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31 de outubro de 2003
Não é só o fator casa

Por Alexandre Giesbrecht

Ninguém pode dizer que a tabela não foi generosa com o Tampa Bay Lightning. Dos onze primeiros jogos, nove estavam marcados para o St. Pete Times Forum, assim como todos os seus últimos cinco jogos. Depois de uma campanha em casa de 22-9-7-3 na temporada passada, parecia a chance perfeita para um início marcante e para um fim de temporada tranqüilo.

Só que ninguém poderia esperar um início como o que de fato ocorreu: seis vitórias em seis jogos. Nenhum empate. Nenhuma derrota, nem na prorrogação. Nenhum ponto perdido. E mais: não se pode dizer que esse início se deve pura e simplesmente ao fato de ter feito quatro dos seis primeiros jogos em casa.

O Lightning tem demonstrado qualidade. Nos playoffs passados, o time desmoronou à frente do New Jersey Devils, caindo em cinco jogos sem oferecer grande resistência. Agora, está jogando como o time que ganhou quatro jogos seguidos dos favoritos Capitals na primeira fase, depois de perder os dois primeiros.

Mais do que isso, até. O Tampa Bay tem ganho jogos de diversas maneiras. Ganhou do até agora surpreendente Atlanta, num jogo em que foi dominado pelo adversário. Ganhou do Minnesota, time que nunca tinha vencido em cinco tentativas, depois de sair perdendo por 2-0. Ganhou até um jogo chatíssimo, que terminou com um magro 1-0 sobre o Columbus.

Claro que isso não sugere uma campanha de 82-0, mas dá esperanças cada vez maiores à torcida, que já sonha até com um lugar nas finais da Copa Stanley. Mesmo tendo enfrentado – e batido – apenas uma potência, o New Jersey, pode-se notar que este início não é um mero acidente. À exceção do goleiro Nikolai Khabibulin, as estrelas não têm se destacado, mas o time joga como um time, e é isso que tem garantido os pontos na tabela.

Nenhum time ganhara os seis primeiros jogos da temporada desde o Dallas Stars de 1996-97. E apenas oito times começaram a temporada com uma seqüência melhor. Tudo bem que os Stars de 1996-97 não foram longe nos playoffs e o time detentor da melhor seqüência em início de temporada, os Leafs de 1993-94, também não chegaram sequer às finais, mas já é um começo. O Lightning tem até um remanescente da campanha dos Leafs de dez anos atrás: Dave Andreychuk, que começou a aparecer com mais destaque justamente naquela temporada.

Quando Khabibulin impediu que o domínio dos Thrashers se convertesse em uma vitória, o técnico John Tortorella poderia ter dado um sermão na equipe, destacando cada um dos erros que poderiam ter custado a vitória. Mas não precisou fazê-lo. O próprio time se reuniu à frente da TV para assistir a um tape da partida e discutir o que estava errado.

"Não é para ficarmos lamentando isso ou aquilo, é para resolvermos o problema. Acho que quando eles fazem uma idéia de qual é o problema desde o início, é mais fácil de resolvê-lo", comenta o técnico. "Não acho que este seja um time que precise de sermão. Acho que eles sabem como nós queremos que as coisas sejam feitas."

Quando se pára para pensar melhor nesse estilo de comando, é de se surpreender que ele não seja mais difundido, pois é bom para o técnico e para os jogadores. Mas também é algo difícil de se implantar, porque certos egos não se dão muito bem com ele. Em Tampa Bay, foi fácil porque o time joga junto há um bom tempo e os jogadores se conhecem. Essa faceta nova do time lembra muito os Devils, com seus três títulos nos últimos nove anos, mas não é a única coisa em comum com os atuais campeões: a disciplina para controlar a zona neutra e a atenção para dar tempo e espaço mínimos para o adversário incorporaram-se ao estilo de jogo.

"Estamos nos divertindo agora", comemora o atacante Martin St. Louis. "Você tem que aproveitar. A atmosfera no vestiário está ótima. É divertido vir treinar."

Por enquanto, realmente deve ser. Mais para a frente, a equipe enfrentará desafios que já mostrou poder superar. Afinal, as duas séries de jogos em casa no início e no final da temporada não vieram sem que uma série de jogos fora pipocasse no meio do calendário.

O que o Lightning apresentou mostra que o fator casa não tem sido tão importante quanto o trabalho em equipe na campanha de sucesso até aqui, por isso dá para apostar que o Tampa Bay vai continuar brigando pelo topo do Leste, ao menos enquanto o fôlego durar. E, se o fôlego durar bastante, quem sabe a vaga nas finais da Copa Stanley vai poder deixar de ser um mero sonho.

Bem, mesmo que não deixe de ser agora, a semente para deixar de ser num futuro próximo já está plantada.

 
  AGORA, SIM Esta cena não foi muito vista nos playoffs do ano passado, mas o excelente início do Lightning faz a torcida sonhar (Christopher Barth/AP - 18/10/2003)

 

 

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Página publicada em 30 de outubro de 2003.
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