostamente no gol — supostamente porque ele levou três gols em míseros nove chutes —, os Wings foram derrotados pelo conturbado Washington Capitals. No jogo seguinte, com o querido goleiro Manny Legace de volta ao gol, a equipe enfiou sonoros 7-1 pra cima dos Oilers, tendo a infelicidade de perder Tomas Holmstrom com uma grave contusão no ombro. Mais tristes ainda devem ter ficado os torcedores dos Griffins, que viram mais um jogador ser chamado para Detroit. Holmstrom deve ficar um bom tempo ausente.

Apesar de mais esse incidente, a equipe seguiu goleando, com 6-0 pra cima do New York Islanders, com direto a gritos de "Manny! Manny!" vindos da torcida. Na noite seguinte, em St Louis, outra ótima atuação de Legace manteve os Wings no jogo e a virada no fim selou a atual boa campanha de oito vitórias em onze jogos.

É difícil entender como a equipe melhorou nos últimos jogos apesar de não contar com seis importantes titulares, incluindo-se aí o goleiro. De certa forma, percebe-se que Bootland e Thomas causaram impacto no elenco, de maneiras diferentes: o prospecto faz a torcida lembrar-se de Sean Avery, negociado para os Kings na vinda de Mathieu Schneider, por seu estilo de jogo agressivo, tornando-se inclusive o líder do time em minutos de penalidades, enquanto o veterano, que pouco deveria atuar, marcou cinco gols em dez jogos. Outro fator muito importante tem sido o alto nível do jogo de Legace. Em suas seis atuações dentro da boa sequência de onze jogos, o goleiro defendeu 95% dos chutes e conseguiu seu primeiro shutout na temporada. Não é de hoje que a torcida confia em Emmanuel Francis Legace II.

Os demais destaques da equipe nos últimos jogos são alguns velhos conhecidos. No ataque, os gols da máquina Brett Hull, em busca de ser o terceiro maior goleador da história da liga, e as assistências de Pavel Datsyuk, um mágico com seu instrumento de trabalho. A defesa que outrora afundou o time agora está bem organizada, com a parceria de Nicklas Lidstrom e Chris Chelios. Menção honrosa para Jason Woolley, eterno injustiçado.

Por último, a pergunta que não quer calar: como foi que Boyd Devereaux marcou o gol da vitória no jogo de sábado contra os Blues? Milhões de pessoas em todo o mundo, inclusive nós brasileiros, viram essa aberração sob patins fazendo algo muito incomum para sua inexistente habilidade.

Devereaux só não é pior que Bart Stevenson, do Macaé Oilers.

Humberto Fernandes, na primeira de suas 13 semanas de férias, pode voltar a contribuir com The Slot BR.
 
  UM É POUCO... Com a dura tarefa de substituir Dominik Hasek, Manny Legace demonstra seu talento defendendo um contra-ataque de Ethan Moreau, do Edmonton Oilers (Rebecca Cook/Reuters - 26/11/2003)
   
 
  DOIS É BOM... Rick Nash (esquerda) e Trevor Letowski tentam superar Legace na derrota dos Red Wings para o Columbus Blue Jackets por 3-0. O goleiro falhou em um gol (Jay LaPrete/AP - 20/11/2003)
   
 
  LEGACE É DEMAIS! Se não fossem as defesas do goleiro no primeiro período, os Red Wings nem precisariam retornar para o restante da eventual vitória sobre o St Louis Blues (Tim Parker/Reuters - 29/11/2003)
   
 
  INACREDITÁVEL Jason Woolley e Mathieu Dandenault (direita) comemoram com Boyd Devereaux o gol da vitória marcado por este último. Aprecie a imagem, porque você não verá outra assim nesse século (Tom Gannam/AP - 29/11/2003)

 

 

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Página publicada em 4 de dezembro de 2003.