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7 de novembro de 2003
Desastre capital

Por Marcelo Constantino

Que o Washington Capitals tradicionalmente começa mal suas temporadas, isso é de conhecimento geral. Mas que neste mês de outubro o time esteve abaixo de qualquer prognóstico apocalíptico, ah, isso esteve. Pior ainda é que ninguém duvida que o atoleiro em que está o time da capital norte-americana se prolongue tal qual o atoleiro em que o presidente norte-americano meteu suas Forças Armadas no Oriente Médio.

Com uma campanha de 2-8-1 (0-6-1 fora de casa) neste primeiro mês de temporada, os Capitals têm a pior defesa e são os últimos colocados da NHL. Isso mesmo, últimos, lanternas. Um time que tem nomes como Jaromir Jagr, Olaf Kolzig e Sergei Gonchar no elenco. Como um desastre desses é possível?

A defesa sempre foi um ponto crítico da equipe, desde quando a gerência decidiu investir pesado na formação de um time caro e competitivo. E o que era ruim piorou este ano. Dos quatro defensores principais da equipe na temporada passada, Sergei Gonchar, Brendan Witt, Ken Klee e Calle Johansson, restam apenas dois. Klee foi para Toronto e Johansson aposentou-se. A gerência, feliz da vida, viu sua folha salarial diminuir em US$ 3,8 milhões.

Reposição para o setor? Zero. Ou melhor, novatos, desconhecidos e pouco experimentados. Enfim, uma defesa de AHL mais Witt e Gonchar. Como Witt não é exatamente um defensor de encher os olhos, todo o peso recai sobre as costas do sub-valorizado Gonchar, que, temeroso de sua cobertura defensiva, nem busca mais o ataque com tanto ímpeto, o que era seu forte.

Para piorar, o goleiro Olaf Kolzig está mal. Bem, não somente ele. Peter Bondra está mal, Jaromir Jagr está mal, todos estão jogando mal. Há nove partidas (desde o segundo jogo na temporada!), que a ofensividade da equipe se resume a dois gols ou menos. Quando um time tem uma defesa capenga e desentrosada, seu goleiro está mal e seu ataque não produz, seu lugar é mesmo o fundo do poço.

Olhando para o passado recente, a conclusão a que chego é que a abertura da carteira dos Caps formou um time com grandes estrelas no elenco, mas sem profundidade e sem uma boa defesa. Se as estrelas não produzem, o time fica em apuros.

No final dos anos 90, Bondra era um dos grandes atacantes goleadores da NHL, um dos mais sub-valorizados da época. Quando os Caps contrataram Jagr, imediatamente imaginei uma linha mortal com Bondra do outro lado e Adam Oates fazendo jogadas para ambos e ainda Gonchar chegando de trás. Quem os adversários iriam escolher para marcar?

Ledo engano. A linha foi testada diversas vezes sem jamais ter uma regularidade que a mantivesse. Oates foi para o Anaheim, Bondra vem caindo ano após ano e Jagr..., bem, o tcheco é um caso a parte, certamente o maior dos desastres do time. Ainda que tenhamos casos semelhantes na liga, de jogadores com salários no patamar do de Jagr que produzem muito aquém do que deveriam (Alexei Yashin, Bobby Holik, Curtis Joseph), sobre ele recaem as pedras mais pesadas. A decepção é gutural.

Sem raízes --
Daquele time que chegou às finais de 1998, quando o Comissário Gary Bettman declarou que Wahington havia se tornado definitivamente uma cidade de hóquei, apenas quatro jogadores ainda estão lá: Kolzig, Gonchar, Bondra e Witt.

Claro, ninguém esperava que Oates e Esa Tikkanen ainda estivessem por lá, mas trata-se de uma evidente mudança em larga escala. Para efeito comparativo, do time do Detroit Red Wings daquelas finais, sete jogadores ainda estão na franquia, enquanto outros seis já se aposentaram. Mudanças no elenco são sempre saudáveis, desde que bem dosadas. Os Capitals mudam a cada ano e mudam demais. Para esta temporada há nove novos jogadores no elenco.

Com tamanha renovação e uma conseqüente carência daquele tipo de jogador da franquia, que conhece a casa de longo tempo e que tem identificação com a torcida, gerência e tudo mais, eis que o capitão Steve Konowalchuk é negociado para o Colorado Avalanche. Ok, ele sairia de qualquer jeito, era seu último ano de contrato, e que não seria renovado. Qual é a maior necessidade do time no momento, para pedir em troca? Defensor(es) com alguma experiência e salário razoável, certo? Nada, os Caps receberam o engodo Bates Battaglia em troca, além de um prospecto.

Bruce Cassidy --
O técnico Bruce Cassidy deverá cair, não há muitas alternativas. Há três motivos básicos para isso. Em primeiro lugar, o time que ele tem em mãos, no papel, não poderia estar, em hipótese alguma, na posição em que está. Nenhum técnico sobrevive a uma situação de estar namorando a lanterna tendo em mãos um time montado para, apesar de tudo, pelo menos chegar aos playoffs. Em segundo lugar, (o que deveria ser) a estrela do time já se indispôs publicamente com ele. Em terceiro lugar, o clima anda péssimo.

Cada vez mais as cobranças e acusações estão vazando. Após a derrota frente ao Wild no sábado, Cassidy, além de classificar de "ridículas" as várias jogadas perdidas, apontou os nomes de jogadores que estavam devendo: "Os (Brian) Sutherbys, os Halpys (Jeff Halpern), os (Bates) Battaglias, [jogadores que] recusam-se a chutar o disco e [ainda] não marcaram gols". Naturalmente, com um clima desses, é mais fácil livrar-se do técnico do que de grande parte do elenco, ainda que o desejo da gerência fosse a segunda opção.

Cortar despesas --
O que a gerência realmente gostaria de fazer seria detonar com (quase) todos os salários mais altos do elenco. O imperativo agora é cortar despesas. Depois do desastre dos últimos anos, com um time caríssimo e campanhas lamentáveis, além da dificuldade de encher o estádio, a prioridade é diminuir o prejuízo (se é que há prejuízo nessas contas fechadas das franquias na NHL), antes mesmo de se pensar em qualquer sucesso. Já andaram rifando Jagr e Lang nas férias, sem sucesso. O próximo candidato deve ser Gonchar, defensor de ótima e constante produção ofensiva, 29 anos de idade, com mais de dez anos de Washington. Aí, é adeus ao que resta de defesa, adeus para tudo.

Diante do panorama atual, restará ao Washington Capitals ser a maior diversão da temporada de seus rivais, o Pittburgh Penguins.

Marcelo Constantino entra em transe toda vez que ouve “Insensatez” instrumental, tocada por Tom Jobim ao piano.
 
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  MOMENTO CORRIQUEIRO O defensor Brendan Witt patina desolado enquanto os jogadores do Ottawa Senators comemoram o gol da vitória de Marian Hossa, na goleada por 5-1 (Tom Hanson/AP - 23/10/2003)
   
 
  CAOS Ainda na mesma partida contra o Ottawa Senators, Antoine Vermette observa mais um disco passando por Olaf Kolzig (Tom Hanson/AP - 23/10/2003)

 

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Página publicada em 5 de novembro de 2003.