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31 de outubro de 2003
Steve Yzerman: a persistência de um líder

Por Marcelo Constantino

O fato de Steve Yzerman ainda jogar pode ser considerado um desafio à medicina. Sim, esta afirmação pode até ser um exagero, mas estamos falando de um jogador de 38 anos de idade, com um considerável histórico de contusões em duas décadas de NHL e que fez uma delicadíssima operação de reparação no joelho nas férias de 2002.

Trata-se de osteotomia, uma cirurgia geralmente realizada em pessoas mais velhas, com doença degenerativa nos ossos, um procedimento nunca antes feito em atletas profissionais.

Ainda nos playoffs de 2002, com o joelho em frangalhos, o capitão dos Red Wings insistia em jogar. Na fase inicial, enquanto o time parecia perdido, Yzerman era, disparado, o melhor da equipe no gelo. Com uma perna só.

Brendan Shanahan recorda-se de como era difícil para Yzerman até mesmo caminhar após as partidas, tamanha era a dor de apoiar-se no chão. "Se era assim para andar, imagine para patinar e jogar".

O capitão fez a cirurgia nas férias e havia dúvidas se ele voltaria a jogar. Ele voltou, no final da temporada, ainda longe do ideal. Com a eliminação frente aos Mighty Ducks logo na primeira fase, Steve Y teve mais tempo para recuperar-se para jogar a sua 21ª temporada com os Red Wings, provavelmente a última de sua carreira.

O planejamento da comissão técnica para este ano havia lhe destinado uma posição na asa esquerda ou direita, menos tempo de gelo e descansos nas partidas em dias seguidos. Era consenso que nas alas Yzerman não forçaria tanto o joelho. Centrais precisam patinar mais para cobrir diversas áreas do gelo e o objetivo era poupar Yzerman ao máximo de grandes esforços. Qual não foi a surpresa quando o próprio jogador pediu para voltar a atuar com central.

Dave Lewis ficou surpreso, mas aceitou: "Nós avaliamos que ele patinaria menos subindo e descendo pelos cantos, a distância a percorrer seria menor. Mas Steve disse: 'Sim, mas os asas precisam dar mais daquelas freadas bruscas.'"

A volta de Yzerman à posição de central cai como uma luva para a equipe, que andava carente com as saídas de Sergei Fedorov e Igor Larionov. O time contava apenas com Pavel Datsyuk, Kris Draper e Jason Williams para esta posição. E, claro, Henrik Zetterberg, que joga (bem) onde quer que seja.

Ele era para estar na últimas, depois de tudo que passou, mas já tem quatro gols na temporada. Ninguém esperava dele qualquer grande produção ofensiva. O simples fato de saber que Steve Yzerman está no grupo, no gelo, já vale. A alma do time está presente, muito embora o próprio Steve negue que seja suficiente: "Eu não estou aqui apenas para ser o capitão, é preciso jogar e eu quero contribuir no gelo. Estamos cheios de líderes aqui."

Tanto melhor. Na estréia, um daqueles momentos simbólicos para guardar nas memórias. O gol da vitória marcado no último segundo da partida contra os Kings.

Lewis torce para que seja um sinal. "Em 1998, quando Vladdy [Konstantinov] sofreu aquele acidente, eu sabia que venceríamos a Copa Stanley. Daquilo nasceu um sentimento coletivo, algo difícil de explicar".

Era a razão a mais para a conquista da Stanley Cup, além do desejo pessoal. Em 1997 era encerrar a longa seca de títulos, em 98 foi para Vladimir Konstantinov. Em 2002, pode-se dizer (forçando a barra) que era uma Copa para Dominik Hasek e Luc Robitaille, dois futuros integrantes do Salão da Fama que jamais haviam conquistado o título.

Tal qual os Avs fizeram a campanha "Uma Copa para Ray Bourque" em 2001, este ano pode surgir algo como "Uma última Copa para Steve Yzerman". Uma quarta Copa para um jogador que, seis anos atrás boa parte da mídia achava que jamais conquistaria uma sequer.

Yzerman marcou mais um gol logo na partida seguinte, e depois dois gols contra o Dallas Stars na última sexta-feira, um deles batendo de primeira. Foi a primeira vez que marcou dois gols num mesmo jogo desde 21 de dezembro de 2001, contra o Minnesota Wild.

Marcelo Constantino gostaria de ter acompanhado a NHL nos tempos em que, depois de Wayne Gretzky e Mario Lemieux, o terceiro nome era Steve Yzerman.
 
  O CAPITÃO, O LÍDER Steve Yzerman agradece a ovação da torcida durante as apresentações do primeiro jogo da temporada (David Guralnick/The Detroit News - 09/10/2003)
   
 
 

EMOÇÃO FINAL Jogadores comemoram com Yzerman depois do gol da vitória marcado por ele quando faltavam menos de dois segundos para o fim, na vitória por 3-2 sobre os Kings (Robin Buckson/The Detroit News - 09/10/2003)

   
 
  DOIS GOLS O time comemora o primeiro gol de Steve na vitória por 4-0 sobre o Dallas Stars (Paul Warner/AP - 25/10/2003)

 

 

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Página publicada em 30 de outubro de 2003.