Por
Alexandre Giesbrecht
Ninguém pode dizer que a tabela não foi generosa com o
Tampa Bay Lightning. Dos onze primeiros jogos, nove estavam marcados
para o St. Pete Times Forum, assim como todos os seus últimos
cinco jogos. Depois de uma campanha em casa de 22-9-7-3 na temporada
passada, parecia a chance perfeita para um início marcante e
para um fim de temporada tranqüilo.
Só que ninguém poderia esperar um início como o
que de fato ocorreu: seis vitórias em seis jogos. Nenhum empate.
Nenhuma derrota, nem na prorrogação. Nenhum ponto perdido.
E mais: não se pode dizer que esse início se deve pura
e simplesmente ao fato de ter feito quatro dos seis primeiros jogos
em casa.
O Lightning tem demonstrado qualidade. Nos playoffs passados, o time
desmoronou à frente do New Jersey Devils, caindo em cinco jogos
sem oferecer grande resistência. Agora, está jogando como
o time que ganhou quatro jogos seguidos dos favoritos Capitals na primeira
fase, depois de perder os dois primeiros.
Mais do que isso, até. O Tampa Bay tem ganho jogos de diversas
maneiras. Ganhou do até agora surpreendente Atlanta, num jogo
em que foi dominado pelo adversário. Ganhou do Minnesota, time
que nunca tinha vencido em cinco tentativas, depois de sair perdendo
por 2-0. Ganhou até um jogo chatíssimo, que terminou com
um magro 1-0 sobre o Columbus.
Claro que isso não sugere uma campanha de 82-0, mas dá
esperanças cada vez maiores à torcida, que já sonha
até com um lugar nas finais da Copa Stanley. Mesmo tendo enfrentado
– e batido – apenas uma potência, o New Jersey, pode-se
notar que este início não é um mero acidente. À
exceção do goleiro Nikolai Khabibulin, as estrelas não
têm se destacado, mas o time joga como um time, e é isso
que tem garantido os pontos na tabela.
Nenhum time ganhara os seis primeiros jogos da temporada desde o Dallas
Stars de 1996-97. E apenas oito times começaram a temporada com
uma seqüência melhor. Tudo bem que os Stars de 1996-97 não
foram longe nos playoffs e o time detentor da melhor seqüência
em início de temporada, os Leafs de 1993-94, também não
chegaram sequer às finais, mas já é um começo.
O Lightning tem até um remanescente da campanha dos Leafs de
dez anos atrás: Dave Andreychuk, que começou a aparecer
com mais destaque justamente naquela temporada.
Quando Khabibulin impediu que o domínio dos Thrashers se convertesse
em uma vitória, o técnico John Tortorella poderia ter
dado um sermão na equipe, destacando cada um dos erros que poderiam
ter custado a vitória. Mas não precisou fazê-lo.
O próprio time se reuniu à frente da TV para assistir
a um tape da partida e discutir o que estava errado.
"Não é para ficarmos lamentando isso ou aquilo, é
para resolvermos o problema. Acho que quando eles fazem uma idéia
de qual é o problema desde o início, é mais fácil
de resolvê-lo", comenta o técnico. "Não
acho que este seja um time que precise de sermão. Acho que eles
sabem como nós queremos que as coisas sejam feitas."
Quando se pára para pensar melhor nesse estilo de comando, é
de se surpreender que ele não seja mais difundido, pois é
bom para o técnico e para os jogadores. Mas também é
algo difícil de se implantar, porque certos egos não se
dão muito bem com ele. Em Tampa Bay, foi fácil porque
o time joga junto há um bom tempo e os jogadores se conhecem.
Essa faceta nova do time lembra muito os Devils, com seus três
títulos nos últimos nove anos, mas não é
a única coisa em comum com os atuais campeões: a disciplina
para controlar a zona neutra e a atenção para dar tempo
e espaço mínimos para o adversário incorporaram-se
ao estilo de jogo.
"Estamos nos divertindo agora", comemora o atacante Martin
St. Louis. "Você tem que aproveitar. A atmosfera no vestiário
está ótima. É divertido vir treinar."
Por enquanto, realmente deve ser. Mais para a frente, a equipe enfrentará
desafios que já mostrou poder superar. Afinal, as duas séries
de jogos em casa no início e no final da temporada não
vieram sem que uma série de jogos fora pipocasse no meio do calendário.
O que o Lightning apresentou mostra que o fator casa não tem
sido tão importante quanto o trabalho em equipe na campanha de
sucesso até aqui, por isso dá para apostar que o Tampa
Bay vai continuar brigando pelo topo do Leste, ao menos enquanto o fôlego
durar. E, se o fôlego durar bastante, quem sabe a vaga nas finais
da Copa Stanley vai poder deixar de ser um mero sonho.
Bem, mesmo que não deixe de ser agora, a semente para deixar
de ser num futuro próximo já está plantada.
|
|
 |
|
AGORA, SIM Esta cena não
foi muito vista nos playoffs do ano passado, mas o excelente início
do Lightning faz a torcida sonhar (Christopher Barth/AP - 18/10/2003) |
|